03/08/2022

Teorias Organizacionais - Teoria Matemática da Administração (a partir da década de 1940)

Jorge Barros

Pós-graduado e Mestre em Administração e Gestão Escolar, Doutor em Administração e Gestão Educativa e Escolar, Professor no 2.º Ciclo do Ensino Básico no Agrupamento de Escolas Dra. Laura Ayres (ESLA), Quarteira

 

A Teoria Matemática surgiu com a utilização da Pesquisa Operacional (PO) no decorrer da Segunda Guerra Mundial, uma vez que o sucesso da utilização do método científico no campo da estratégia militar fez com que a PO fosse usada em organizações públicas e privadas a partir de 1945.

Para o seu surgimento também contribuiu o trabalho clássico sobre a Teoria dos Jogos de Neumann e Morgenstern no final da década de 40 do século, de Wald e de Savage no início da década de 50, também do século XX. Contribuiu ainda a existência de decisões programáveis, isto é, obtidas a partir do computador, o que permitiu o desenvolvimento de técnicas matemáticas mais complexas e sofisticadas, e a realização do estudo do processo decisório por Herbert Simon, então um autor behaviorista, e o surgimento da Teoria das Decisões ressaltaram a importância mais da decisão do que da ação.

A Teoria Matemática visava criar uma ciência da administração apoiada em bases lógicas e matemáticas, tendo acabado por produzir a chamada Administração de Operações focada na administração de manufatura e de serviços, preocupada, sobretudo, com as operações, os serviços, a qualidade, a estratégia das operações e a tecnologia. Esta teoria desloca a ênfase da ação para a decisão que a antecede.

A Teoria Matemática da Administração estudou a tomada de decisão sob duas perspetivas: a do processo e a do problema. Quanto à primeira, os matemáticos concentram-se nas etapas da tomada de decisão, em que inicialmente se define o problema, depois identificam-se as alternativas possíveis de soluções do problema e, por último, opta-se pela melhor alternativa de solução. No que respeita à perspetiva do problema, o tomador da decisão aplica métodos quantitativos para tornar o processo de tomada de decisão o mais racional possível, concentrando-se na definição e no equacionamento do problema a ser resolvido. Para a Teoria Matemática da Administração, todo o problema administrativo equivale a um processo de tomada de decisão, podendo esta ser programada ou não programada de acordo com as seguintes caraterísticas: 1. Decisões programadas envolvem: dados adequados; dados repetitivos; condições estatísticas; certezas; previsibilidade; e rotinas; 2. Decisões não programadas integram: dados inadequados; dados únicos; condições dinâmicas; incerteza; imprevisibilidade; e inovação.

A Teoria Matemática procurou construir modelos matemáticos capazes de simular situações reais na empresa. A criação de modelos matemáticos focaliza a resolução de problemas de tomada de decisão. Nesta teoria, o modelo, ou seja, a simplificação da realidade é usada para a simulação de situações futuras, assim como para a avaliação da probabilidade da sua ocorrência. Desta forma, consegue tratar os problemas estruturados e não estruturados. Os problemas estruturados podem ser perfeitamente definidos e englobam as decisões sob certeza, sob risco e sob incerteza. Já os problemas não estruturados não podem ser claramente definidos, uma vez que uma ou mais variáveis são desconhecidas ou pura e simplesmente porque não podem ser determinadas com algum grau de confiança.

O modelo matemático pode tratar os problemas estruturados e não estruturados com grandes vantagens porque além de conduzir a soluções seguras e qualitativas também permite respostas imediatas e em grande escala, através da utilização de computadores e equipamentos eletrónicos.

As técnicas de tomada de decisão programadas e não programadas funcionam em função dos problemas estruturados e não estruturados.

As decisões podem ser programadas ou não programadas e tomadas de acordo com técnicas tradicionais ou modernas, compreendendo esta última as técnicas heurísticas, o processamento de dados, a simulação em computador, os modelos matemáticos, a análise matemática e a PO.

Os autores da escola matemática utilizam a PO para os auxiliar a solucionar os problemas, pois esta adota o método científico, que os ajuda nessa tarefa. A metodologia da PO engloba seis fases: formular o problema; construir um modelo matemático para representar o sistema; deduzir uma solução do modelo; testar o modelo e a solução; estabelecer controlo sobre a solução; colocar a solução em funcionamento. A PO preocupa-se com as operações de toda a organização e utiliza ferramentas quantitativas que são os modelos matemáticos, sendo que as suas principais técnicas são: a Teoria dos Jogos (é a técnica de PO utilizada para a resolução de conflitos); a Teoria das Filas (é a técnica de PO que visa a otimização de arranjos em situação de aglomeração de espera onde haja restrições que bloqueiem o processo produtivo); a Teoria dos Grafos (esta baseia-se em redes e diagramas de flechas para várias finalidades, como planeamento, programação e projetos que envolvem várias operações ou etapas); a Programação Linear (é a técnica de PO que visa encontrara soluções ou encontrar objetivos que otimizem os resultados alcançados e minimizem os custos decorrentes); a Programação Dinâmica (é uma técnica de PO aplicada em problemas de alternativas económicas ou cadeias de decisões); e a Análise Estatística e o Cálculo de Probabilidades (a Análise Estatística e Cálculo de Probabilidade são técnicas de PO que utilizam métodos estatísticos para obterem o máximo de informações com o mínimo de dados disponíveis).

Outro dos contributos dos matemáticos foi a construção, a seleção e a utilização de indicadores financeiros e não financeiros, como aqueles que se mostram no quadro 1, para medir ou avaliar o desempenho organizacional ou parte dele. Estes, entre outros, podem ser indicadores departamentais, financeiros, de negócios, de avaliação do desempenho humano, de âmbito organizacional, de marketing, de produção, de desenvolvimento, de logística e de suprimentos.

 

                                     Quadro 1 - Exemplos de indicadores de desempenho

Área

Indicador de desempenho

Área

Indicador de desempenho

Organizacional

• Retorno sobre o investimento

• Margem de contribuição

• Lucratividade

Finanças

• Índice de ganho financeiro

• Índice de clientes inadimplentes

• Nível de ciclo financeiro

• Redução de custos fixos

• Redução de custos variáveis

Marketing

• Volume de vendas

• Participação no mercado

• Nível de atendimento de pedidos

• Mix de produtos/serviços

• Satisfação dos clientes

Logística

• Pontualidade na entrega

• Nível de atendimento dos pedidos

• Custos de distribuição

• Giro do inventário

Produção

• Produtividade

• Nível de qualidade

• Nível de refugo

• Rendimento da matéria-prima

Suprimentos

• Custos das matérias-primas

• Qualidade das matérias-primas

Desenvolvimento

• Lançamento de novos produtos/serviços

• Inovações em processos

Recursos Humanos

• Índice de absentismo

• Índice de acidentes no trabalho

• Nível de satisfação dos empregados

 

 

            Através da utilização destes indicadores, pretendiam os matemáticos aferir a organização, isto é, avaliar a organização, uma vez que os mesmos permitem mostrar o que a organização está a fazer e quais os resultados das suas ações. Nas organizações, além da avaliação é utilizada a medição e o controlo, especificamente sobre os resultados, sobre o desempenho e sobre os fatores críticos de sucesso, ou seja, sobre os aspetos fundamentais para que a organização seja bem-sucedida nos seus resultados ou no seu desempenho. Este processo funciona como um painel de controlo para que a organização ou cada departamento da mesma, possa avaliar e conhecer o seu desempenho. Esta avaliação ou sistema de medição pode assumir e ser apresentado de diferentes formas, tais como relatórios periódicos, gráficos e sistema de informação online, entre outros. Este procedimento permite à organização conhecer-se melhor e com maior profundidade e, também, dar-se a conhecer melhor aos outros, às outras organizações e ao mercado. Possibilita ainda que o desempenho seja analisado e as ações de melhoria ou de correção sejam implementadas quando necessárias. A abordagem matemática fundamenta da forma que acabamos de apresentar a necessidade de medir e avaliar quantitativa e objetivamente as ações organizacionais. Para a sua concretização socorre-se, igualmente, do Six-Sigma (trata-se de uma medida de variação estatística. É utilizada no processo organizacional para determinar a frequência com que a operação ou a transação utiliza mais do que os recursos mínimos para satisfazer o cliente) e do Balanced Scorecard (que é um método de administração que se foca no equilíbrio organizacional e que se baseia nas finanças, nos clientes, nos processos internos, na aprendizagem e no crescimento organizacional. Dito de outra forma, o Balanced Scorecard é um conjunto balanceado e equilibrado de indicadores e mensuradores para proporcionar a gestão estratégica das organizações).

Apesar da Teoria Matemática ser uma abordagem recente no campo da administração e dos contributos prestados a esta, também sofreu críticas apoiadas nas suas limitações, entre as quais se salienta o facto de prestar aplicações a projetos ou operações que envolvem grupos de pessoas ou partes da organização, mas que não apresenta condições de aplicação global envolvendo toda a organização como um conjunto. Outra limitação prende-se com o facto da Teoria Matemática se basear na total quantificação dos problemas administrativos, sabendo-se que do ponto de vista da organização, a maior parte dos conceitos, situações ou problemas nem sempre apresenta condições de redutibilidade a expressões numéricas ou quantitativas, de onde vem a impossibilidade de aplicação extensiva de PO. Por último, esta teoria oferece poucas técnicas de aplicação direcionadas aos níveis mais elevados da hierarquia empresarial, em contraste com as que disponibiliza no nível operacional situado na esfera da execução.

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