04/08/2022

Teorias Organizacionais - Teorias e abordagens recentes (décadas de 1990, 2000, 2010 e 2020)

Jorge Barros

Pós-graduado e Mestre em Administração e Gestão Escolar, Doutor em Administração e Gestão Educativa e Escolar, Professor no 2.º Ciclo do Ensino Básico no Agrupamento de Escolas Dra. Laura Ayres (ESLA), Quarteira

 

No final do século passado e no início deste século, as novas teorias e abordagens das organizações centram-se na informação, nas tecnologias da informação, no ambiente, na ecologia e no conhecimento. No decorrer do século XX, as organizações e as teorias resultantes do seu estudo sofreram grandes transformações. No presente enfrentam forte turbulência provocada pela era da informação.

No contexto da sociedade atual, revela-se difícil combinar as diversas abordagens organizacionais com o mundo real das organizações. Esta situação deve-se ao facto de se assistir neste mundo globalizado, a uma série de mudanças na sociedade, na ciência, na tecnologia, no ambiente, na informação e no conhecimento, que se refletem no funcionamento das organizações. Também se fica a dever ao facto de o processo de aculturação dos indivíduos ocorrer em contextos culturais, políticos e sociais que se revelam cada vez mais competitivos e concorrenciais. Deste modo, a própria identidade e sobrevivência da organização está cada vez mais dependente de ela se adaptar e reagir às contingências do sistema aberto, do ambiente externo, isto é, das relações que possam estabelecer reciprocamente com o meio ambiente, da adoção ou não e em que grau da tecnologia e das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e, por último, da adaptação e adequação ao mercado, numa perspetiva de acesso aos recursos que estão sob o controlo do ambiente externo, como sejam a manutenção e a captação de clientes, a conservação e retenção de talentos entre os seus funcionários, assim como a vertente económica e a do capital cultural.

Devemos, também, ter presente que atualmente, na era da informação, o capital financeiro vai progressivamente cedendo o seu lugar ao capital intelectual, pelo que nos parece que a nova riqueza das organizações é o conhecimento. Neste sentido, o conhecimento passa, de facto, a ser o recurso organizacional mais valioso, importante e mesmo determinante para o sucesso e sobrevivência das organizações no século XXI, entre outros fatores. Na verdade, é no capital intelectual das pessoas que está a chave da inovação e do desenvolvimento organizacional.

Neste contexto, as teorias mais recentes dão os seguintes contributos:

- a Ecologia das Populações Organizacionais procura encontrar formas diferentes de adaptação que as populações desenvolvem face ao ambiente dependendo da idade, das estruturas e das práticas;

- o Sociocognotivismo organizacional parte do pressuposto que a construção e o funcionamento das organizações emerge da ação reflexiva dos seres humanos, ou seja, nada pode ser compreendido exteriormente às interpretações e significados que os indivíduos e grupos dinamizam nos processos cognitivos de funcionamento das organizações. São os seres humanos, assim como o próprio ambiente externo que criam e dinamizam as organizações. Deste modo, a existência da organização depende do facto de haver uma coordenação mínima entre os significados e as interpretações que surgem a partir dos processos cognitivos que nelas se desenvolvem;

- o Institucionalismo remete-nos, genericamente, para a compreensão do comportamento humano que é definido por padrões culturais e institucionais da sociedade;

- Por último, a Nova Economia Institucional valoriza a análise dos custos de transação das organizações em detrimento da análise microeconómica centrada na eficiência e racionalidade da produção. A organização é impelida pelas falhas de mercado em relação à incerteza, aliadas à racionalidade limitada dos seres humanos no processamento da informação e ao oportunismo dos indivíduos no processo de troca, a institucionalizar um conjunto de estruturas de governação visando a minimização de custos de transação, por forma a se conseguirem substituir ao mercado e ao Estado no processo de troca de bens e de serviços.

No século XXI esta Nova Economia diferencia-se da velha economia pelo conhecimento, pela digitalização, pela virtualização, pela molecularização, pela integração e/ou redes interligadas, pela desintermediação, pela convergência, pela inovação, pela produção; pelo consumo, pelo imediatismo, pela globalização e pela discordância. Tudo isto ocorre em plena Era da Informação.

A mudança que ocorre neste mundo global, faz-se a uma velocidade estonteante e as organizações têm feito várias tentativas para acompanhá-la ou, pelo menos, para não ficar muito longe dela. Este processo não se tem revestido de facilidades, pelo que no final da era neoclássica, apareceram diversas técnicas de intervenção e abordagens inovadoras de mudança organizacional. Algumas delas vindas da experiência japonesa que foram implementadas de forma lenta, como a melhoria contínua e a qualidade total, outras pedagógicas e baseadas no mercado, como o benchmarking e outras rápidas e revolucionárias como reação tipicamente americana, como a reengenharia. São igualmente implementadas nas organizações as equipas de alto desempenho, visando a participação das pessoas para encontrarem respostas rápidas às mudanças no ambiente de negócios e que permitam atender às crescentes solicitações dos clientes.

Nesta primeira década deste século, devido ao facto de o conhecimento ter ficado na dianteira de todos os restantes recursos organizacionais e uma vez que todos eles passaram a depender do conhecimento, têm as organizações que passar, também, a gerir o capital intelectual, baseado no conhecimento. Tiveram que se adaptar a esta mudança, na era da informação, para ter acesso de forma célere à mesma e ao conhecimento, passando a competir, também por estes recursos materiais, como também pelos recursos humanos mais qualificados e detentores de conhecimentos inovadores que num mundo global como é o nosso mundo atual, que fazem toda a diferença. Deste modo, como o conhecimento não pode ficar ao sabor do acaso, surgem as organizações de aprendizagem que implementam processos de qualificação contínua para todos os membros da organização, sem que tal ocorra, apenas em algumas semanas por ano. Neste âmbito, as organizações bem-sucedidas do século XXI estão-se a transformar em verdadeiros centros de aprendizagem. Todo este processo requer uma estratégia organizacional bem formulada, que pode ser apresentada num padrão de comportamento, numa posição desejada ou numa perspetiva de futuro, de acordo com a orientação da escola empreendedora, da escola de aprendizagem ou da escola de configuração.

Neste século, as organizações passaram a se importar com a ética e a responsabilidade, em que muitas possuem um código interno de ética como, por exemplo, uma declaração formal para orientar e guiar o comportamento de seus parceiros. Passaram, ainda, a ter responsabilidades e preocupações sociais, a par da orientação para os negócios ou para outras atividades, que são a razão de ser da sua existência. Neste processo, as organizações adotaram políticas e assumiram decisões e ações que beneficiam a sociedade. É uma das formas de contribuírem para o bem-estar da sociedade à medida que procuram atingir os seus próprios interesses. Portanto, qualquer organização não se pode limitar a usar os recursos que a sociedade lhes coloca à sua disposição, mas antes deve retribuir e contribuir para o desenvolvimento da sociedade.

De uma forma resumida, os paradigmas das novas organizações, tanto daquelas que contribuíram para o modelo do século XX, como para protótipo do século XXI, encontram-se plasmados no quadro 1.

 

                                     Quadro 1 - Os paradigmas das novas organizações

Modelo do Século XX

 

Aspetos

 

Protótipo do Século XXI

 

 

 

 

 

Divisão de trabalho e cadeia escalar de hierarquia

 

Organização

 

Rede de parcerias com valor agregado

Desenvolver a maneira atual de fazer negócios

 

Missão

 

Criar mudanças com valor agregado

Domésticos ou regionais

 

Mercados

 

Globais

Custo

 

Vantagem competitiva

 

Tempo

Ferramenta para desenvolver a mente

 

Tecnologia

 

Ferramenta para desenvolver colaboração

Cargos funcionais e separados

 

Processo de trabalho

 

Equipes interfuncionais de trabalho

Homogénea e padronizada

 

Força de trabalho

 

Heterogénea e diversificada

Autocrática

 

Liderança

 

Inspiradora e renovadora

 

 

Julgamos que qualquer que seja a perspetiva de análise ou a teoria organizacional que se adote como referência para se estudar uma organização, ela terá sempre como base os seguintes elementos fundamentais que a constituem:

• estrutura - que representa a ordenação, relativamente estável das partes de um todo ou ainda o conjunto ordenado de elementos ou partes de um sistema inter-relacionados;

• tecnologia - como o conjunto de processos e recursos utilizados pela organização visando alcançar os seus objetivos;

• pessoas - as que direta ou indiretamente se relacionam com a organização;

• ambiente - como já atrás referimos, o meio ambiente da organização, isto é, tudo o envolve externamente a organização, como o meio em que ela está contida.

• objetivos - que são entendidos como um guia para as decisões e que orientam os acontecimentos, as atividades e os processos até um determinado fim.

Outra perspetiva das organizações do século XXI é proposta por diversos autores e é concetualizada por uma descrição que integra diferentes nomes, como: participativa, achatada, lateral, horizontal, aprendiz, rede, sem fronteiras, celular, modular, virtual e flexível.

Apesar de nomes distintos estas expressões traduzem muitas ideias em comum, designadamente:

• Hierarquias mais achatadas, onde as estruturas constituídas por relações formais e verticais são substituídas por patamares de equipas transfuncionais integradas;

• Categorias definidas de forma abrangente, flexíveis, dinâmicas e sobrepostas, em substituição das áreas funcionais com fronteiras rigidamente definidas;

• Gabinetes e locais de trabalho definidos de modo que os trabalhadores possam gerar, processar e comunicar informação (em casa, no escritório de um cliente, em viagem) mais do que pela localização de escritórios ou fábricas;

• Relações de trabalho definidas mais pelas necessidades de interação e interdependência funcional do que pelas fronteiras da organização;

• Infraestruturas de informação flexíveis, reconfiguráveis, formadas por redes interligadas e matrizes de informação e bases de dados integradas.

A estas ideias podemos acrescentar o facto das organizações no século XXI necessitarem de mais especialização, tecnologia de ponta, escritórios virtuais e colaboradores qualificados, dinâmicos, assertivos e eficientes. Além destes aspetos, julgamos ainda que as organizações atuais esperam determinadas competências, capacidades, conhecimentos e caraterísticas dos trabalhadores, tais como saber relacionar-se, a adesão aos valores da empresa, a capacidade de ariscar e de se responsabilizar pelos resultados, a capacidade de empreendedorismo, a aprendizagem permanente, o elevado nível de escolaridade, o conhecimento de algumas línguas nacionais, a flexibilidade e a polivalência. Parece-nos, igualmente, que as organizações do século XXI, além de considerarem as necessidades do indivíduo e as suas motivações, também se interessam pela sua formação, pelo seu dinamismo, pela sua liderança e pela sua capacidade de criar valor. Todavia, também supomos que, por vezes, veem o indivíduo como um número, não sendo tidos em conta como pessoas, com sentimentos, dúvidas, conhecimentos e capacidades, mas como algo que, no momento, ajuda a organização a atingir os objetivos que definiu à partida.

Já nesta década de 20 do século XXI, o desenho da organização é diferente, comporta menos departamentos, menos pessoal e mais tecnologia em que se passou a utilizar com maior frequência a internet, o e-mail, o WhatsApp, o computador fixo e portátil, o tablet, o telefone fixo, o telemóvel, o smartphone, o iPad, o moodle, a Dropbox, o Google Drive, assim como outras novas TIC. As organizações passaram a reorganizar as atividades profissionais com a adoção de trabalho remoto e o uso de meios tecnológicos e digitais, a alterar a realização das reuniões presencias optando pela sua concretização à distância, através da utilização de plataformas eletrónicas como o Teams da Microsoft, o Skype da Microsoft, o Meet da Google, o Zoom, entre outras. 

Nesta situação, qualquer organização está preparada para funcionar e dar resposta às múltiplas solicitações, mudanças imprevistas e às crises que possam surgir como aquela de Covid-19 que vivemos, em que as organizações conseguiram organizar-se e funcionar de modos distintos, e através do teletrabalho (trabalho remoto ou à distância), de entregas ao domicílio ou por via da utilização das novas tecnologias da informação e comunicação já citadas conseguiram satisfazer os seus clientes. Por exemplo, deste modo, procederam os serviços da administração pública portuguesa que passaram a atender o público através de teletrabalho e também mediante marcações prévias feitas pelos utentes por intermédio dos canais digitais disponibilizados pelo Estado Português. Deste modo, para os serviços públicos portugueses continuarem a funcionar e a atender o público foi adotada maioritariamente a via eletrónica.

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