30/07/2022

Teorias Organizacionais - Abordagem Política (a partir da década de 1970)

Jorge Barros

Pós-graduado e Mestre em Administração e Gestão Escolar, Doutor em Administração e Gestão Educativa e Escolar, Professor no 2.º Ciclo do Ensino Básico no Agrupamento de Escolas Dra. Laura Ayres (ESLA), Quarteira

 

Esta abordagem trata do poder nas organizações e surge a partir da década de 1970, uma vez que este ganha um estatuto de cientificidade no âmbito da teoria das organizações, sobretudo com o aparecimento de diversos estudos que foram publicadas nesta altura. Neste quadro, o poder emerge como variável explicativa do funcionamento das organizações, sendo visto como um dos fatores determinantes da definição de estratégias e objetivos das empresas.

Sabendo-se que nas organizações existem muitas e diversificadas fontes e formas de poder que os seus membros podem utilizar e que o mesmo tem múltiplas manifestações comportamentais e organizacionais, podendo contribuir para estabilizar a organização, ou pelo contrário para gerar conflitos e levar à sua destruição, muitos foram os autores que procuraram estudar este fenómeno. Nos últimos quarenta anos do século XX, os estudos realizados e os trabalhos publicados sobre esta temática tentam superar as insuficiências dos paradigmas teóricos, baseados nos comportamentos racionais dos atores e no pressuposto de que existe uma adaptação das estruturas e funções ao funcionamento interno das organizações, face às contingências do ambiente externo. Conclui-se, então, que o poder não decorre somente da autoridade hierárquico-formal, mas também das estruturas e funções que se relacionam com a tomada de decisões, execução de tarefas, processamento de informações, divisão do trabalho e interações entre as organizações e o seu ambiente externo.

O poder está intimamente associado aos objetivos da organização e articula-se com os objetivos específicos dos subsistemas organizacionais. A influência do poder pode ser explicada através das cinco configurações estruturais: estrutura simples, burocracia profissional, burocracia mecanicista, estrutura divisionalizada e adhocracia, no sentido em que o poder se revela um fator comportamental inscrito nos mecanismos contingenciais de coordenação, de conceção e de funcionamento das organizações.

O poder está sempre sujeito a situações contingentes, na medida em que a ação individual e coletiva está inserida num processo de racionalidade limitada e, ainda, porque as relações sociais e a interação social, da qual o poder emerge, inscrevem-se numa zona de incerteza que condiciona os resultados dos jogos em que os atores intervêm.

Já a teoria da dependência dos recursos desenvolvida por Pfeffer e Salancik debruça-se sobre a importância do controlo do ambiente externo sobre o funcionamento de uma organização focal. Para estes autores é fundamental para a sobrevivência de uma organização focal o poder político interno, uma vez que é à mesma que compete definir as estratégias e tomar as decisões. A perspetiva da dependência dos recursos argumenta, ainda, que as organizações para sobreviverem devem possuir recursos. Esta perspetiva, aplica-se igualmente ao interior da organização, pois os recursos prestados por certos membros poderão ser mais importantes e estratégicos do que os fornecidos por outros membros.

Por último, mesta altura (década de 70 do século XX) entende que o poder tem regras para ser exercido e que o mesmo regula a ordem social e a ação política que se desenrola no seio das organizações. Deste modo, as interações e as interdependências criadas pelas estratégias dos atores, têm de ser vinculadas a regras.

A abordagem política trouxe inegáveis contributos ao estudo das organizações e na nossa ótica, parece-nos que esses contributos estão mais atuais do que nunca, uma vez que além da sociedade dos nossos dias ser identificada como uma sociedade do conhecimento, da informação e da globalidade ou globalização, reina no seio das organizações uma crescente luta pelo poder. Deste modo, julgamos que a abordagem política em torno das organizações é bastante visível e percetível para a sociedade, isto é, a luta que se trava pelo poder, pelo controlo das organizações públicas ou privadas, educativas, empresarias ou outras é notório, basta para tal estar atento, folhear um jornal, uma revista, consultar a informação disponível na internet ou pura e simplesmente ver televisão, em particular os serviços informativos. Portanto, trata-se de algo bastante atual e que faz parte do quotidiano das organizações e da civilização da terceira década do século XXI. Por vezes, esse controlo que se pretende obter nas organizações é feito a qualquer preço, o que tem ocasionado muitas situações de corrupção comprovadas.

Supomos que uma das formas conducentes a evitar tais situações passa por (re)qualificar os sistemas educativos dos diferentes países e dotar as sociedades de mais (in)formação, tendo em vista a sua dotação de conhecimentos avançados por forma a se conseguir elevar a (in)formação de todos os indivíduos. Outra das premissas que contribuirá, na nossa perspetiva, para o mesmo desiderato centra-se na criação de postos de trabalho para toda a população, com o propósito de se sentirem úteis aos outros e de auferirem retribuições mensais justas e capazes de lhes proporcionarem vidas dignas de seres humanos que são.

Quanto às limitações que apresenta e que lhe são imputadas como críticas relacionam-se com o facto de quanto mais os elementos da organização chamarem a atenção para a existência da política no seu seio, mais as pessoas são tentadas a percecionar atividade política em tudo, e motivações escondidas em todas as ações realizadas pelos outros. A segunda crítica que lhe é apontada prende-se com a possibilidade de sobrevalorizar o poder e a importância dos indivíduos, e desvalorizar as determinantes dinâmicas do sistema, para indicar o que é político e a forma como a atividade política decorre.

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