09/10/2017

Somente a Realidade da Educação Pública

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

                        Escrever tornou-se para mim um ato de expressar as mazelas e porque não os bons resultados de uma educação pública? O problema é que na educação pública os bons resultados são isolados e não teria como ressaltá-lo sem generalizá-los, caso eu fizesse, cometeria um erro crasso.

            Chego a ver a força deste ditado quando afirma que “a ignorância é uma benção” e confesso que já fui abençoado por longos anos e o problema é que hoje consegui tirar o véu que cobria meus olhos e tento, apesar de me sentir exército de um homem só, fazer com que outros enxerguem como realmente é a nossa educação.

            Nunca me coloquei como crítico, cronista, ensaísta da educação pública, apenas escrevo e me coloco aberto a críticas, que vem de todos os lados. Algumas inteligentes apesar das divergências de ideias, mas acatadas respeitosamente em conversas; e outras, absurdas, principalmente quando o texto se envereda pelo lado político.

            Fico pensando... como separar educação de política? Se assim eu fizesse, estaria me dando um certificado de analfabeto político, pois afirmo que toda educação é um ato político.

            Tenho um amigo que quase sempre discorda de minhas ideias, e vejo nele um otimista sonhador, mas como eu falo a ele, são resultados isolados que não tem como trabalhar ciência neles, são casos atípicos e quando me refiro a educação pública, a mesma está correlacionada com a Municipal e Estadual e não a Federal, e não está ligada diretamente a cidade x ou y, é educação pública. São fatos de conhecimento público que muitas vezes são manipulados pela mídia e/ou política manipuladora(s).

            Vale ressaltar que a educação pública Federal é de excelente qualidade e inclusive, toda instituição de ensino público municipal ou estadual quando faz parceria com a federal, consegue se sair bem nas avaliações externas.

            Vamos pegar alguns pensadores e sociólogos para realmente entendermos a educação pública brasileira, começando assim com Karl Marx quando afirmava que os detentores do poder econômico usam a ideologia dominante e tiram proveito para controlar a sociedade e também para neutralizar movimentos de inconformismo da classe trabalhadora. Tudo bem que este pensamento tenha sido a mais de cem anos atrás, mas será que não estamos assim até hoje?

            Durkheim afirmava que a educação tem o seu cerne na transmissão de valores morais desejados e esperados pela sociedade, e sendo a educação vista como um fato social, ela está determinada a uma ordem social, assim, os fins da educação estão relacionados com os estados sociais dentre outras variáveis.

            Weber afirmava que a educação constitui em uma instancia reprodutora de uma categoria estamental, observe que nestes três pensadores vimos a educação como um ação segmentadora.

            Para John Dewey o conhecimento deve ser algo aplicável a realidade do educando e nada mais natural fazer uso deste conhecimento, mas percebamos, nossas escolas têm  ensinado coisas úteis a realidade de nossos educandos para que nelas eles possam agir, transformando assim o seu contexto?

            Antônio Gramsci criticava a segmentação da educação, pois ele afirmava que a mesma era dividida em ensino clássico direcionada para classes dominantes e intelectuais e em ensino profissionalizante direcionado às classes instrumentais. Para Gramsci a participação do aluno deve ser ativa e só acontecerá se a escola tiver um elo com a vida e para galgarmos o mundo superior de vida social, precisamos de uma consciência revolucionária, mas como termos esta consciência se a maioria de nossos alunos ocupam o ensino profissionalizante?

            Louis Althusser esclarece que o aparelho escolar não passa de um aparelho ideológico do Estado, difundindo assim sua ideologia dominante. Para o pensador, se o aluno pertencer a classe dominante, a escola o ensinará a manipular a ideologia, caso contrário, a submissão será ensinada, criando assim o que ressalto em minhas obras como domesticação subalterna.

            Baudelot esclarece que as escolas capitalistas na América desenvolvem as pessoas para a divisão social do trabalho e para isso, conta com a família para perpetuar esta desigualdade e se continuarmos a analisar outros pensadores como Pierre Bourdieu constataremos que realmente a escola é um espaço de reprodução das estruturas sociais  e este ainda afirma que é na escola que o legado econômico da família transforma-se em capital cultural.

            Observe que nos baseamos apenas em sociólogos e não foi necessário adentrar nas searas de Paulo Freire, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro dentre outros ícones da educação brasileira para percebermos que a educação pública precisa e muito ser revista e reorganizada, mas não com a classe dominante impondo mudanças que tem a função de placebo, e por isso a fala de nosso ícone Darcy Ribeiro ecoa até hoje esclarecendo que a crise da educação não passa de um projeto.

            Cabe aqui uma pergunta, será que sob a luz destes sociólogos dá para perceber o quão sofrível é a nossa educação pública e porque nosso povo está onde está?

            O fato é que não podemos avaliar situações atípicas e que uma escola reflete bem a gestão que está sendo executada. O importante é percebermos que todo investimento em educação será sempre a longo prazo, assim sendo, cabe a nossos gestores e/ou educadores fazerem um benchmarking das escolas que fazem sucesso para que assim, possam também evoluir, mas estes mesmos educadores devem perceber que cada escola tem a sua especificidade e que nem toda ação deve ser vista como uma regra.

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