UNA-SUS vai oferecer novos módulos voltados à Atenção Básica
Capacitação tem como foco populações do campo, da floresta e das águas e a Política Nacional de Saúde Integral LGBTT
A Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS) apresentou dois novos módulos voltados ao Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (PROVAB) nessa terça-feira (9), durante o Seminário de Políticas de Promoção de Equidade, Educação Popular em Saúde e Participação Social: Mobilizando para a XV Conferência Nacional de Saúde.
Na ocasião do evento, foram pré-lançados os módulos Saúde das Populações do Campo, da Floresta e das Águas, que será oferecido pela Universidade Federal do Ceará (UNA-SUS/UFC), e o Política Nacional de Saúde Integral Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, ofertado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UNA-SUS/UERJ).
A apresentação foi feita na presença de lideranças de movimentos sociais, gestores e conselheiros de saúde. O diretor do Departamento de Gestão de Educação na Saúde do Ministério da Saúde (DEGES/MS), Alexandre Medeiros, participou do evento e afirmou que os cursos demonstram a importância do respeito às diversidades e singularidades dessas populações e valorizou a necessidade de discussões sobre o tema.
Também participaram da apresentação a consultora da UNA-SUS, Lina Barreto; a professora da UNA-SUS/UERJ, Sheila Torres; e a coordenadora Geral de Apoio à Gestão Participativa e Controle Social (DAGEP/SGEP/MS) e uma das responsáveis pelo curso, Kátia Souto.
Saúde das Populações do Campo, da Floresta e das Águas
O módulo tem como objetivo capacitar os profissionais de saúde para lidarem com os problemas de saúde relacionados às condições de vida e hábitos dessas populações, conforme a Portaria Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta.
Durante o evento, a apresentação do módulo foi feita pela consultora da UNA-SUS, Lina Barreto. Ao total, são três unidades que tratam dos Modos de Vida e Situação de Saúde; Vigilância e Promoção da Saúde e Atenção à Saúde e Práticas do Cuidado.
A carga horária do curso é de 45 horas. Barreto explica que todas as unidades possuem uma contextualização sobre a realidade local dessas populações. “O aluno faz uma reflexão à luz da Política”, afirmou.
Os conteúdos foram construídos com a colaboração do Grupo da Terra, constituído pela Portaria Nº e formado por representantes de movimentos sociais que lutam pelos direitos das populações do campo, da floresta e das águas e por instituições públicas que fazem ações intersetoriais com a Política.
“O Grupo, ao longo das reuniões que aconteceram, expuseram as principais dificuldades de suas populações e, a partir delas, elaboramos as diretrizes do módulo”, explica a Analista-Técnico de Política Social do DAGEP, Gisella Garritano.
Para o diretor do DEGES, “devemos estar aptos e abertos para discutir a singularidade dessas populações, que tem processos de saúde e adoecimento diferente das urbanas”, disse Medeiros.
Como exemplo dos conteúdos disponíveis no curso, Barreto citou o caso das mulheres marisqueiras, que lidam diretamente com a água, estão expostas às ações da natureza e frequentemente apresentam problemas de saúde como Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e prolapso uterino.
“Mostramos que é possível produzir um curso de saúde diferenciado, voltado especialmente para a atenção a essas populações”, disse.
Para a integrante do Coletivo de saúde do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Gislei Siqueira Knierim, a expectativa é que o curso consiga sensibilizar os profissionais de saúde que atuam no SUS sobre a realidade dessas populações. “É preciso entender os processos de adoecimento e mudar os modelos de atenção”, afirmou. “Para essas pessoas, a vida está no território”, completa.
Garritano explica ainda que Ministério da Saúde, desde 2003, trabalha com as políticas de promoção da equidade, buscando promover a inclusão e o direito à saúde de populações em situação de vulnerabilidade. Portanto, esses módulos fazem parte da perspectiva da busca para a garantia da saúde para todos os brasileiros, conforme prevê a Constituição Brasileira.
Para a analista, o curso é importante para o SUS, pois aborda “questões referentes às populações em situações de vulnerabilidade e que, por estarem nessas situações, apresentam situações específicas de saúde, em função de seus modos de vida e condições sociais. Para tanto, o profissional de saúde do SUS deve ter conhecimento dos determinantes sociais dessas populações que afetam diretamente na saúde delas”, afirma.
Políticas Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
Como atender às necessidades de saúde da população LGBT, proporcionando-lhe o atendimento qualificado? Essa é a pergunta que norteia os conteúdos abordados pelo curso.
Dessa forma, o módulo foi organizado com o objetivo de contribuir com os profissionais de saúde do SUS, para que realizem suas ações de cuidado, promoção e prevenção, com qualidade, de forma equânime, garantindo à população LGBT, acesso à saúde integral, melhorando, portanto, a saúde deste grupo populacional. A carga horária é de 45 horas. O curso também disponibiliza sugestões de leituras sobre o tema.
Para tanto, os principais temas abordados neste curso são: gênero e sexualidade; Política Nacional de Saúde Integral de LGBT; acolhimento e cuidados na saúde da população LGBT e as lutas e conquistas históricas dessa população.
A apresentação do curso foi realizada pela consultora pedagógica da UNA-SUS/UERJ, Sheila Torres. “O objetivo é sensibilizar os trabalhadores do SUS para o exercício real da Política LGBT para promover o acesso às demandas dessa população”, afirmou.
Para Torres, um dos grandes desafios em tratar do tema é lidar com a cultura e preconceitos das pessoas. “O curso promove uma reflexão, para que o aluno pense na sua prática como cidadão e profissional de saúde.”
Para o coordenador de Desenvolvimento da UNA-SUS/UERJ, Felipe Docek, o curso é um diferencial para o SUS. “O seu ineditismo por si só já demonstra a visão do Ministério da Saúde, e em especial da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa (SGEP), que diante da constatação das dificuldades da população LGBT, identificou a necessidade de dar suporte às equipes de saúde para a superação de problemas muitas vezes relacionados à incompreensão e preconceitos. O SUS não pode cumprir seus princípios fundantes se excluí ou não alcança uma parcela significativa da população que enquanto cidadãos merecem e tem direito ao atendimento humanizado e de qualidade”, afirma.
Para o coordenador da Articulação Brasileira de Gays (ARTGAY) e integrante do comitê de saúde integral LGBT, Leo Mendes, a homofobia é um entrave ao acesso dessas populações aos serviços de saúde. “O curso será importante pois trará informações sobre a comunidade e as diversas forma de preconceito. É uma oportunidade para conhecer as diferentes realidades pessoais e qualificar o atendimento”, disse.
“É preciso enxergar essa população em sua integralidade. Nesse sentido, o curso vai atender às demandas da comunidade LGBT, para que o atendimento seja feito de forma humanizada e não discriminatória”, ressaltou a coordenadora geral de diversidade da Secretaria de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República, Lurdinha Rodrigues.
A coordenadora ainda defende que a população tem particularidades que necessitam de atendimentos específicos, como é o caso dos transexuais e das lésbicas, que devem ter o direito à maternidade garantido por meio da reprodução assistida.
Fonte: UNA-SUS