Um teste de avaliação cognitiva denominado Test of Functional Health Literacy in Adults (TOFHLA) se mostrou eficaz para avaliar o desempenho cognitivo de um grupo de 312 adultos, com idades entre 19 e 81 anos, independentemente da escolaridade. Os resultados indicaram que, no geral, 32% dos avaliados eram analfabetos funcionais. Entre os participantes com mais de 65 anos, esse índice foi de 50%.
O estudo foi realizado por um grupo multidisciplinar de pesquisadores do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Divisão de Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) que tem como foco principal pesquisas relacionadas a cognição e envelhecimento. No analfabetismo funcional, apesar de a pessoa ser alfabetizada, ela apresenta problemas na compreensão de textos e na capacidade de inferir informações: não consegue, por exemplo, entender uma conta de luz ou um extrato bancário.
Na área da saúde, o analfabetismo funcional é bastante preocupante, pois muitos pacientes não conseguem entender a prescrição de medicamentos ou a orientação recebida dos profissionais do setor. Para os profissionais da área, um dos problemas é como diferenciar se a deficiência cognitiva de um idoso é fruto de um quadro demencial, como a doença de Alzheimer, ou se é consequência da pouca escolaridade.
O TOFHLA vem exatamente atender a essa demanda. É um teste originado na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e que o grupo da FMUSP está testando no Brasil. A pesquisa realizada pelo grupo também é importante para fundamentar programas de educação em saúde.
“Geralmente os testes de desempenho levam muito em conta o número de anos que a pessoa estudou, mas esse critério não é suficiente para avaliar, por exemplo, o desempenho cognitivo de um idoso que tenha um número maior de anos de escolaridade. Já o TOFHLA, além do número de anos de estudo, leva em conta também outros aspectos, como os hábitos de leitura. Por isso, esse teste se mostrou muito mais eficaz para determinar o desempenho cognitivo”, afirma a professora Letícia Lessa Mansur, do Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Fofito) da FMUSP, e uma das integrantes do grupo.
Ela lembra que o Brasil apresenta uma diversidade muito grande no que se refere ao grau de escolaridade de seus habitantes e a qualidade desta formação, tomando-se, por exemplo, o número de horas de aula que varia de região para região, bem como os conteúdos programáticos. “Uma pessoa com um maior número de anos de estudo não significa, necessariamente, que terá um desempenho cognitivo melhor”, destaca.
Pesquisa Foram avaliados 198 mulheres e 114 homens saudáveis com grau de escolaridade variado: entre 1 a 12 anos ou mais, sendo que a maioria tinha entre 4 a 7 anos de estudo. Os testes aconteceram entre 2006 e 2007 na cidade de São Paulo. Os participantes precisavam ler algumas informações sobre como deveriam se preparar para submeter-se a um exame radiológico de estômago. Eles necessitavam compreender os textos, que incluíam conceitos de diversas naturezas, inclusive numérica. Além disso, na segunda parte do teste, eles deveriam responder questões matemáticas simples, que envolvem cálculos de horários de tomadas de medicações.
A professora Letícia explica que o envelhecimento pode ser saudável ou patológico. Quando patológico, ele pode ser divido em quadros demenciais ou não demenciais. “Nos quadros demenciais, como no Alzheimer, ocorre uma dificuldade para exercer atividades da vida cotidiana e há uma ruptura na independência da pessoa”, explica. Nestes casos, um dos recursos de diagnóstico é o exame de estado mental, que envolve, por exemplo, a orientação no tempo/espaço. “Trata-se de uma medida universal de rastreio para perdas cognitivas por comprometimento por Alzheimer ou demência”, diz.
Hábitos de leitura A professora aponta que é fundamental a existência de mecanismos de avaliação, como o TOFHLA, para identificar problemas cognitivos em idosos decorrentes da deficiência de escolaridade. Desta forma é possível avaliar corretamente esses pacientes e direcionar investimentos para a sua manutenção cognitiva, como o incentivo aos hábitos de leitura.
“A estimulação cognitiva por meio de hábitos de leitura garante bons níveis de desempenho de entendimento em testes cognitivos”, conta. De acordo com a professora, para a existência de um envelhecimento saudável também é recomendável a prática de atividades físicas, além da estimulação mental. O próximo passo do grupo de pesquisadores é avaliar os hábitos de leitura dos 312 participantes da pesquisa.
(Envolverde/Agência USP de Notícias)
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