29/06/2006

Transferência: Uma alternativa ao vestibular?

Saiba os prós e contras de mudar de curso ou IES por este caminho.

Meses de estudos, pilhas de livros e muitas noites em claro para conseguir ver o nome estampado na lista dos classificados do vestibular. E depois de muitos desafios a grande decepção: a escolha do curso ou da própria universidade não foi a ideal. Você deve estar imaginando que é hora de começar do zero. Nada disso. Pelo processo de transferência é possível mudar de habilitação ou de faculdade sem precisar prestar novo vestibular e abandonar os estudos.

Além do tradicional processo seletivo, as instituições de ensino superior oferecem aos estudantes uma outra maneira de ingressar na graduação, o processo de transferência externa ou interna. Muitos não sabem, mas, segundo o art. 49 da Lei nº 9.394/96 - da LDB (Lei de Diretrizes e Bases), as universidades devem aceitar a transferência externa de estudantes regulares, para cursos afins, na existência de vagas e mediante uma avaliação.

Para muitos, a transferência é mais uma oportunidade de ingressar naquela tão sonha universidade. Foi o caso do estudante Daniel Gomes da Lapa Jr., 25 anos, que não passou no processo seletivo convencional da USP (Universidade de São Paulo), mas conseguiu uma vaga no curso de Matemática da instituição pelo processo de transferência. "Usufruí deste benefício para alcançar meu objetivo", afirma o estudante.

Obstáculos

Mas o processo de transferência não é uma alternativa simples. "Embora a transferência seja um direito do universitário, a lei impõe que seja observado as exigências da instituição", explica a Coordenadora Geral de Relações Acadêmicas de Graduação do Ministério da Educação, Iguatemi Lucena Martins. Ou seja: o aluno regularmente matriculado em uma instituição de ensino superior reconhecida pelo MEC pode pleitear uma vaga na faculdade em que deseja ingressar, desde que atenda os pré-requisitos.

Na maioria das vezes é exigido que o estudante tenha cursado, no mínimo, o primeiro ano da graduação. Isto ocorre porque a grade curricular dos cursos varia muito e é preciso analisar o que o estudante já aprendeu e o que ainda não viu em sala de aula, para garantir que o processo não prejudique a formação acadêmica.

Em muitos casos, a transferência pode atrasar o ano de formação do universitário. Caso as disciplinas não coincidam, o aluno deverá fazer adaptações das matérias que ainda não faziam parte de sua grade curricular. Dependendo da instituição, essas adaptações podem ser realizadas junto com outras disciplinas. Mas nem sempre isso é possível e o curso poderá demorar mais do que o período normal de graduação.

"Isso varia de acordo com o nível da antiga faculdade. Mas, geralmente, poucos créditos são aproveitados, alongando o tempo do curso em um ou dois semestres", afirma o assistente de Coordenação da Coordenadoria do Registro Acadêmico da PUCRS (Pontifícia Católica de Rio Grande do Sul), Seno Rudi Jung. Desta forma, o processo de transferência pode trazer alguns "prejuízos" para a formação acadêmica do universitário. E mais, os danos podem ser ainda maiores quando a transferência é realizada nos últimos anos da graduação. Por isso, todo cuidado é pouco.

As conseqüências da transferência devem ser muito bem avaliadas pelo candidato de acordo com seu objetivo, esteja ele ligado à opção por uma instituição que detém maior status, à mudança para uma universidade mais próxima de sua casa ou trabalho - facilitando a rotina - ou ainda, a uma troca mais vantajosa do ponto de vista financeiro. Porém, independentemente dos motivos, é preciso levar em consideração a qualidade do curso e da instituição desejada.

Além disso, é importante que o candidato faça uma comparação entre a grade curricular das duas instituições. "Neste etapa, os centros de atendimentos aos alunos podem ser bons auxiliadores", garante Jung. Assim é possível avaliar a possibilidade e, ainda, a situação temporal que deverá ser enfrentada no processo de transferência. "É preciso analisar até que ponto isto vai ser prejudicial ao seu planejamento de conclusão de curso", alerta.

Depois de meses de estudos, seguindo todos estes passos, a estudante de Jornalismo da IMES (Universidade de São Caetano do Sul), Tainana Navarro, 21 anos, decidiu desistir da transferência para a Faculdade Cásper Líbero. "Embora a mensalidade fosse menor e a qualidade de ensino e as oportunidades de estágios maiores, o sistema não era vantajoso. Teria que repetir o primeiro ano da graduação e ainda fazer adaptação de outras cinco matérias", diz. "Por falta de tempo, não teria condições de fazer as adaptações, comprometendo o meu desempenho na graduação", completa

Já o estudante de Engenharia de Produção Mecânica Fernando Ângelo D´annolfo, 21 anos, não teve outra saída a não ser seguir pelo caminho da transferência. Na antiga instituição, Escola de Engenharia Mauá, o universitário não tinha mais condições de continuar pagando as mensalidades e ainda enfrentar o puxado sistema de ensino. "Tive que voltar um ano do curso para me adaptar a grade curricular da nova instituição, mas foi a solução que eu encontrei para resolver os meus problemas", argumenta.

Processo seletivo

Algumas universidades, principalmente as públicas, realizam uma seleção, similar ao do vestibular, tamanha a concorrência na disputa das vagas ociosas das instituições. Na USP, por exemplo, todos os inscritos passam por provas de Língua Portuguesa e Língua Inglesa. E mais, os candidatos da área de Humanas respondem questões de Cultura Contemporânea, os de Biológicas perguntas de Genética e Bioquímica e os alunos da área de Exatas fazem provas de Física e Matemática. Ainda não para por aí. Neste processo também tem a segunda fase, realizada pelas próprias unidades da universidade.

Segundo o diretor de Serviço de Apoio Técnico a Graduação da USP, Sergio Luiz Brito Orsini, em algumas áreas a concorrência é maior no processo de transferência do que no vestibular. "Muitos que pensam que este é um método mais simples, acabam se prejudicando", alerta.

Além da concorrência, o número de vagas oferecidas no processo de transferência é bem menor do que as disponibilizadas no vestibular. Não há, ainda, oportunidades para todos os cursos. "Isso varia muito de acordo com o índice de evasão da universidade. Em sua maioria, as ofertas são bem reduzidas e as concorrências maiores", garante Iguatemi. Não há como negar, porém, que as possibilidades de transferências em uma instituição particular são maiores do que nas públicas. "Em alguns casos as vagas não são preenchidas", completa.

A adaptação

Se você pensa que depois de ter optado pelo sistema de transferência e ter ingressado na universidade desejada os problemas acabaram, está enganado. O principal vilão da história passa a ser a adaptação. "Um problema que faz muitas pessoas desistirem no meio do caminho", conta Orsini. Por isso, estar ciente das circunstâncias que estão por vir e estar preparado para combatê-las também é muito importante.

Mas as mudanças na rotina e nas regras educacionais não impediram Daniel de abraçar a oportunidade de estudar na USP. "Foi e continua sendo difícil a adequação. Hoje, além da graduação, preciso fazer as adaptações para atingir o mesmo grau dos demais estudantes. Como se não bastasse, ainda tem as mudanças com a parte logística: acomodação, alimentação e locomoção", informa. "São problemas que existes, porém se você realmente quer algo, não há empecilho que faça desistir", conclui.

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