02/08/2022

Teorias Organizacionais - Teoria da Contingência (1967)

Jorge Barros

Pós-graduado e Mestre em Administração e Gestão Escolar, Doutor em Administração e Gestão Educativa e Escolar, Professor no 2.º Ciclo do Ensino Básico no Agrupamento de Escolas Dra. Laura Ayres (ESLA), Quarteira

 

Esta teoria parte do pressuposto que as organizações são sistemas abertos e de que as variáveis organizacionais apresentam um complexo relacionamento entre si e com o ambiente.

A Teoria da Contingência recebe contributos de todas as teorias que a antecederam, designadamente das Teorias da Administração Científica, das Relações Humanas, da Burocracia, Estruturalista, Neoclássica, Comportamental/Behaviorista e da Teoria Geral dos Sistemas.

A pesquisa realizada por Lawrence e Lorsch, em 1989, considerou as empresas como sistemas sociais e examinou as relações complexas entre a estrutura da organização, os ambientes económico e tecnológico da empresa, o comportamento dos dirigentes na tomada de decisão e o desempenho da organização. Este estudo procurou responder à questão: Que tipo de organização interna deverá ser adotado para responder adequadamente às exigências das envolventes geral e específica? O seu estudo permitiu-lhes concluir que a eficácia de uma organização depende da coerência existente nos dados internos da organização (estrutura e objetivos), das variáveis do ambiente e dos objetivos dos indivíduos. Para a construção da sua teoria, Lawrence e Lorsch compararam os resultados obtidos com os que decorreram de estudos realizados por outros investigadores. A propósito destes estudos, todas as informações recolhidas mostram que não existe um melhor caminho para gerir as organizações. Desta forma, Lawrence e Lorsch com base em todos esses estudos concluem que são necessárias formas diferentes de organização para fazer face eficazmente a tarefas e condições ambientais variáveis.

Neste âmbito e dado que a Teoria da Contingência trata sobre a ideia de que o ambiente impõe desafios externos à organização, enquanto a tecnologia impõe desafios internos, a organização deve ter estruturas (interna e externa) adequadas a fim de enfrentar as condições variáveis ou adversas nestes dois aspetos. Assim, surge a divisão interna da organização, segundo três níveis: o «nível institucional - habilidade estratégica» como sendo aquele que interage a nível estratégico com o ambiente. É ele o responsável direto para fazer leituras dos sinais ambientais externos à organização, interpretá-los e gerar planeamentos tendo-os em atenção; o «nível intermediário ou mediador - habilidade tática» onde se assume a função de adequar os dados do nível institucional à realidade da organização, transferindo ao próximo nível, o operacional, a responsabilidade direta pela implementação das ideias. Por um lado, faz contacto com a situação de extrema instabilidade - quando interage com o nível institucional e, por outro, com protocolos sobretudo rígidos e previsíveis quando faz interface com o nível operacional; o «nível operacional - habilidade técnica» que é responsável pela execução quotidiana das tarefas e operações organizacionais e que acontece em ambiente de baixa instabilidade devida às contingências ambientais, mas faz face, em contraponto, à grande mobilidade tecnológica.

Lawrence e Lorsch defendem ainda que a eficácia de uma organização depende da relação entre si e o ambiente e a tecnologia. Para tal, consideram o ambiente como tudo o que está fora dela e a condiciona e a tecnologia como os conhecimentos, equipamentos e técnicas utilizadas pela organização para prestar determinados serviços ou produzir certos resultados.

A Teoria da Contingência reforça a ligação entre os processos organizacionais e as caraterísticas das situações, uma vez que recorre à adaptação da estrutura organizacional às diferentes contingências.

Salienta-se também o facto de que, para Lawrence e Lorsch, as organizações viáveis serão aquelas que dominarem a ciência e a arte da organização para fazer crescer os seus níveis de diferenciação e integração. Na diferenciação, as organizações, como por exemplo, as empresas, ao tratarem com os seus ambientes externos, vão-se segmentando em unidades, cada qual desempenhando uma tarefa especializada para um contexto ambiental também especializado. Cada subsistema ou departamento tende a reagir unicamente àquela parte do ambiente que é relevante para a sua própria tarefa especializada. Já a integração refere-se ao processo oposto, ou seja, ao processo gerado por pressões vindas do ambiente global da organização, no sentido de ser alcançada unidade de esforços e de coordenação entre os vários departamentos (ou subsistemas), com a finalidade de se atingirem os objetivos estabelecidos pela organização. Desta forma, e dito de outro modo, podemos salientar dois aspetos importantes desta teoria. Em primeiro lugar, a afirmação de que, à medida que uma organização cresce, se impõe a necessidade de diferenciação e de integração dos seus elementos e em segundo lugar, a afirmação clara, de que a organização terá de se adaptar à envolvente. Neste sentido, pode afirmar-se que há uma relação direta entre a influência de fatores da envolvente e as mudanças de estrutura, ou seja, as mudanças na dimensão da organização ou na diversificação dos produtos ou serviços prestados, provocam um efeito imediato e direto na mudança da estrutura.

Nesta teoria, Lawrence e Lorsch perspetivam as organizações que serão viáveis no futuro e concretizam dizendo que serão aquelas que: dominarão razoavelmente a capacidade de organizar o trabalho humano; aprenderão a trabalhar no mundo inteiro e a coordenar as suas atividades; comprometer-se-ão em tarefas que é atualmente impossível realizar; servirão de mediador ou de tampão entre o indivíduo e o impacto doloroso das mudanças tecnológicas, facultando-lhes possibilidades de formação contínua e de escolhas variadas de carreiras; e que a diferenciação implicará a persistência de conflitos mas estes serão menos personalizados.

O pensamento clássico de organização, vigente até aos anos sessenta do século passado, afirmava a validade do princípio universal da existência de uma melhor maneira de organizar, isto é, que todas as organizações deviam possuir uma estrutura idêntica. Todavia, com o aparecimento da Teoria da Contingência passou a afirmar-se que a eficácia da estrutura depende da situação da organização, o que implica que a estrutura que uma organização deve adotar para ser eficaz depende da contingência de certos fatores. Dito de outra forma, com a Teoria da Contingência muda o foco da gestão de dentro para fora da organização; a ênfase no ambiente e nas necessidades do ambiente sobre a dinâmica das organizações; não existe a melhor maneira de se organizar, tudo depende das caraterísticas ambientais significativas para a organização; e não há nada de absoluto nas organizações ou na teoria administrativa. Tudo é relativo.

A abordagem contingencial explica que existe uma relação funcional entre as condições do ambiente e as técnicas administrativas apropriadas para o alcance eficaz dos objetivos da organização. A sua visão está dirigida para desenhos organizacionais e sistemas gerenciais adequados para cada situação específica. Nesta situação, o desenho organizacional é afetado pela tecnologia, daí, a Teoria da Contingência mostrar que as caraterísticas da organização são variáveis dependentes e contingentes em relação ao ambiente e à tecnologia usada pela organização. O conhecimento do ambiente passou a ser vital para a compreensão dos mecanismos organizacionais. Esta teoria parte para novos modelos organizacionais mais flexíveis e orgânicos, como a estrutura matricial, a estrutura em redes e a estrutura em equipas. Também enfatiza o modelo do homem complexo e das abordagens contingenciais sobre a motivação e a liderança. Numa apreciação crítica, verifica-se que a Teoria da Contingência é eclética e interativa, mas ao mesmo tempo relativista e situacional, por isso não há uma única melhor maneira (the best way) de se organizar. Tudo depende (it depends) das caraterísticas ambientais relevantes para a organização.

Trata-se de uma teoria com uma abordagem extremamente atual, principalmente por se afirmar de que não há verdades absolutas e que é preciso estar atento constantemente ao ambiente para detetar e até prever os seus movimentos e mudanças.

Acabamos de perceber os contributos prestados por esta teoria, todavia, são-lhe direcionadas algumas críticas, designadamente no que diz respeito ao facto da mesma ser eclética e interativa, mas ao mesmo tempo relativista e situacional. Em alguns aspetos parece que a Teoria da contingência é muito mais uma maneira relativa de encarar o mundo do que propriamente uma teoria administrativa.

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