05/01/2015

Sociologia das políticas educacionais e pesquisa crítico-social: apontamentos

Sociologia das políticas educacionais e pesquisa crítico-social: apontamentos

 

 Gabriel dos Santos Kehler[1]

 

Resumo

Esta síntese debruça-se na/sobre a discussão suscitada pelo autor Stephen Ball, no artigo: “Sociologia das políticas educacionais e pesquisa crítico-social: uma revisão pessoal das políticas educacionais e da pesquisa em política educacional”, publicado em 2006.

Palavras- Chave: Sociologia das políticas educacionais e pesquisa crítico-social.

 

Stephen Ball em uma revisão pessoal das políticas educacionais e da pesquisa em política educacional

        O respectivo artigo é complexo e simultaneamente esclarecedor, dividindo-se em duas seções, sendo a primeira referente às mudanças do setor público, mais especificamente na transição do Estado de Bem-Estar Keynesiano para um Estado de Bem-Estar Schumpteriano, e a segunda constata o engajamento dos pesquisadores em educação com as questões sociais. Assim, o autor desenvolve a tese de haver uma tensão básica nessa relação sobre dois aspectos eficiência e justiça social.

       Quanto às mudanças e transformações ocorridas em função da reestruturação produtiva (Crise anos 70), e substituição do discurso fordista de produtividade e planejamento para a retórica da flexibilidade e empreendedorismo pós-fordista, vem acarretando ao campo educacional a imposição e o cultivo da performatividade e gerencialismo, próprias da regulação e controle que predominam no setor privado. Assim, a psicologia social do auto-interesse vem nos ensinando a respeitar “resultado e não princípios”. Instala-se uma nova economia moral, em que se naturaliza a competição entre pessoas, como condição primeira e natural do humano, em que a ideia de deliberar e planejar almejando o bem comum torna-se sem sentido.

       Nessa perspectiva, o autor chama a atenção para as novas formas de poder fabricadas, pois não se trata de um poder diretamente coercitivo, pois não simplesmente constrange e oprime, mas articula um processo de existência pessoal, de auto-regulação e auto-avaliação. Destarte, esse processo também reelabora o imaginário social, em que se apoia no renascimento do individualismo competitivo e com um novo tipo de cidadão-consumidor, um sujeito dentro de um corpo pró-ativo, constituindo novas subjetividades.

       Um ponto interessante sobre a discussão da relação entre mudança e transformação está justamente, que o aspecto da reestruturação é a formação de novas subjetividades profissionais, não sendo apenas o que nós fazemos que mudou, mas quem nós somos, a possibilidade para quem nós deveríamos nos tornar também mudaram.

       No campo educacional, Ball enfatiza os perigos de separar as posições diversas que as políticas educacionais tomam, inclusive em relação a outras políticas e as suas agendas, divulgando a ideia de um racionalismo progressivo flutuante, em que as ciências humanas não são uma produção eminentemente política. Desta forma se desenvolvem inúmeras pesquisas a-históricas, apenas orientadas para a prática, como se os sujeitos não fossem afetados e constrangidos pelas exigências de um currículo nacional ou competições locais e ainda, a culpabilização é sempre do professor e nunca da política, pois ela é vista como solução e nunca parte do problema.

      Outro aspecto apontado pelo autor, é que após o Ato da Reforma Educativa de 1988, as pesquisas em educação têm se divido em “antes e depois de 88”, como marco zero da educação, negligenciando o entendimento mais amplo de processo.  Também, não se localizam em termos de lugar, para além do nível nacional, nem conseguem dar uma explicação analítica para conduzir a um sentido de localidade nas análises das realizações políticas. Nesse aspecto, critica as totalidades e fechamentos teóricos, que coadunando a Apple (1996) é necessário “pensar neos e pós juntos, de possibilitar ativamente as tensões em cada um e entre eles de modo a ajudar a formular nossas pesquisas”.

        Quanto à importância de uma ética de pesquisa, o mesmo busca sentidos na teoria, que nos ajuda a trabalhar “em e contra” práticas de sujeição ideológica e como em Foucault “subverter o poder”. 

 

Referências

BALL. Stephen. Sociologia das políticas educacionais e pesquisa crítico-social: uma revisão pessoal das políticas educacionais e da pesquisa em política educacional. Disponível em: http://www.curriculosemfronteiras.org/vol6iss2articles/ball.pd.  Currículo sem Fronteiras, v.6, n.2, pp.10-32, Jul/Dez 2006.

 

 


[1] Estudante do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Nível: Doutorado. E-mail: gabkehler@gmail.com

 

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