29/06/2022

TRABALHO DOCENTE E ESGOTAMENTO MENTAL

João Paulo Santos Neves Mendonça

Letícia Lopes Mendonça Neves

 

          Nos últimos anos, a profissão docente tem se tornado dias de angústia profissional vivido por educadores de todo o país. Em pesquisa realizada pela Nova Escola em 2021, aponta que 72% dos 9557 profissionais pesquisados, tiveram a saúde mental afetada e precisaram buscar apoio de profissionais da saúde.

          Muitos motivos contribuíram e ainda contribuem para este estado de ‘pane’ mental que os educadores brasileiros têm sofrido. É de conhecimento universal que o trabalho docente não termina ao final da jornada de trabalho na escola. O exercício laboral continua na casa de cada docente e se estende aos finais de semana e não é raro saber que recessos, feriados e finais de semana pontuais se tornam momentos de organização das demandas que se acumulam por alguns períodos (BENEVIDES-PEREIRA, 2002).

          Problemas estruturais como remuneração, carga horária elevada, parcelamento, constantes “ataques” aos direitos e vantagens pontuais contribuem para a desvalorização dos professores e o aumento da insatisfação e descontentamento com a profissão. Com toda está problemática, se tornou comum ouvir dos professores que o trabalho não está rendendo como antes e que há a sensação de não estarem fazendo nada que de resultados factíveis. Além disto, o desinteresse crescente pelos estudantes agrava a sensação de inércia pedagógica (KUENZER, 2004).

          Com toda esta carga de trabalho o prazer de estar em casa e a sensação de descansar não é sentida pelos profissionais, uma vez que a rotina não permitiu mais diferenciar momentos de trabalho e momentos de lazer. Dias de descanso físico e mental se tornaram cada vez mais escassos no dia a dia das exigências docentes, que muitas vezes ultrapassa o limite da aceitação, pois os aparelhos telefônicos particulares foram gradativamente incluídos nas obrigações da jornada pedagógica, o que tem tornado cada vez mais difícil ‘desligar’’ do trabalho (MASLACH; LEITER, 1999). Nós, enquanto seres humanos, queremos dar conta de tudo. Vamos trabalhando e esquecendo da nossa saúde mental. E é nesses momentos de fala que os profissionais se dão conta que durante a rotina eles não possuem um momento de descanso mental (REINHOLD, 2002).

           Por isso, para Vasques-Menezes e Codo (1999), a discussão entorno da síndrome de Burnout tem se tornado cada vez mais frequente, pois ela discute o esgotamento profissional como um distúrbio emocional de sintomas visivelmente percebíveis pela exaustão externa, estresse e esgotamento físico resultante das situações de sobrecarga de trabalho e situações desgastantes.

          Assim, torna-se urgente ampliar as discussões a respeito do esgotamento mental em professores, a carga de trabalho e a valorização profissional – que aqui não objetiva exclusivamente a valorização salarial, pois o aumento do salário não resolve a problemática, apenas cria a sensação de mais impotência, uma vez que traz a retorica ‘ganho bem, mas ainda continuo sobrecarregado e não consigo descansar mentalmente’.

          Defendo uma discussão ampla, uma valorização eficiente do ponto de vista holístico – que valorize o ser humano enquanto gente e não enquanto coisa. Aspectos como causalidade, danos qualitativos, influência do clima organizacional, relações interpessoais e as convergências sociais de pais e estudantes precisam ter um peso considerado nestas avaliações, pois atribuem-se culpas múltiplas aos profissionais da educação, reconhecendo casualmente a responsabilidade dos pais e estudantes, porém a cobrança recai sempre nos ombros do professor, sem atribuir exigência de mesmo peso aos demais envolvidos no processo. É preciso distribuir responsabilidades e cobrar na mesma intensidade, pois o adoecimento dos professores e latente.

 

REFERENCIAS

BENEVIDES-PEREIRA, A. M. T. Burnout: O processo de adoecer pelo trabalho. In: BENEVIDES-PEREIRA, A. M. T. (Org.) Burnout: quando o trabalho ameaça o bem estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002. p. 21-91.

KUENZER, A. Z. Sob a reestruturação produtiva, enfermeiros, professores e montadores de automóveis se encontram no sofrimento do trabalho. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 107-119, mar. 2004.

MASLACH, C. P.; LEITER, P. M. Fonte de prazer ou desgaste? Guia para vencer o estresse na empresa. Campinas: Papirus, 1999.

REINHOLD, H. H. Burnout. In: LIPP, M. E. N. O stress do professor. Campinas: Papirus, 2002. p. 63-80.

VASQUES-MENEZES, I.; CODO, W. O que é burnout?. In: CODO, W. (Coord.). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 237-254.

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