30/07/2022

Teorias organizacionais - Teoria Clássica da Administração (1916)

Jorge Barros

Pós-graduado e Mestre em Administração e Gestão Escolar, Doutor em Administração e Gestão Educativa e Escolar, Professor no 2.º Ciclo do Ensino Básico no Agrupamento de Escolas Dra. Laura Ayres (ESLA), Quarteira

 

Esta teoria surgiu da necessidade de encontrar as linhas mestras para administrar as fábricas. As origens remontam às consequências da revolução industrial, que se iniciou em Inglaterra e se expandiu rapidamente pelo mundo. Alguns fatores podem ter estimulado a abordagem clássica da administração, salientando-se entre o crescimento desorganizado das empresas, com a sua complexidade administrativa, exigindo uma abordagem mais científica para substituir a improvisação e o empirismo então dominantes. Com empresas de grandes dimensões começam a ser experimentadas dificuldades na sua administração, surgindo deste modo estudos sobre as mesmas, visando ultrapassar tal situação na tentativa de reduzir a improvisação que na altura ainda vigorava na forma de conduzir estas organizações.

Fayol em meados da década de 10 do século XX e que viveu entre 1841 e 1925, é geralmente considerado como o fundador da escola clássica da administração, não por ter sido o primeiro a investigar o comportamento dos administradores, mas por ter sido o primeiro a sistematizá-lo.

Todavia, devemos considerar esta teoria, em termos comparativos, com a da administração científica, como forma de melhor se perceberem os pontos comuns e as suas diferenças entre ambas. Neste sentido, se a Teoria da Administração Científica se caraterizava pela ênfase na tarefa executada pelo operário, a Teoria Clássica da Administração carateriza-se pela ênfase na estrutura que a organização deve possuir para ser eficiente. Enquanto na primeira, essa eficiência é alcançada por meio da racionalização do trabalho do operário e pelo somatório das eficiências individuais, na segunda, pelo contrário, partia-se do todo organizacional e da sua estrutura para garantir eficiência a todas as partes envolvidas, fossem elas órgãos (como seções, departamentos, entre outros) ou pessoas (como ocupantes de cargos e executores de tarefas). Em suma, o objetivo das duas teorias era o mesmo, ou seja, a busca da eficiência das organizações, contudo por intermédio de processos diferentes.

Entre essas diferenças que separam as duas teorias, podemos referir que enquanto a Teoria da Administração Científica se preocupava com a divisão do trabalho no nível do operário, fragmentando as tarefas deste, a Teoria Clássica da Administração preocupava-se com a divisão ao nível dos órgãos que compõem a organização, ou seja, com os departamentos, divisões, secções, unidades e outras.

Para a Teoria Clássica da Administração muito contribuíram os trabalhos desenvolvidos por Fayol nos níveis organizacionais de cúpula administrativa, procurando uma definição das responsabilidades em todos os níveis organizacionais. Ele provou também a aplicabilidade dos seus princípios tanto em organizações de transformação (indústria) como em áreas governamentais.

A preocupação com a estrutura da organização como um todo constituiu-se como um objeto de estudo dos impulsionadores desta teoria, fundada por Fayol, que partiu de uma abordagem sintética, global e universal da empresa para uma abordagem anatómica e estrutural que rapidamente suplantou a abordagem analítica de Taylor.

A visão de Fayol, ao contrário da visão de Taylor (trabalhador) e do olhar de Henry Ford (dono), foi a de um gerente ou diretor. Fayol foi um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento do saber administrativo contemporâneo, sendo a abordagem conhecida como «Gestão Administrativa» ou «Processo Administrativo», o que se constituiu na altura como uma das principais contribuições da teoria por ele criada e divulgada. Segundo Fayol, a administração constitui-se como uma função distinta das outras funções como, por exemplo, das finanças, da produção ou até da distribuição, assim como o trabalho do gerente é diferenciado daquele a que se reportam as operações técnicas. Através da identificação deste traço de especificidade, Fayol deu a sua contribuição para que se tornasse mais nítido o papel dos executivos.

Fayol estava principalmente preocupado com a função administrativa da direção, pois sentia que a habilidade administrativa era a mais importante que se requeria da direção da companhia. Ele acreditava que com previsão científica e métodos adequados de administração, os resultados satisfatórios eram inevitáveis. Em sua fé nos métodos científicos, Fayol era parecido com o seu contemporâneo Taylor. Entretanto, enquanto este se preocupava basicamente com funções organizacionais, Fayol interessava-se pela organização total.

A primeira abordagem a enfatizar a estrutura organizacional nasceu com Henry Fayol que inaugurou a abordagem anatómica e estrutural da empresa. Este autor defendeu a síntese dos diferentes órgãos que compõem a estrutura organizacional, as suas relações e as suas funções dentro do todo, tendo concluído que toda a empresa apresenta seis funções, que podem ser descritas da seguinte forma: 1. Funções técnicas: relacionadas com a produção de bens ou de serviços da empresa; 2. Funções comerciais: relacionadas com a compra, venda e permutação; 3. Funções financeiras: relacionadas com a procura e gerência de capitais; 4. Funções de segurança: relacionadas com a proteção e preservação dos bens e das pessoas; 5. Funções contábeis: relacionadas com controlos, inventários, registos, balanços, custos e estatísticas; e 6. Funções administrativas: relacionadas com a integração de cúpula das outras cinco funções. As funções administrativas coordenam e sincronizam as demais funções da empresa, pairando sempre acima delas.

Fayol para esclarecer a função administrativa define o ato de administrar como prever, organizar, comandar, coordenar e controlar, sendo que as funções administrativas envolvem estes cinco elementos citados, que o autor denomina como elementos da administração ou funções do administrador e que descreve do seguinte modo: 1. Prever: visualizar o futuro e traçar o programa de ação; 2. Organizar: constituir o duplo organismo material e social da empresa; 3. Comandar: dirigir e orientar o pessoal; 4. Coordenar: ligar, unir, harmonizar todos os atos e todos os esforços coletivos; 5. Controlar: verificar que tudo ocorre de acordo com as regras estabelecidas e as ordens dadas.

 Antes dos trabalhos realizados por Fayol e dos seus contributos, acreditava-se que os administradores já assim nasciam, isto é, nasciam prontos e, portanto, não era necessário serem feitos ou «fabricados» / formados. Contudo, com Fayol emerge uma nova perspetiva em que se encara a administração como uma habilidade, à semelhança de qualquer outra, que poderia ser ensinada desde que se compreendessem os seus princípios básicos. Sendo os princípios da Administração propostos por Fayol os seguintes: 1. Divisão do trabalho: os princípios de especialização do trabalho, de forma a concentrar atividades para maior eficiência; 2. Autoridade e responsabilidade: a autoridade é o direito de dar ordens e o poder para a obediência; 3. Disciplina: a disciplina é absolutamente essencial para o progresso da empresa; 4. Unidade de comando: um empregado deve receber ordens somente de um superior; 5. Unidade de direção: uma cabeça e um plano para um grupo de atividades tendo os mesmos objetivos; 6. Subordinação do interesse individual para o interesse geral: o interesse de cada empregado não deve prevalecer sobre o da organização; 7. Remuneração do pessoal: a compensação deveria ser justa e, na medida do possível, satisfatória ao indivíduo e à empresa; 8. Centralização: é essencial para a empresa e uma consequência natural do processo de organizar; 9. Rede escalar: a rede escalar é a cadeia de superiores que vai da mais alta autoridade até ao mais baixo degrau; 10. Ordem: a organização deveria providenciar um lugar para cada indivíduo; 11. Equidade: a equidade é o senso de justiça que deve prevalecer na organização; 12. Estabilidade: é necessário tempo para o empregado adaptar-se ao seu trabalho e desempenhá-lo eficientemente; 13. Iniciativa: em todos os níveis organizacionais, entusiasmo e energia são partes da iniciativa; e 14. Esprit de corps: este princípio enfatiza a necessidade de trabalho em grupo e a manutenção dos relacionamentos interpessoais.

Para Fayol, estes princípios são universais e maleáveis e adaptam-se a qualquer tempo, lugar ou circunstância.

A metáfora da organização subjacente à perspetiva da Escola Clássica, em Taylor, é o modelo de máquina. Tudo se deve assemelhar na organização à eficiência, à disciplina, ao ritmo cadenciado e rápido da máquina. O homem é visto como uma peça da engrenagem, pelo que predomina a visão do homem económico, o que significa que o homem é visto como um elemento produtivo, cuja motivação para trabalhar é exclusivamente a fuga ao esforço e o dinheiro. O homem trabalha apenas para ganhar a vida e para subsistir, mas sem qualquer gosto pelo trabalho. Já em Fayol, podemos notar a existência de uma outra metáfora de organização, a do organismo vivo ou a metáfora orgânica. Nesta forma de pensar a vida organizacional, a organização é encarada como um organismo (à semelhança de um organismo vivo) com objetivos a cumprir, os quais são prosseguidos através das funções anteriormente citadas.

A Teoria Clássica da Administração recebeu críticas na altura e, também, por todas as teorias posteriores que se preocuparam em desacreditá-la, apontando falhas, distorções e omissões. Essas críticas ficaram-se a dever a diversos aspetos, entre os quais se salientam: a abordagem simplificada da organização formal, deixando de lado a organização informal; a ausência de trabalhos experimentais para dar base científica às afirmações e princípios proferidos por esta teoria; o mecanicismo da abordagem que lhe valeu o nome de teoria da máquina; a abordagem incompleta da organização e a visualização da organização como se fosse um sistema fechado, não considerando o contexto em que a organização está implantada. Ainda no campo das críticas podemos referir que esta teoria servia mais o passado do que o presente, uma vez que na época as organizações funcionavam num ambiente relativamente estável e previsível, os princípios clássicos pareciam válidos. Hoje em dia, com ambientes organizacionais cada vez mais tumultuosos, as normas clássicas de organização parecem menos apropriadas. Por exemplo, para os teóricos clássicos era importante que os administradores mantivessem a sua autoridade formal. Mas hoje, os empregados com mais instrução aceitam menos a autoridade formal, especialmente quando usada arbitrariamente. Também saem de uma organização com mais facilidade do que os empregados do passado, quando ficam insatisfeitos com ela.

Apesar das críticas dirigidas à Teoria Clássica da Administração, o facto é que as mesmas não impediram que a ela se devam as bases da moderna teoria administrativa.

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