25/12/2016

TEM SENTIDO?

Dênio Mágno da Cunha*

               O final do ano provoca reflexões sobre o passado e sobre o futuro. Neste ano não ficou pedra sobre pedra, como se diz. Tudo foi mexido, movido, removido, agitado. Não houve quem ficasse no mesmo lugar que estava no primeiro dia do ano. Tudo mudou. E por isso, estão dizendo que não haverá despedida de 2016, haverá sepultamento.

               O outro lado da moeda: todas as pessoas estão unidas ao redor de perguntas sobre o futuro; de todos os lados surgem votos de felicidade, de prosperidade, de amor, de saúde e muito mais. Os ombros de 2017, uma verdadeira Esfinge a ser decifrada, já está sobrecarregado de expectativas. Só que não. Tenho a sensação que o susto de 2016 freou as expectativas para 2017: não há quem materialize em palavras o que vem por aí.

               O fato é: temos nestas duas semanas finais um vácuo no tempo: o ano velho não findou e o ano novo não começou. E é neste vácuo que acontece a retrospectiva do ano velho. Momento em que o mundo para, literalmente, para a revisão – que pode virar reforma (que diga o mecânico do meu carro).

               Ontem ao desejar um bom final de ano para um amigo, disse a ele: “Pedro, este ano você tem de comemorar muito, porque a vida lhe sorriu e você retribuiu dando à sua vida e de todos que estão ao seu redor, um sentido. E ter sentido na vida é tudo! [...] você é que é o mestre em dar sentido às coisas – no amplo e no restrito senso”.  

               O monge Thich Nhat Hanh escreveu uma sequência de livros com o título “A Arte de...” (Comer, Sentar, Amar). Em a Arte de Amar ele faz observações sobre o amor e os relacionamentos que estabelecemos com o mundo. Não exclusivamente no sentido popular de amar (amar a alguém) e sim no amplo sentido do exercício do amor (a todos e a tudo). Ele diz: “O amor verdadeiro nos oferece beleza, frescor, solidez, liberdade e paz. O amor verdadeiro agrega um profundo sentimento de alegria por estarmos vivos. Se não sentimos nada disso quando amamos, não é o amor verdadeiro”.

               Ocorre que São Paulo aos Coríntios também fala do amor:

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.  E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. [...] Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.

 

               Os dois veem no amor a fonte e o sentido da vida. O que vale dizer que sem amor, a vida não tem sentido. Se você não tem amor pela vida, você não tem sentido. E sentido significa direção; significa sentir; significa significado; significa razão.        

               O Professor José Dias Sobrinho e todos que comungam de suas ideias, nos quais me incluo, defendem que a educação deve fazer sentido e consequentemente, ter significado para o indivíduo e para a sociedade. Termos um sistema educacional sem sentido é das maiores burrices que se pode cometer – burrice na educação. E assim deve ser em todas as demais áreas da vida humana: deve haver sentido.

               Obviamente, e aqui retomo o tema. A pergunta a ser respondida neste momento de vácuo, é exatamente esta: existe sentido? De que vale tudo isso? Existe sentido em Alepo? Existe sentido na reforma do ensino médio? Existe sentido no que farei em 2017? Existe sentido no que estou fazendo agora? Se a resposta for negativa: mude, reforme, altere, siga outro caminho.

               Observem que nesta simples pergunta, faço uma auto avaliação e crio uma proposta objetiva de intenção: tudo o que eu me propuser a realizar, a viver, a sentir, a falar etc. etc. etc. terá sentido para mim e para os outros.  É natural. De modo que não há necessidade de sofrer ou comemorar com o que passou e muito menos, projetar um futuro; mas sim, viver o momento presente indagando constantemente: tem sentido? Estou sentindo? Faz sentido? Constrói um sentido? Se as respostas forem sim, faz sentido viver, fazer, sentir, etc. etc.

               O último texto deste ano não é, portanto, retrospectivo e nem prospectivo, mas reflexivo e propositivo. Propõe que mudemos a sintonia da pressa para a reflexão sobre o que estamos realizando; propõe voltarmos nossa atenção para o significado das coisas. E porque não? Voltarmos nossa atenção para encontrar o amor no que estamos construindo, pois é o amor que dá sentido, dizem os sábios.

P.S. Por acreditar no círculo da vida, fiz questão de começar todos os parágrafos deste texto com um.

              * Dênio Mágno da Cunha, Doutor em Educação pela Universidade de Sorocaba, professor em Carta Consulta e Una.

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