17/11/2020

Traduzindo Jabberwocky, de Lewis Carroll

Traduzindo Jabberwocky, de Lewis Carroll

 

MARCOS STAUB

 

         A tradução de Jabberwocky (1871), de Lewis Carroll (1832-1898), foi uma experiência esotérica e absolutamente efêmera, a partir desta obra prima do nonsense literário. O folclore alemão é prolífico, em essência e os conhecimentos desse saber foram utilizados para renomear a criatura Jabberwocy, que no poema de Carroll é um monstro. Jabber é aquele que conversa rápida ou incoerentemente, com expressão indistinta, que preferiu-se chamar Kobolde. Kobolde é um espírito proveniente da mitologia germânica. Kobolde ou Klabautermann pode se materializar na forma de um animal, fogo ou humano. Imitando os humanos geralmente aparece com roupas de marinheiro e fumando cachimbo, sua fala é quase ininteligível. Utilizou-se da improvisação, mantendo a erudição, mobilizando conhecimentos adquiridos ao longo de muitos anos, mas é claro que isso envolveu estudo, análise e interpretação do original em seu contexto. Deixeamo-nos levar por um fluxo de consciência transcendental à língua mãe, a língua portuguesa para que se pudesse captar a poética do autor.

         Por exemplo “Silfos e Ondinas” que foram introduzidos na tradução são gênios da mitologia germânica da idade média, são elementais da Magia e mesclam perfeitamente com a atmosfera sobre-humana em que se travaria o combate. Quetzalcóat é uma divindade na cultura e na literatura mesoamericanas cujo nome vem da língua Nahuatl e significa "serpente emplumada", Leviatã é um monstro marinho do caos primitivo, mencionado na Bíblia, e cujas origens remontariam à mitologia fenícia   “The Vorpal blade”, que foi traduzido para Athame. O Athame Celta é a espada cerimonial de um alto sacerdote, ou Mago Elemental e a batalha sobre-humana somente poderia ocorrer em um ambiente de magia sobrenatural.

 

         Ceserani (2004/2006) e Furtado (1980) definem o fantástico como o gênero literário da ambiguidade; a invasão do sobrenatural, do irreal e do inexplicável. Tal qual a metáfora da alma refletida no espelho do conto de The lady in the looking-glass: a reflection, de Virginia Woolf (1929/1993), tal qual o “Eu” refletido no espelho. O fantástico, irreal e sobrenatural desvelam-se na narrativa que descreve a saga do herói.  É objeto de análise do fantástico tudo aquilo que é estranho e inexplicável racionalmente ao ser humano. Segundo Ceserani (2006), o fantástico é responsável por projetar as imagens de angústias e horrores, que até então só são conhecidas nos sonhos e pesadelos. 

         Forma recorrente na literatura, sobretudo na literatura fantástica, de dar vida a esses conteúdos sombrios da mente é com a presença de um espelho. Jabberwocky é um poema nonsense que aparece em Through the Looking-Glass, and What Alice Found There (1871) por Lewis Carroll. É geralmente considerado um dos maiores poemas de nonsense escritos em língua Inglesa, traduzido para diversas línguas inclusive Latim e Esperanto.

 

 

Jabberwocky

De Lewis Carroll- Fonte: The Random House Book of Poetry for Children (1983)

Tradução de:

Marcos Staub – Mestre em Estudos da Tradução

 

Kobolde

Era resplandecente, salamandra a rastejar

Retorcia na grama a vagar:

Silfos esvaneciam

E as Ondinas a serpentear.

“Foge do Kobolde, o vivente eterno!

Prezas que abocanham, garras que torturam

Cuidado com o Quetzalcóat sempiterno

Corre, filho, do fumoso espectro Leviatã! ”

Tomou seu Athame, empunhou-o:

E perseguiu o inimigo imundo

Ele o procurou pela estepe infinda_

Descansou junto à árvore Tumtum fecunda

Deteve-se e o engenho ensimesmou o

E enquanto estava em heroica sesta,

Chegou o Kobolde, olhos ardentes,

Indômito movendo-se pela floresta

Ria louco, insanamente!

Um, dois! Um dois! Seu Athame mortal

Vai, vem, para adiante, cervical

Cabeça agride, o golpe sepulcral

Besta esmarrida, violenta saturnal.

“ Finalizastes o ufano Kobolde?

Vem, menino ao abraço parental!

Vivas ufanar! Super! Bravo!

Meritório jubilar.

Era resplandecente, salamandra a rastejar

Retorcia na grama a vagar:

Silfos esvaneciam

E as Ondinas a serpentear.

 

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