26/09/2008

USP debate participação no Enade

Por Vivian Lobato, do Aprendiz

Alegando falta de conhecimento de como e o que se pretende avaliar, além do fato de ser uma prova de participação opcional, dada a autonomia universitária, algumas instituições públicas de Ensino Superior do país não participam do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). A Universidade de São Paulo (USP) é uma delas.

Durante a IV Semana da Educação, promovida pela Faculdade de Educação (FE) da USP, a questão foi levantada na mesa "A USP deve participar do Enade?". A apresentação ocorreu na tarde da última terça-feira (23), e contou com a participação do professor livre-docente da FE-USP, Romualdo Luiz Portela de Oliveira, especialista em avaliação educacional.

Na opinião do professor, a USP tem um comportamento curioso em relação ao Exame. "A instituição participava do Provão e do Enade não. O problema é que as direções da faculdade vão muito de acordo com o alinhamento político do governo federal. Na época do Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), por exemplo, a universidade era muito mais próxima e ia muito mais de acordo com as avaliações do que agora. Os argumentos para não participar da prova ainda são muito conservadores", disse.

Apesar da suposta posição política, a participação da universidade no Enade tem sido discutida internamente. "A congregação da universidade está em negociação, pois reconhece a importância do Exame. A avaliação se deu por linhas tortas, o indicativo ainda precisa de muitos ajustes. Acho que se reorganizarem a maneira de como o Enade vem sendo avaliado, destacando o sentido de viabilizar um trabalho melhor para a universidade, avaliando de fato o conteúdo oferecido, não vejo problemas da USP participar", explicou.

O Enade

O Enade foi criado em 2004 pelo Ministério da Educação (MEC) para ser um substituto do antigo Provão. A prova avalia uma amostragem de alunos iniciantes e concluintes de determinados cursos, que são escolhidos anualmente pelo MEC, com o objetivo de aferir o rendimento dos alunos dos cursos de graduação em relação aos conteúdos programáticos, suas habilidades e competências.

A principal diferença entre as duas é que o Provão avaliava anualmente todos os formandos de cursos universitários, diferente do Enade, que sorteia alunos dos cursos avaliados no ano para realizarem a prova quando ingressam na universidade, e depois quando finalizam o curso.

Para Oliveira, a avaliação do Ensino Superior é um tema cercado de muita desinformação. "Não sabemos direito o que queremos com o Enade. Regular, aperfeiçoar ou avaliar o Ensino Superior. Existe uma confusão. O Provão tinha um caráter mais regulatório, do que de aprendizagem. Ele funcionava mais como um indicador do desempenho da faculdade. Já o Enade avalia mais o conteúdo, o aproveitamento do aluno e no que o curso tem capacidade de aperfeiçoamento", explicou o professor.

O Enade é uma das quatro partes que compõem o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), que prevê auto-avaliação da instituição, avaliações externas gerais de infra-estrutura, corpo docente e a avaliação específica dos cursos de graduação. De acordo com Oliveira, no sentido de avaliação do Ensino Superior, o Enade é muito mais completo do que o Provão. "O sistema de avaliação é muito mais amplo, mas o que é mais divulgado pela mídia é a prova, até mesmo pelo caráter de publicidade, dado pelo ranking das melhores instituições", comentou.

Participação estudantil

Um ponto polêmico apontado pelos estudantes é que o Exame também funciona como sinalização profissional. Isso acontece porque o resultado do Enade passa a fazer parte do currículo pessoal do aluno, bem como das avaliações sobre a universidade. Além disso, a prova é componente curricular obrigatório, sem o qual o estudante não poderá colar grau nem receber o diploma, o que gera um problema recorrente no Exame: um número muito alto de boicote por parte dos alunos.

No Enade 2007, 260 mil estudantes estavam inscritos. O índice de abstenção foi de 15,5%. Foram avaliados alunos de 16 áreas. Medicina foi a que apresentou o menor número de abstenção: 5,7%. Tecnologia em agroindústria teve o maior índice de faltosos, de 27,1%.

"Os alunos se negam a realizar o Enade, pois não concordam com o sistema de avaliação. Com isso, não dá para ter um parâmetro fidedigno do desempenho da universidade. Sem dúvida, o Exame ainda precisa de muitos ajustes", disse.

O Enade 2008 tem mais de 525 mil inscrições. O exame será aplicado no dia 9 de novembro, às 13h e terá duração de quatro horas.

As diretrizes das áreas avaliadas pelo Enade 2008 estão disponíveis para consulta.


(Envolverde/Aprendiz)


Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×