06/10/2023

UMA INVENÇÃO GAUCHESCA? O CHURRASCO COMO ELEMENTO DE REFORÇO CULTURAL E IDENTITÁRIO

Jander Fernandes Martins[1]

Vitória Duarte Wingert[2]

Samila Beatriz Weber[3]

 

RESUMO

O presente texto intenta discorrer e analisar, em uma perspectiva cultural, um dos elementos constituidores do gênero humano, o ato de comer e, no interior dessa atividade básica e primordial, o consumo da carne. Partindo do pressuposto no qual esse ato transcende o biológico, de modo a investir-se de sentido e significado social, identitário e cultural, é que se considerou pertinente tomá-la como conceito analítico. Assim, empiricamente, os autores analisam o “churrasco gaúcho” em sua expressão cultural. Para tal, recorreu-se a dados quantitativos de produção e consumo de carne no âmbito nacional e internacional como forma de consubstanciar a análise realizada. Com o fechamento desse estudo, verificou-se que o imaginário social e cultural que investe de sentido e significado ao gaúcho, morador do Rio Grande do Sul, como grande consumidor de carne e que é preparado de maneira culturalmente peculiar, não se verifica em termos concretos.

Palavras-chaves: Alimentação; Churrasco; Culinária Regional; Cultura; Identidade e Cultura.

 

ABSTRACT

This text attempts to discuss and analyze, from a cultural perspective, one of the constituent elements of the human race, the act of eating and, within this basic and primordial activity, the consumption of meat. Based on the assumption that this act transcends the biological, in order to invest itself with social, identity and cultural meaning and significance, it was considered pertinent to take it as an analytical concept. Thus, empirically, the authors analyze the “Gaúcho barbecue” in its cultural expression. To this end, quantitative data on meat production and consumption was used nationally and internationally as a way of substantiating the analysis carried out. With the completion of this study, it was verified that the social and cultural imaginary that invests meaning and meaning to the gaucho, resident of Rio Grande do Sul, as a great consumer of meat and which is prepared in a culturally peculiar way, does not occur in terms concrete.

Keywords: Food; Barbecue; Regional Cuisine; Culture; Identity and Culture.

 

RESUMEN

Este texto intenta discutir y analizar, desde una perspectiva cultural, uno de los elementos constitutivos del género humano, el acto de comer y, dentro de esta actividad básica y primordial, el consumo de carne. Partiendo del supuesto de que este acto trasciende lo biológico, para dotarse de significado y significación social, identitaria y cultural, se consideró pertinente tomarlo como un concepto analítico. Así, empíricamente, los autores analizan el “asado gaúcho” en su expresión cultural. Para ello se utilizaron datos cuantitativos sobre la producción y el consumo de carne a nivel nacional e internacional como forma de fundamentar el análisis realizado. Con la realización de este estudio, se verificó que el imaginario social y cultural que confiere significado y significado al gaucho, residente en Rio Grande do Sul, como gran consumidor de carne y que se prepara de manera culturalmente peculiar, no ocurrir en términos concretos.

Palabraclave: Alimentación; Parilla; Cocina Regional; Cultura; Identidad y Cultura.

 

 

 

DO BIOLÓGICO AO CULTURAL: O HOMEM E SUA ALIMENTAÇÃO

O homem é uma criatura singular. Possui um conjunto de dons que o torna único entre os animais: diferentemente destes, não é apenas uma peça na paisagem, mas um agente que a transforma. (A Escalada do Homem – J. Bronowski)

 

O presente texto é fruto de paulatinas discussões realizadas durante o semestre letivo de Disciplina vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Processos e Manifestações Culturais – Universidade FEEVALE/NH. Com ele, objetiva-se, à luz de pressupostos interdisciplinares, analisar os processos e manifestações culturais de consumo de carne na cultura gaúcha. Imaginário cultural esse, o qual atribui origem e autoria sobre este tipo de comensalidade a ponto de ser elevada a um alto grau de estatuto identitário e cultural.

Dito isso, retomando a epígrafe supracitada, não há dúvidas que a escalada humana é constituída e foi impulsionada por uma série de eventos e elementos que, no decorrer de milhares de anos, agiram de modo a constituir o gênero humano. Dentre esses elementos constitutivos está o ato de comer. Uma atividade básica e primordial na preservação (e porque não dizer na evolução?) do hominídeo, o ato de comer desde as origens do gênero Homo é uma atividade biológica.

Porém, se o ato de comer, nos primórdios da jornada humana, objetivava satisfazer uma necessidade orgânica, satisfazendo sua fome evitando a desnutrição e, consequentemente, a morte. Esse ato, reconfigura-se enquanto atividade humana, pois ela transcende o biológico inaugurando-se na esfera da cultura, logo, um ato coletivo, social.

Nessa escalada do Homem, se sabe que o cérebro e as mãos foram determinantes para que ocorresse a ascensão do Homo erectus e Homo habilis para Homo sapiens (FONSECA, 2009; SAGAN, 1977). Estágio evolutivo esse atingido graças ao desenvolvimento desses órgãos, o de preensão e o sensorial. E o ato de comer nesse processo, poderíamos desde já afirmar, ter exercido papel determinante, enquanto atividade biológica, circunstância esta que impulsionou o desenvolvimento cerebral do gênero Homo.

Carl Sagan (1977, p. 41) estudando a história do cérebro, apresenta dados quantitativos referentes a “massa cerebral” de diferentes espécies, dentre elas, a do homem:

Figura 1- Massa cerebral de seres vivos

 

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×