Uma segunda chance
A reprovação muitas vezes é encarada como um fracasso e, por isso, provocando desmotivação no universitário. Saiba como superar esse desafio e ir em busca de sua meta profissional
Todos dizem que o difícil não é ingressar na graduação e sim concluí-la. Neste período, o universitário enfrenta diversas dificuldades, entre elas financeira, de adaptação e acadêmica. Superar cada uma destas barreiras é um desafio constante, que só termina na formatura. Mas a reprovação, muitas vezes, resulta na insatisfação e, conseqüentemente, desmotiva o aluno a enfrentar todos estes problemas. Por isso, força de vontade é essencial para a conquista do diploma.
Trabalhos, provas, exames e, em alguns casos, a dependência (DP). Essas são as oportunidades que o estudante tem para evitar uma reprovação. Em algumas ocasiões, porém, ela é inevitável. Não gostar do curso ou da matéria, ter sido relapso nos estudos, dificuldades com disciplina e ainda não ter cumprido a carga horária mínima necessária são meios que podem ser o motivo da reprovação. "Doenças afetivas e dependências químicas também devem ser levadas em consideração, já que o sujeito é analisado como um todo", explica a coordenadora do curso de Relações Públicas da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), Neka Machado.
O importante é destacar que a reprovação não é sinônimo de burrice, e sim uma segunda chance ao conhecimento. "Deve ser encarada como crescimento. É uma oportunidade para que o aluno possa aprender o que por algum motivo não foi aprendido", afirma Neka. No entanto, muitos estudantes encaram este processo como um fracasso, colocando em dúvida até a sua escolha profissional.
Foi isso o que aconteceu com o estudante Fernando Gonçalves Flauzino, 23 anos. Após ter carregado a reprovação de duas disciplinas do curso de Engenharia Elétrica no Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia, Fernando decidiu trancar a matrícula, já que não tinha certeza de sua escolha e nem condições financeiras para levar essa história adiante. "Essa foi a minha primeira sensação". Hoje, no último ano de Tecnologia de Administração em Rede de Computadores no IBTA (Faculdade de Tecnologia IBTA), o estudante tem uma outra visão da situação. "Talvez se não tivesse passado por isso teria terminado a graduação. Aprendi muito com essa experiência, mas ainda pretendo concluir o curso de Engenharia Elétrica", conta. "Se não enfrentar os problemas, talvez nunca conquiste nada".
O grande mal: desmotivação
Os problemas podem ser comuns na vida das pessoas, mas devem ser superados para a conquista de objetivos. Segundo especialistas, a desmotivação é a principal barreira para estas realizações. "Na graduação, a motivação está diretamente ligada ao interesse e à escolha profissional. Por isso, os estudantes que tiveram a oportunidade de traçar o seu próprio caminho, de maneira sensata, têm mais chances para estarem motivados", assegura a psicóloga e professora do programa de pós-graduação da UFSC, Dulce Penna.
O que muitas vezes acontece é que geralmente essas escolhas são feitas muito cedo, aos 17 anos, uma fase onde o jovem ainda está construindo a sua personalidade. "Muitas fantasias e ilusões", descreve Dulce. Por isso, no decorrer da graduação as dúvidas podem surgir, ainda mais ao se deparar o estudante com as dificuldades. "Isso é comum, e quando surgem devem ser pensadas e trabalhadas".
Um outro fator de desmotivação, segundo a psicóloga, é a falsa expectativa de encontrar na graduação apenas disciplinas de interesse. "O mundo do trabalho não é puro prazer. Em todas as profissões existem tarefas mais legais e outras que não são tão agradáveis. No Ensino Superior o estudante é obrigado a passar por todas elas", conta.
Geralmente, são nas matérias que menos gosta que o universitário se prejudica. A falta de motivação e de esforço podem levá-lo à reprovação. "É mais fácil e prudente estudar e passar na disciplina do que ter que levar mais um ano ou semestre para refazê-la", orienta a professora Dulce. "O estudante deve ter maturidade para saber que, muitas vezes, fazemos coisas que não gostamos para alcançarmos um lugar que nos satisfaça".
O papel do professor
O professor exerce um papel muito importante nessa situação. Para a coordenadora Neka Machado, o profissional tem o compromisso de ajudar o estudante a detectar o que lhe aflige. "Os motivos de uma desmotivação são vários. Tirá-los deste quadro e ajudá-los a encontrar um caminho ou uma opção para que sejam mais felizes, essa é a nossa função quanto orientador", diz. "Tal sentimento pode refletir na formação profissional e conseqüentemente na instituição".
Já a psicóloga acredita que as atitudes dos docentes são muito importantes na motivação do aluno. "É preciso que eles sejam mais humanos, procurando ver quais são as dificuldades dos jovens e ajudá-los a superá-las. A acusação prejudica ainda mais o estado do aluno", assegura a Dulce. E ainda, segundo ela, compartilhar suas experiências com aluno também pode servir de incentivo.
De cabeça erguida
Mas quando se tem certeza de um objetivo, não é uma simples reprovação que vai fazer o estudante desistir de sua meta. Esse é o caso do universitário Thiago Guedes Santinelli, 23 anos, que no quarto ano do curso de Administração da Metodista, carrega três reprovações. "O que me impulsionou para enfrentar todos esses problemas foi o desejo de conquistar um diploma e seguir a carreira de administrador". Thiago conta que essas reprovações serviram, principalmente, para o seu amadurecimento pessoal. "Tenho certeza que desistir não é a melhor saída em nenhuma situação", aponta.
Mas se o estudante encontrar qualquer dificuldade em seu percurso, é importante que ele procure ajuda de psicólogos ou orientadores profissionais. "É necessário que ele se dê conta que está precisando de ajuda. A ajuda não é uma coisa feia e nem para loucos. O psicólogo é para pessoas que queiram ser melhores e viver com mais felicidade e menos angústia", afirma Dulce.
Albert Einstein, o pior aluno, transformou-se no grande gênio. Portanto, notas baixas, ou até mesmo a reprovação, não significam incompetência. É preciso persistência e muita força de vontade. "As instituições de ensino orientam, mas quem se forma é o próprio universitário. Infelizmente, a maioria ainda é socialmente privilegiada, por isso todos devem aproveitar para valer", conclui a coordenadora Neka Machado.