VERDADE E REPETIÇÃO
Dênio Mágno da Cunha*
Ontem (9/8/17) durante a navegação diária pela web, fui parar por conceitos já velhos conhecidos de quase todos nós que somos professores: a Taxonomia de Bloom e o Triângulo de Dale. Como há possibilidade de existir entre os leitores aqueles que ainda não conhece estes conceitos vou transcrevê-los aqui, obviamente, de forma simplificada. Como este texto não pretende ser científico cortarei caminho utilizando a nossa ferramenta inicial, a grande enciclopédia pública (me perdoem os acadêmicos, não sou herege).
A taxonomia dos objetivos educacionais, também popularizada como taxonomia de Bloom, é uma estrutura de organização hierárquica de objetivos educacionais. Foi resultado do trabalho de uma comissão multidisciplinar de especialistas de várias universidades dos Estados Unidos, liderada por Benjamin S. Bloom, no ano de 1956. A classificação proposta por Bloom dividiu as possibilidades de aprendizagem em três grandes domínios:
- o cognitivo, abrangendo a aprendizagem intelectual;
- o afetivo, abrangendo os aspectos de sensibilização e gradação de valores;
- o psicomotor, abrangendo as habilidades de execução de tarefas que envolvem o aparelho motor.
Cada um destes domínios tem diversos níveis de profundidade de aprendizado. Por isso a classificação de Bloom é denominada hierarquia: cada nível é mais complexo e mais específico que o anterior. O terceiro domínio não foi terminado, e apenas o primeiro foi implementado em sua totalidade. (Wikipédia).
Sendo assim, ao longo do tempo passamos a conviver com um paradigma em relação à evolução da aprendizagem intelectual no seguinte processo, representado nas figuras 1 e 2. Note-se que se tudo funcionar bem, ao clicar na figura você abrirá um local onde poderá encontrar várias representações do conceito. Os dois que apresento aqui são a representação clássica (Fig. 1) e a representação mais comum e simplificada (Fig. 2).
Figura 1. Taxonomia de Bloom – versão clássica.
Figura 2. Taxonomia de Bloom[i] – Simplificada (mais comum de se ver)
Em 2001, Lorin Anderson e David Khathwohl[ii] propuseram uma revisão. Como não li a obra no original, omitirei observações a respeito. Apenas peço ao leitor que preste bem a atenção nos conceitos, recordando-os e refletindo se é mesmo desta forma a evolução da cognição. O fundamental, realmente, é que cada um defina para si os objetivos desejados quando de sua atuação no ensino e na aprendizagem. Para o professor? Você desse que seu aluno, após suas aulas, esteja situado em que ponto da roda ou da pirâmide? E você, que é aluno, em que ponto deseja estar após concluir a disciplina estudada? Claro, se você concordar com o conceito.
Quanto à Taxonomia de Bloom, o meu incomodo e curiosidade é em saber o percentual de professores a aplica e o percentual de alunos que a percebe. Meu bom senso me diz não ser elevado este resultado. Isto significa que estamos jogando fora um precioso guia na execução de nosso trabalho – de ensino e de aprendizagem.
Assim como o conceito de Bloom, o Triângulo de Dale é muito visto no meio acadêmico, entre professores e alunos. Já o vi repetido em inúmeras oportunidades e em todas elas aceitei silenciosamente o que estava ouvindo: nunca questionei seus conceitos e nem sabia que era “um tal de Dale” que há havia criado. A verdade é que esta pirâmide é apresentada sem os devidos créditos, apenas repete-se o que nela está contido.
Para mal dos meu pecados, ontem li um artigo que questionava a sua veracidade e além, mostrava que não havia pesquisa comprobatória dos números ali apresentados. O fato é que Dale[iii] era ligado aos meios de comunicação, ao áudio-vidual, e não à educação propriamente. Segundo Will Thallimer[iv] (PhD-2002), o questionador, não haveria base científica para as afirmações e Dale. Diz até que os números não seriam propriamente de Dale, mas de Chi[v] (1989), que também nega a autoria. Por fim, uma salada de números que nós vamos engolindo como verdadeiros.
Observem a Fig. 3 e vejam se não a reconhecem – alunos e professores.
Figura 3 – Pirâmide de Dale (1969)
Na figura, observem, até Confúncio (551 a.C. - 479 a.C.) aparece como reforço ao conceito.
Bem, mas o que nos interessa aqui? Dois aspectos. O primeiro o do questionamento de tudo que ouvimos. Assustei quando vi alguém interrogar e por em dúvida algo que para mim era verdadeiro. O segundo, reforçar este questionamento uma vez que alguém o põe em dúvida. Será mesmo que depois de quase cinquenta anos, continuamos aprendendo apenas nos lembrando de 10% do que lemos e 20% do que ouvimos? Será que a evolução do modo de vida, da tecnologia, das metodologias de ensino-aprendizagem, não alteraram este panorama?
Um terceiro aspecto, sem relação com a Pirâmide, deve ser lembrado: Quantas e quantas vezes aceitamos o que nos é dito e respondemos de forma passiva? Seria este (ou será este) o comportamento desejado para professores e alunos, tanto em sala de aula quanto fora dela? Evoluiremos sem questionamento? Aprenderemos sem duvidar? Duvido.
Finalizando, faço uma provocação. Não seria melhor, ao invés de “penso, logo existo”, usarmos “duvido, logo existo”, uma vez que ao duvidar você já pensou? Duvidar e manifestar essa dúvida não seria a prova mais profunda de que Somos?
* Professor Doutor em Educação pela Uniso, Universidade de Sorocaba. Consultor em Carta Consulta; professor em Centro Universitário Una.
[i] http://missglauedu.weebly.com/uploads/1/0/0/8/10089790/7962888_orig.jpg
[ii] A Taxonomy for Learning,Teaching, and Assessing: A Revision of Bloom’s Taxonomy of Educational Objectives (2001), New York: Longman.
[iii] Dale, E. (1946, 1954, 1969). Audio-visual methods in teaching. New York: Dryden.
[iv] http://www.willatworklearning.com/2006/05/people_remember.html
[v] Chi, M. T. H., Bassok, M., Lewis, M. W., Reimann, P., & Glaser, R. (1989). Self-explanations: How students study and use examples in learning to solve problems. Cognitive Science, 13, 145-182.