Traduzindo Jabberwocky, de Lewis Carroll
Traduzindo Jabberwocky, de Lewis Carroll
MARCOS STAUB
A tradução de Jabberwocky (1871), de Lewis Carroll (1832-1898), foi uma experiência esotérica e absolutamente efêmera, a partir desta obra prima do nonsense literário. O folclore alemão é prolífico, em essência e os conhecimentos desse saber foram utilizados para renomear a criatura Jabberwocy, que no poema de Carroll é um monstro. Jabber é aquele que conversa rápida ou incoerentemente, com expressão indistinta, que preferiu-se chamar Kobolde. Kobolde é um espírito proveniente da mitologia germânica. Kobolde ou Klabautermann pode se materializar na forma de um animal, fogo ou humano. Imitando os humanos geralmente aparece com roupas de marinheiro e fumando cachimbo, sua fala é quase ininteligível. Utilizou-se da improvisação, mantendo a erudição, mobilizando conhecimentos adquiridos ao longo de muitos anos, mas é claro que isso envolveu estudo, análise e interpretação do original em seu contexto. Deixeamo-nos levar por um fluxo de consciência transcendental à língua mãe, a língua portuguesa para que se pudesse captar a poética do autor.
Por exemplo “Silfos e Ondinas” que foram introduzidos na tradução são gênios da mitologia germânica da idade média, são elementais da Magia e mesclam perfeitamente com a atmosfera sobre-humana em que se travaria o combate. Quetzalcóat é uma divindade na cultura e na literatura mesoamericanas cujo nome vem da língua Nahuatl e significa "serpente emplumada", Leviatã é um monstro marinho do caos primitivo, mencionado na Bíblia, e cujas origens remontariam à mitologia fenícia “The Vorpal blade”, que foi traduzido para Athame. O Athame Celta é a espada cerimonial de um alto sacerdote, ou Mago Elemental e a batalha sobre-humana somente poderia ocorrer em um ambiente de magia sobrenatural.
Ceserani (2004/2006) e Furtado (1980) definem o fantástico como o gênero literário da ambiguidade; a invasão do sobrenatural, do irreal e do inexplicável. Tal qual a metáfora da alma refletida no espelho do conto de The lady in the looking-glass: a reflection, de Virginia Woolf (1929/1993), tal qual o “Eu” refletido no espelho. O fantástico, irreal e sobrenatural desvelam-se na narrativa que descreve a saga do herói. É objeto de análise do fantástico tudo aquilo que é estranho e inexplicável racionalmente ao ser humano. Segundo Ceserani (2006), o fantástico é responsável por projetar as imagens de angústias e horrores, que até então só são conhecidas nos sonhos e pesadelos.
Forma recorrente na literatura, sobretudo na literatura fantástica, de dar vida a esses conteúdos sombrios da mente é com a presença de um espelho. Jabberwocky é um poema nonsense que aparece em Through the Looking-Glass, and What Alice Found There (1871) por Lewis Carroll. É geralmente considerado um dos maiores poemas de nonsense escritos em língua Inglesa, traduzido para diversas línguas inclusive Latim e Esperanto.
Jabberwocky
De Lewis Carroll- Fonte: The Random House Book of Poetry for Children (1983)
Tradução de:
Marcos Staub – Mestre em Estudos da Tradução
Kobolde
Era resplandecente, salamandra a rastejar
Retorcia na grama a vagar:
Silfos esvaneciam
E as Ondinas a serpentear.
“Foge do Kobolde, o vivente eterno!
Prezas que abocanham, garras que torturam
Cuidado com o Quetzalcóat sempiterno
Corre, filho, do fumoso espectro Leviatã! ”
Tomou seu Athame, empunhou-o:
E perseguiu o inimigo imundo
Ele o procurou pela estepe infinda_
Descansou junto à árvore Tumtum fecunda
Deteve-se e o engenho ensimesmou o
E enquanto estava em heroica sesta,
Chegou o Kobolde, olhos ardentes,
Indômito movendo-se pela floresta
Ria louco, insanamente!
Um, dois! Um dois! Seu Athame mortal
Vai, vem, para adiante, cervical
Cabeça agride, o golpe sepulcral
Besta esmarrida, violenta saturnal.
“ Finalizastes o ufano Kobolde?
Vem, menino ao abraço parental!
Vivas ufanar! Super! Bravo!
Meritório jubilar.
Era resplandecente, salamandra a rastejar
Retorcia na grama a vagar:
Silfos esvaneciam
E as Ondinas a serpentear.