05/06/2020

Virei Professor Online

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

        

            O isolamento social devido ao Covid-19 tem sido um momento de autoconhecimento, novas aprendizados e descobertas, principalmente em relação a educação.

            Muitos professores tiveram que se adequar ao novo método de lecionar, que é através da tecnologia da informação por meio de whatsapp, Zoom, Hangout que agora é Google Meet, Skype, Duo dentre outras TICs, ou seja, Tecnologias de Informação e Comunicação.

            Antes, os problemas se davam por falta de disciplina dos alunos, conversas paralelas, brigas, desrespeitos pelos professores, vandalismo, sabotagens, "paredes" e até atrasos por parte dos alunos entre intervalos, mas nada que não fosse resolvido com uma boa gestão e apoio pedagógico.

            Hoje as aulas passaram a ser "online", principalmente nas escolas privadas, já que nem todos os alunos das escolas públicas, principalmente no educação Infantil e no ensino Fundamental I e II têm disponível a tecnologia e/ou equipamento necessário (desktop, Notebook, smartphone e/ou tablet).

            Estas mudanças pegaram muitos professores de surpresa, pois não foi apenas o fato de lecionar on line, mas nós educadores tivemos que mudar nossas estratégias e metodologias para que a aula prenda a atenção do aluno e este consiga assimilar o conteúdo explicado.

            É certo que alguns professores tiveram suas dificuldades quanto ao manuseio da tecnologia, mas a dedicação e o compromisso com a educação foram mais fortes e os fizeram se enveredar por esta seara.

            Dito isso, os problemas relacionados acima como indisciplina sumiram e surgiram outros que não bastam o empenho da gestão e tampouco os esforços hercúleos das pedagogas.

            Passamos a ter problemas como falta de energia ou na casa de algum aluno ou até mesmo professor, problema de conexão com a internet, bug no computador, sobrecarga no sistema ao qual a aula está sendo ministrada, mas a compreensão dos discentes e docentes tem colaborado para o bom andamento.

            Interessante perceber que esta mudança de cenário deu mais empoderamento aos alunos, já que a maioria domina esta tecnologia e nos mostrou o quanto é importante a humildade e a percepção de que temos muito a aprender.

            Aprendemos a fazer lives, a criar vídeos, fazer edições e enviá-los. Aprendemos que uma boa aula não se limita a saliva e giz e aprendemos a reencantar nossos educandos.

            Estamos aplicando as falas de Demo em seu livro Saber Pensar, publicado pela Cortez em2000, quando ressalta a importância em se trabalhar o aprender com autonomia, e que apesar das inovações, não deixamos de humanizar com elas, pois abrimos mãos do instrucionismo no qual o aluno é visto apenas como um repositório e um agente passivo e convergimos com as falas de Freire em seu livro Educação e Mudança, publicado pela Paz e Terra em 1979, quando adverte que o aluno não  pode se restringir a um plano pessoal do professor como repetindo o que é dito pelo docente, pois assim reforça a ideia do aluno como de um sujeito passivo, tolhido da criatividade e discernimento, bem como consciência crítica e ativa.

            Freire em sua obra esclarece que o erro não encontra-se na imitação por si só, mas na passividade como recebe tal imitação e consequentemente na sua falta de análise e autocrítica, ressaltando assim a sua alienação.

            Assim sendo, que estas mudanças venham a acrescentar na vida do educador bem como do educando, fazendo com que a educação seja efetivada por um novo prisma focando "os quatro Cs", aduzidos por Harari em seu livro 21 Lições para o Século 21, publicado pela Companhia das Letras em  2018, que são pensamento crítico, comunicação, colaboração e criatividade, trabalhando mais habilidades para propósitos genéricos na vida, já que é ressaltado pelo autor que o mais importante é saber lidar com as mudanças, aprendendo coisas novas e preservando o equilíbrio mental em situações que nos tirem do nosso conforto.

            Giles em seu livro Filosofia da Educação, publicado pela EPU em 1983 enfatiza que o educar é o firmar-se na prática da liberdade, é desenvolver a consciência do educando em poder ser mais e em reconhecer que o mundo é um empreendimento comum e solidário.

            O educar online segundo Silva e Maciel no artigo intitulado A presença docente do professor-tutor online como suporte à autonomia do estudante[1] é um reinventar a si mesmo e a própria realidade.

            As autoras acima esclarecem que as aulas online auxilia na formação do estudante autônomo, já que exige uma interação, colaboração, ajuda mútua entre pares, organização e condução competente do mediador, reforçando as práticas pedagógicas focando interação, colaboração e reflexão, de forma com que os corresponsáveis (professor-estudante; estudante-estudante) unidos, consigam desenvolver habilidade essenciais para resolução as possíveis situações problema, realizando de forma concomitante a retroalimentação gerado pelo processo de ensinar e aprender.

            Assim sendo, o educar pelo professor realmente ultrapassa as linhas limítrofes das salas de aula e ressalta o sua extensão quando de um lado existe um profissional preparada para ser a diferença na vida do educando.

 

[1] SILVA, Geane de Jesus; MACIEL, Diva Albuquerque. A presença docente do professor-tutor online como suporte à autonomia do estudante. Psicol. educ.,  São Paulo ,  n. 38, p. 35-48, jun.  2014 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752014000100004&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  02  jun.  2020.

 

 

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