29/07/2022

Teoria Comportamental da Administração - Teoria X e a Teoria Y (década de 1960)

Jorge Barros

Pós-graduado e Mestre em Administração e Gestão Escolar, Doutor em Administração e Gestão Educativa e Escolar, Professor no 2.º Ciclo do Ensino Básico no Agrupamento de Escolas Dra. Laura Ayres (ESLA), Quarteira

 

McGregor, no início da década de 60 do século XX, pôs em evidência a filosofia do gestor sobre a natureza humana e a sua relação com a motivação dos subordinados. Para este autor, os gestores tendem a desenvolver um conjunto de assunções, crenças ou ideias sobre os empregados que podem basicamente ser divididos em dois grupos, os quais constituem duas visões diferentes e antagónicas, a Teoria X e a Teoria Y, sendo que a primeira se carateriza de acordo com os seguintes aspetos: as pessoas, de modo geral, não gostam do trabalho e evitam-no, se possível; porque não gostam de trabalhar, têm de ser coagidas, controladas, dirigidas e até ameaçadas; de modo geral, não têm ambições, evitam assumir responsabilidades e procuram segurança e recompensas económicas, acima de tudo; a maior parte das pessoas não tem capacidade criativa e é resistente às mudanças; e na maior parte dos casos, os trabalhadores preocupam-se fundamentalmente consigo próprios e não com os objetivos da organização.

Por outro lado, a Teoria Y que contrasta com esta visão negativa das pessoas defende que: as pessoas são capazes de se autodirigir e autocontrolar se estiverem empenhadas na prossecução de objetivos; o grau de empenhamento das pessoas no cumprimento dos objetivos da organização geralmente depende da ligação «cumprimento dos objetivos / recompensas»; a generalidade das pessoas, sob condições apropriadas, está disposta a aceitar e até a procurar responsabilidades; e a capacidade de imaginação e criatividade na solução dos problemas das organizações está largamente dispersa pela população e não é apanágio exclusivo dos gestores.

 

Estas duas teorias podem ser comparadas de forma mais simplista, tal como se apresenta no quadro 1.

 

Quadro 1 - Teorias X e Y

Teoria X

Teoria Y

1. As pessoas são preguiçosas e indolentes.

1. As pessoas são esforçadas e gostam de ter que fazer.

2. As pessoas evitam o trabalho.

2. O trabalho é uma atividade tão natural como brincar ou descansar.

3. As pessoas evitam a responsabilidade, a fim de se sentirem mais seguras.

3. As pessoas procuram e aceitam responsabilidades e desafios.

4. As pessoas precisam de ser controladas e dirigidas.

4. As pessoas podem ser automotivadas e autodirigidas.

5. As pessoas são ingénuas e sem iniciativa.

5. As pessoas são criativas e competentes.

 

 

Como podemos observar, a Teoria X julga as capacidades humanas como se fossem potencialmente estáticas. Infere-se daí que, se o objetivo é obter trabalho produtivo, algum fator deve ser introduzido para justificar as deficiências humanas, tais como deficiências intelectuais, passividade e irresponsabilidade. O sistema de organização do trabalho patente nesta teoria dá maior ênfase à aquisição do tempo de um trabalhador e de lhe dizer precisamente o que fazer, enquanto o sistema de motivação cooperante, correspondente à Teoria Y, coloca maior ênfase nos motivos do ego.

Estas duas filosofias apresentadas por McGregor refletem dois estilos de gestão distintos. De acordo com a Teoria X, os gestores devem vigiar e fiscalizar o trabalho dos subordinados, desconfiar sistematicamente do trabalhador, exigir o cumprimento rigoroso de regras e procedimentos, não acreditar no ser humano, centralizar o processo de tomada de decisão, dar às pessoas apenas trabalho de rotina, apostar na autocracia e encarar as pessoas como recursos produtivos a utilizar. Este estilo de gestão é retrógrado, conduzindo a baixas performances do trabalhador, tratado sem dignidade, sem incentivos, partindo-se do princípio de que o trabalhador só produz com êxito, sob ameaça num ambiente onde o medo ainda limita mais o trabalhador. Um outro estilo de gestão, segundo a teoria Y, aposta no autocontrole do trabalhador, confia no ser humano, dá autonomia aos empregados, delega, descentraliza decisões, promove as soluções criativas, é democrático e participativo e as pessoas são encaradas como parceiros da organização.

Deste modo, estamos perante um confronto de práticas de gestão com consequências visíveis na produtividade das organizações. Assim, para a Teoria X os objetivos têm de ser fixados no topo, sem negociação, participação e envolvimento de quem trabalha, enquanto na perspetiva da Teoria Y, a direção confia na avaliação e desempenho e tem um papel dinamizador junto dos trabalhadores, isto é, a Teoria X força as pessoas a fazerem exatamente aquilo que a organização pretende, independentemente de suas opiniões ou objetivos pessoais. Já a Teoria Y propõe um estilo de administração participativo e baseado nos valores humanos e sociais.

Tratam-se de dois estilos opostos de administrar. De um lado, um estilo baseado na teoria tradicional, mecanicista e pragmática, a que McGregor deu o nome de Teoria X, e de outro, um estilo baseado nas conceções modernas em relação ao comportamento humano, a que o mesmo autor designou por Teoria Y.

Apesar de McGregor reconhecer que muitos gestores ainda se inclinam para a Teoria X, considera, no entanto que a Teoria Y é a mais realista e que os seus pressupostos têm mais validade, além disso, a sua aceitação conduzirá a técnicas de gestão e a decisões mais participativas, portanto, em nossa opinião mais condizentes com sistemas democráticos.

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