16/03/2020

Somos Procustos

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

            Importante perceber que o tempo passa, novos conceitos são criados e velhos costumes abandonados.

            Isso não pode ser visto como perda de identidade mas como evolução da sociedade.

            Peguemos como exemplo crianças com Necessidades Educacionais Especiais (NEE), lembrando o que a sociedade fazia com ela em tempos remotos e o quanto ainda precisamos evoluir para que as mesmas se sintam inseridas neste mesma sociedade.

            Obviamente estas crianças não são mais sacrificadas e/ou abandonadas para morrerem como acontecia em Esparta, em Roma ou até mesmo em algumas tribos indígenas, como ressaltado por mim em meu livro Educação um Ato Político, publicado pela editora Autografia em 2019.

            Jean Piaget (1896-1980) foi um biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço e representa um dos principais nomes da psicologia da aprendizagem. Segundo ele, nasceu gente é inteligente, ou seja, a criança não precisa ser excluída por não atender aos padrão de normalidade imposto pela sociedade. Ela apenas precisa ser respeitada e estimulada para que se desenvolva da melhor forma possível.

            Isso nos remete a lenda do Procusto na mitologia grega. Segundo a lenda, Procusto vivia em uma floresta e todos que passavam por lá era por ele capturado e colocado em uma cama sob uma medida que só ele tinha. Se a pessoa coubesse perfeitamente na cama, a mesma seria solta, caso contrário, ou ela seria cortada ou esticada, o que ocorreria na mutilação e/ou morte de alguns.

            Assim foi e as vezes tem sido a nossa sociedade. Criou-se um padrão de perfeição e quem não se encaixar nele precisará de imediato se adequar a ele ou se sentirá excluído, e quanto a isso, o bicho homem é ingrato e perverso.

            A sociedade torna-se excludente quando não se trabalha e tampouco se efetiva a acessibilidade aos que têm dificuldade em locomoção. Ela também é excludente quando a inclusão não passa de uma hipocrisia, banhada pelo verniz da conveniência.

            A exclusão ocorrerá quando o preconceito for mais forte que a aceitação da diferença entre seres humanos e a ausência do humanismo.

            Crianças não nascem preconceituosas, isso é desenvolvido no dia a dia com os familiares e/ou amigos. Como dizia Nelson Mandela, se as crianças aprendem a odiar, porque não ensinarmos a amar?

            Porque não ensinarmos as crianças a terem lazer com outras crianças com Necessidades Especiais, assim ele desenvolverá o amor ao próximo, a empatia e o respeito.

            A inclusão ocorrerá quando vermos em nosso próximo uma extensão de Deus, quando nos enxergamos a nossa imagem no outro e nos colocarmos em seu lugar e buscar a melhor forma de interagir com este.

            Aí entra a educação, seja ela formal ou não formal, já que a mesma se trata de uma ação intencional com o intuito de desenvolver no educando toda sua capacidade cognitiva, moral e estados físicos que forem possíveis respeitando suas especificidades.

            Assim sendo, precisamos largar os procustos que existem em nós mesmos e abraçar o nosso próximo percebendo que a maior deficiência está em nós em não enxergamos o próximo como nosso verdadeiro próximo e amá-lo sem distinção.

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