04/08/2022

Teorias Organizacionais - Teoria Z (1981)

Jorge Barros

Pós-graduado e Mestre em Administração e Gestão Escolar, Doutor em Administração e Gestão Educativa e Escolar, Professor no 2.º Ciclo do Ensino Básico no Agrupamento de Escolas Dra. Laura Ayres (ESLA), Quarteira

 

Esta teoria nasce do confronto entre a gestão das empresas japonesas e norte americanas, em que o seu autor William Ouchi procura descobrir quais os traços da gestão japonesa que podem sobreviver numa cultura ocidental. O estudo que irá dar origem a esta teoria é realizado em 1981 por Ouchi através da observação de empresas dos vários tipos e de entrevistas feitas a trabalhadores e quadros de diversas empresas, tendo o autor dado particular atenção a quatro delas: a General Motors, a Hewlett-Packard, a Rockwell International e a Intel. Este autor baseia a sua teoria no pressuposto de que trabalhadores felizes e implicados são a chave de uma produtividade acrescida.

Ouchi estuda a organização das empresas americanas (que apelida de tipo A) e das empresas japonesas (que intitula de empresas de tipo B) e procura os traços da gestão que são transferíveis para empresas que funcionam num ambiente cultural diferente. A todas estas empresas, que são capazes de incorporar estes traços, desenvolvendo-se no mundo ocidental, Ouchi apelida-as de tipo Z e carateriza-as do seguinte modo:

 

• Têm o emprego é de longa duração;

• O processo de avaliação e de promoção do pessoal é bastante lento;

• As carreiras são caraterizadas por uma certa errância nos diferentes serviços que permitem aos trabalhadores um conhecimento mais aprofundado da empresa;

• Existe circulação da informação;

• É dada uma importância crucial ao desenvolvimento de uma filosofia ou cultura da empresa;

• As decisões são tomadas através de processos participativos.

 

Ouchi afirma que as ideias fundamentais do Japão em matéria de organização poderiam virtualmente servir as sociedades americanas. Aplicadas de uma certa maneira, estas técnicas são mais do que úteis, são cruciais para as nossas esperanças de recuperação económica. É a estes métodos e a este estilo de gestão que este autor se refere quando fala da teoria Z.

As ideias da Teoria Z iniciaram-se onde parou a Teoria Y de McGregor. Para isso, em 1981, Ouchi propôs que os gerentes americanos aprendessem a criar alguma qualidade na mesma linha do clã industrial, que vinha sendo mais comum nas organizações japonesas. Atendendo à história da industrialização japonesa, as empresas passaram a oferecer um tratamento paternalista aos empregados para suplantar os padrões sociais do feudalismo. Desta forma, o empregado e a organização estavam mais interrelacionados que nas organizações ocidentais, onde o sistema de fábrica foi desenvolvido, apoiando-se em baixos salários diários, pagos de acordo com os dias trabalhados e em que existia pouco bem-estar organizacional. Assim, a organização japonesa inicia-se com uma diferença cultural ou imperativa, que induz as empresas a desenvolverem uma filosofia de valores que lhes forneçam uma base moral que legitime a sua autoridade e dê aos trabalhadores uma base de respeito e aceitação da autoridade. A empresa e os seus empregados tornam-se mais parecidos com um clã. Nesta situação, os valores da empresa traduzem-se em incentivos e práticas, tais como: a duração do emprego; a avaliação e a promoção; a implementação das carreiras não especializadas; o mecanismo de controlo implícito; a decisão e a responsabilidade coletiva; o interesse integral. Para Ouchi, estas condições favorecem a intimidade, o envolvimento, a cooperação e a solidez entre as pessoas no trabalho e em troca, geram a confiança entre os funcionários. O fluxo continua ainda na satisfação do empregado e no senso de autonomia, pelo que este autor defendeu que através destes pressupostos, a Teoria Z criava as condições que levavam a uma maior produtividade. Mas o autor não se fica por aqui e entende que uma vez que faltam às organizações americanas o exemplo japonês do imperativo cultural, é necessário tomar decisões gerenciais para criar uma filosofia corporativa que formará um clã industrial. Para isso, os americanos podem observar as atividades do clã industrial no contexto japonês e aplicar seletivamente o que se assemelha em valor ao seu próprio contexto cultural, o que não tem acontecido porque até agora os gerentes americanos têm considerado o que a tecnologia faz para aumentar a produtividade. O que a Teoria Z enfatiza é que, ao invés disso, haja um redimensionamento da atenção para as relações humanas no mundo empresarial.

Desta forma, entendia Ouchi que o modelo de organização japonesa é diferente em muitos aspetos do americano, como acabamos em parte de descrever, devido às caraterísticas culturais e em particular quando se comparam as mesmas, como se pode constatar por intermédio da consulta do quadro 1.

 

                                         Quadro 1 - Comparação da cultura japonesa e americana

                           Organização

Características

Japonesa

Americana

Emprego

Para toda a vida

Por curtos períodos de tempo

Promoção

Lenta

Rápida

Carreira

Não especializada

Especializada

Controlo

Mecanismos implícitos

Mecanismos explícitos

Decisão

Colectiva

Individual

Responsabilidade

Colectiva

Individual

Preocupação

Baseada no todo

Baseada no segmento ou parte

 

 

Atendendo aos elementos patentes no quadro 1, constatamos que no Japão o processo de tomada de decisão é participativo e consensual, uma vez que toda a equipa é consultada com o propósito de se chegar a um consenso. Esta situação resulta de uma longa tradição e envolvimento dos membros da organização na sua vida, ao contrário do que sucede numa empresa ou em qualquer outra organização americana. Ainda de forma diferente do que se passa nas organizações americanas, no Japão, o emprego é vitalício, existe estabilidade no emprego e a organização funciona como uma comunidade humana em estreita vinculação e participação através do trabalho em equipa. Assim, a produtividade é uma questão de organização social: a maior produtividade não virá através de um trabalho mais árduo, mas de uma visão cooperativa associada à confiança

Não obstante os contributos prestados ao estudo das organizações e da administração, a Teoria Z foi criticada em determinados aspetos. De entre os mesmos podemos salientar que as empresas japonesas não mostraram consistentemente as condições invocadas por Ouchi como representativas dos clãs industriais.

Outra crítica sugere que nas empresas japonesas os gerentes podem ser mais autocráticos, as organizações mais burocráticas, as carreiras mais especializadas, o emprego menos estável para muitos, os empregados menos satisfeitos do que Ouchi acreditava inicialmente quando realizou o seu estudo nas empresas japonesas por comparação com as empresas americanas.

Por último, também não está demonstrado que a satisfação do empregado ou o sentimento de pertencer a um grupo ou empresa resulte no aumento da produtividade, nem que as organizações do tipo Z sejam melhor sucedidas do que as restantes.

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