03/08/2022

Teorias Organizacionais - Teoria Estruturalista da Administração (década de 1950)

Jorge Barros

Pós-graduado e Mestre em Administração e Gestão Escolar, Doutor em Administração e Gestão Educativa e Escolar, Professor no 2.º Ciclo do Ensino Básico no Agrupamento de Escolas Dra. Laura Ayres (ESLA), Quarteira

 

A Teoria Estruturalista da Administração surge por volta da década de 1950 e ficou a dever-se aos autores que tentaram conciliar as teses propostas pela Teoria Clássica e pela Teoria das Relações Humanas. Esta teoria desenvolveu-se a partir dos estudos sobre as limitações e rigidez do modelo burocrático, uma vez que era considerado um modelo de sistema fechado, altamente mecanístico ou mecanicista e fundado numa teoria - a Teoria da Máquina, segundo a qual a organização é concebida como um arranjo estático de peças cujo funcionamento se encontra previamente previsto. Partindo do modelo burocrático, os estruturalistas introduziram o conceito de sistema aberto no estudo das organizações e tentaram compatibilizar as contribuições clássica e humanística da Teoria da Administração, uma abordagem múltipla e compreensiva na análise das organizações, visualizando-as como complexos de estruturas formais e informais. Desta forma, são iniciados estudos tendo como pressuposto que as organizações são sistemas abertos em constante interação com o seu contexto externo, designadamente sobre a análise inter-organizacional e outras organizações do ambiente. Mediante os mesmos, foi possível verificar que a inovação e a mudança traziam conflitos dentro da empresa. Contudo, apurou-se que estes conflitos eram sinónimo de ideias e atitudes diferentes que, por vezes, se chocam e se antagonizam, envolvendo aspetos positivos e negativos, cuja resolução contribui para o desenvolvimento da empresa ou da organização. Verificou-se ainda que nenhuma organização é autónoma ou autossuficiente, antes pelo contrário, todas dependem umas das outras.

Esta teoria além de procurar inter-relacionar as organizações com o seu ambiente externo, que é a sociedade, focaliza-se no homem organizacional, ou seja, no homem que participa simultaneamente em várias organizações, devendo para tal ser detentor de determinadas caraterísticas, como a flexibilidade, a tolerância às frustrações, a capacidade de adiar as recompensas e o desejo de realização.

Os autores estruturalistas fazem a análise das organizações dentro de uma abordagem múltipla, nomeadamente nos seguintes aspetos: tanto a organização formal como a informal devem ser compreendidas, assim como as recompensas salariais, materiais, sociais e simbólicas devem ser consideradas no comportamento das pessoas; todos os diferentes tipos de organização devem ser considerados; os diferentes níveis hierárquicos devem ser abrangidos, bem como as relações externas da organização com outras organizações.

A fim de facilitar a análise comparativa das organizações, os estruturalistas desenvolvem tipologias de organização para as classificar mediante determinadas caraterísticas. Por exemplo, na tipologia proposta por Etzioni, em meados dos anos 80 do século XX, as organizações têm centros de poder, está prevista a substituição do pessoal e verifica-se a existência da divisão do trabalho e a atribuição de poder e de responsabilidades. Na perspetiva deste autor, o controlo formal nas organizações não é adequado, pois não se pode confiar nas tarefas executadas pelas pessoas sem que existam meios de controlo físico, material e normativo, que mediante a atribuição de recompensas ou sansões garantam obediência às suas normas, regulamentos e ordens. Para Etzioni, estes meios de controlo provocam um padrão de obediência em função do tipo de interesse em obedecer a esse controlo, nomeadamente alienatório, calculista e moral. Com base no uso e significado desta obediência, o mesmo autor classifica as organizações da seguinte forma: coercivas, onde o poder é imposto quer pela força física, quer por controlos baseados em prémios ou punições; utilitárias, em que o poder se baseia no controlo de incentivos económicos; normativas, baseando-se o poder no consenso sobre os objetivos e métodos da organização. A tipologia de Etzioni enfatiza os sistemas psicossociais das organizações. A sua desvantagem é dar pouca consideração à estrutura, tecnologia utilizada e ao ambiente externo. Trata-se de uma tipologia simples, unidimensional e baseada exclusivamente nos tipos de controlo.

Na tipologia de Blau e Scott proposta no final da década de 70 do século XX, são consideradas as comunidades onde se inserem as organizações, as relações entre os membros destas, por um lado, e o público, os clientes e as instituições externas, por outro lado. De acordo com estes autores, as organizações existem para proporcionar benefícios ou resultados para a comunidade, pelo que a tipologia que propõem baseia-se no beneficiário principal (princípio do «cui bono»), ou seja, quem beneficia da organização, e que compreende, são: os próprios membros da organização; os proprietários, dirigentes ou acionistas da organização; os clientes da organização; e o público em geral. No quadro destas categorias de beneficiário principal que a organização visa atender, Blau e Scott dizem existir quatro tipos de organização: associações de benefícios mútuos, em que o beneficiário principal são os próprios membros da organização; organizações de interesses comerciais, em que os proprietários ou acionistas são os principais beneficiários da organização; organizações de serviços, em que um grupo de clientes é o beneficiário principal; e organizações de Estado, em que o beneficiário é o público em geral.

A tipologia de Blau e Scott tem a vantagem de enfatizar a força do poder e da influência do beneficiário sobre as organizações a ponto de condicionar a sua estrutura e objetivos. Trata-se também de uma tipologia simples e unidimensional, porque não fornece informações a respeito das diferentes tecnologias, estruturas ou sistemas psicossociais e administrativos que existem nas organizações.

A Teoria Estruturalista trouxe para a teoria administrativa uma considerável contribuição, de que podemos salientar os seguintes campos: no contexto de uma análise organizacional mais ampla, inaugura os estudos a respeito do ambiente, consideradas as organizações como sistemas abertos em constante interação com o seu contexto externo; a convergência de várias abordagens divergentes, como seja da Teoria Clássica, da Teoria das Relações Humanas e da Teoria da Burocracia; e a associação do seu nome à denominada «teoria de crise», pois tem mais a dizer sobre os problemas e patologias das organizações complexas do que com a sua normalidade. Todavia, apesar destes contributos, as tipologias das organizações oferecidas pelos estruturalistas são criticadas pelas suas limitações quanto à aplicação prática e pelo facto de se basearem numa única variável ou aspeto básico.

Por último, podemos acrescentar que a Teoria Estruturalista, com os seus aspetos positivos e as suas restrições e limitações, se trata de uma teoria de transição em direção à Teoria de Sistemas.

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×