29/09/2016

SOCIEDADE RANQUEADA

Dênio Mágno da Cunha*

Conversando com um amigo professor, trocávamos ideia sobre livros da área de Marketing. Ele dizia que o melhor livro nesta área é a 15ª. Edição do Kotler (Princípios de Marketing, 2014). Completou dizendo: “acho curioso como nos cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado) ele seja desvalorizado como fonte de pesquisa”.

Lembrei de Chiavenato, um dos mais populares dos autores de RH, citado por 9 entre 10 alunos da graduação, também “evitado” nestes graus de formação.  E de conversa em conversa, surgiu a pergunta: o que significa ser o melhor, e como consequência, o que é ser o melhor?

               Melhor significa a valorização de um trabalho bem feito ou a qualidade de um resultado alcançado/oferecido. O melhor desodorante é aquele que te protege 48 horas e não mancha sua camisa de branco; o melhor hospital é aquele que possui a acreditação internacional, dada por uma consultoria especializada; a melhor construtora é aquela que possui o certificado ISO 9001, 14001 e por aí vai. O melhor carro, qual é? Ai já fica difícil porque você tem de subdividir: Qual o melhor carro na categoria SUV? É assim que funciona na nossa sociedade capitalista.

Porque utilizei a expressão sociedade capitalista? Porque imagina-se que numa sociedade não capitalista (socialista, comunista, shangri-la) todos os produtos e serviços sejam fornecidos por um único fornecedor – o Estado ou a cooperativa – e que o cidadão receba sempre, o bom e o melhor. Mas essa sociedade não existe; é utópica, isto é, desejada, mas nunca alcançada.

Aqui no nosso “mundinho” (desculpe meu pai), se quisermos ter o melhor, temos de comparar para definir e encontrar - hHá muito produto e serviço ruim por aí -,  O que gera sempre discussão quando compartilhada as opiniões: o que é melhor para você, pode não ser o melhor para mim. No final, terminamos defendendo opinião: “Pão ou pães, é questão de opiniães” como diz Guimarães Rosa.

Este um dos motivos da criação de parâmetros de avaliação, de diferenciação: as nossas diferenças de opinião podem ser orientadas, equalizadas e discutidas no plano racional. Assim eu poderei concordar ou não, com você sobre as suas preferências, baseado em algo concreto e racional.

Na educação há muito utilizamos essa comparação. Acho curioso os pedagogos – mesmo concordando em tese com eles – não recomendarem que os professores façam comparações ou criem rankings entre seus alunos. Alunos e professores sabem qual é o melhor aluno da sala de aula: aquele que alcança a maior pontuação dentre todos; dentre todas as atividades desenvolvidas durante um determinado tempo. As escolas, o que poderia ser considerado um contrassenso pelos meus amigos pedagogos, premiam seus melhores alunos com bolsas. Eles são melhores porque? Porque alcançaram as melhores notas, os maiores índices de aproveitamento entre todos.

Essa questão de ranking é tão séria que eu fico imaginando o aluno da melhor universidade do país... como as portas se abrem!. Na área da tecnologia espacial, imaginem: o melhor aluno do Instituto Tecnológico da Aeronáutica – ITA! Já sai trabalhando, empregado. Se precisar sair, porque muitas das vezes a escola quer mantê-lo perto.

Durante algum tempo fui coordenador do melhor curso de Gestão Hospitalar do Brasil. Imagina o aluno desse curso, na área da gestão, numa área especializada, ser o melhor aluno, do melhor curso?

Rankings, podemos questionar as formas como são estruturados, calculados e criados; podemos questionar até se são adequados existirem. Será que na educação é interessante tê-los? Acho que não. Mas como naquele ditado: eles existem. Não creio neles, mas que existem, existem.

Portanto alunos, professores, instituições de educação, preparem-se ainda mais: está chegando a hora de mais um ENADE (Avaliação no Ensino Superior); de mais um ENEM (Avaliação no Ensino Médio); de mais um PISA (Avaliação de países, internacional); de mais um IDEB (Avaliação do  Ensino Básico). Fiquem espertos porque vocês serão avaliados nestes exames. E se eu fosse vocês, fariam a melhor luta que puderem para alcançarem o maior índice possível. E o índice possível é sempre o máximo. No ENADE, 5; no Enem, 1.000; PISA, 1.000; no IDEB é 10.  

               Mas há um problema, não se alcança estes índices com facilidade. Alunos, professores, a escola toda, têm de formarem uma equipe única. Não há espaço para dúvidas e discordâncias. Sabe porque? Porque a nota e a posição do curso no ranking são necessárias para todos e contribuirá para o resultado de toda a equipe. Veja bem, o aluno pode bater no peito e dizer: eu estudei ou estudo na melhor instituição de ensino do país, com nota máxima; o professor pode dizer: eu sou professor escolhido para trabalhar na melhor instituição de ensino do país, com nota máxima; e a escola poderá dizer: eu tenho os melhores alunos e os melhores professores do país, porque eles são nota máxima.  Estar bem posicionado num ranking é tudo de bom. Mas não é só o orgulho de poder dizer publicamente e angariar vantagem? A nota máxima, perante a sociedade, incluindo as empresas, é uma referência. E é por isso que existem as avaliações e o seu resultado ranqueado: criar referência.

Fico imaginando o contrário. Bem... melhor não imaginar isso porque é sempre um desastre para todo mundo.

Um último comentário. No Ensino Superior e no Ensino Médio, o aluno tem acesso ao seu resultado, individual. Imagino a alegria que é alcançar a avaliação máxima. É o coroamento de todo um esforço e dedicação.

Portanto, meus leitores, se você é estudante, se é professor, se é trabalhador numa escola que irá participar de algum destes exames. Fique esperto, corra atrás, busque informações, participe para construir o seu lugar no ranking. Depois me conta.

 

* Dênio Mágno da Cunha, professor em Carta Consulta, em Una-Unatec, Doutorando em História da Educação pela Universidade de Sorocaba. Não gosta de ser comparado, mas busca o melhor lugar no ranking. 

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