15/12/2020

Sobre os Conceitos de Sujeito da Gramática Normativa: Uma Questão Muito Mais Ampla do Que Parece

SOBRE OS CONCEITOS DE SUJEITO DA GRAMÁTICA NORMATIVA: UMA QUESTÃO MUITO MAIS AMPLA DO QUE PARECE

MARINHO CELESTINO DE SOUZA FILHO¹

RESUMO: Pressupondo que a Gramática Normativa não ensina a alguém de modo algum a “ler e escrever corretamente”, o autor do presente trabalho procura analisar algumas das definições de sujeito dadas por esta Gramática e tenta mostrar suas relações/implicações com o ensino-aprendizagem da nossa língua materna, sugerindo que há uma necessidade urgente de reformulação, redefinição, renovação nos objetivos do ensino aprendizagem da Gramática citada anteriormente,

PALAVRAS-CHAVES: Gramática Normativa, ensino-aprendizagem, conceitos de sujeito.

ABSTRACT: Presupposing that the Normative Grammar doesn't teach to somebody in way some" to read and to write correctly", the author of the present work search to analyze some of subject's definitions given by this grammar and it tries to show their relations/implications with respect to the teaching-learning of our maternal language, suggesting that there is an urgent need of reformulation, redefinition, renewal in the objectives of the teaching learning of the Grammar, previously  cited.

KEY-WORDS: Normative Grammar, teaching-learning, subject concepts.

1.Introdução

Nesse artigo, tratarei sobre alguns conceitos de sujeito e suas relações/implicações com o ensino-aprendizagem da nossa língua materna.

Assim, tentarei, no decorrer deste trabalho, responder às seguintes questões: qual o tratamento dado ao ensino de gramática na escola? Por que ensinar gramática na escola? Seria nocivo o ensino de gramática na escola? Parar de ensinar gramática na escola seria a possível solução para resolver os problemas que afligem o ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa? Embasado nos questionamentos acima mencionados, trataremos no item que se segue sobre os objetivos do ensino da língua materna.

 

 

_______________________________________

¹ O autor é licenciado em Letras pela UNIR- Campus de Rolim de Moura, especialista em Língua Portuguesa pela mesma Instituição – Campus de Ji-Paraná, Mestre em Lingüística pela UNIR – Campus de Guajará  Mirim,  Doutor em Língua Portuguesa pelo programa reconhecido pelo MEC – RSC – Reconhecimento de Saberes e Competências – IFRO –  Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Ariquemes e, pesquisador em Análise do Discurso e da Gramática Normativa, Professor da Cadeira de Língua Portuguesa no IFRO – Campus Ji-Paraná .

2.Objetivos do Ensino da Nossa Língua Materna

Por que ensinar português a quem já fala português?Não seria muito mais interessante ensinar uma língua estrangeira a quem já fala português. Por que a escola insiste em ensinar português a quem já fala português?

A pergunta poderia ser formulada de outra maneira: para quê se dá aulas de português a falantes nativos dessa língua?

Esta questão possui em Travaglia (1996) quatro possíveis respostas:

1ª) Desenvolver a Competência Comunicativa dos usuários da língua, isto é, a capacidade de o usuário empregar adequadamente a língua nas diversas situações de comunicação.

A Competência Comunicativa estaria intimamente ligada com outras duas: a Gramatical ou Linguística e a Textual.

A Competência Gramatical seria a capacidade do usuário da língua (falante/ouvinte, escritor/leitor, enunciador/enunciatário) de gerar sequências linguísticas gramaticais e aceitáveis.

Por sequências linguísticas gramaticais, deve-se entender: sequências linguísticas aceitáveis, bem formadas, de acordo com regras intrínsecas da língua, como por exemplo:

  1. O menino subiu na árvore.
  2. “Nóis vamo namorá na praça de Vilhena. ”
  3. “As moça de Vilhena é linda. ”

Não se deve levar em conta nestes tipos gramaticais de sentenças juízo de valor, para entender melhor o que seria “juízo de valor” em Linguística recomendamos as  seguintes obras: O Texto na sala de aula,principalmente o artigo, “Ensinar Português” de Milton José de Almeida, Preconceito Lingüístico de Marcos Bagno, Linguagem, Língua e Escola: uma perspectiva social de Magda Soares, dentre outros.

Assim, as sequências linguísticas aceitáveis estariam intrinsecamente ligadas com as gramaticais, porque quanto à aceitabilidade, teríamos sequências linguísticas  admissíveis,  aceitáveis como construções possíveis dentro do nosso sistema linguístico, portanto, a aceitabilidade e a gramaticalidade estão intimamente ligadas e uma não existe independente da outra, lembrando ainda que para estes dois critérios não se deve levar em conta o que chamaremos de “juízo de valor linguístico”, que seria supervalorizar uma variedade linguística (no nosso caso, a dita padrão) em detrimento de outra variedade lingüística, a saber, a popular.

Desse modo, vejamos:

‘a)² *“O subiu na menino árvore”.

‘b) * “Namorá de Vilhena Nóis na praça vamo.”

‘c)2* “As de Vilhena é linda moça”

Estas três sentenças são agramaticais e inaceitáveis, já que ferem a boa formação, estruturação da língua, acreditamos que sentenças como a’,b’,c’ seriam construções quase impossíveis a falantes nativos do português, a não ser que se estivesse na fase de apreensão e aquisição da linguagem, mesmo assim seriam praticamente impossíveis a estes falantes construírem sentenças como  a’, b’, c’ em detrimento da gramática internalizada, mas construções como a’, b’, c’ poderiam, talvez, até ser admitidas por estrangeiros que estariam apreendendo português.

Já a Competência Textual, seria a capacidade dos usuários da língua (locutor/ouvinte, escritor/leitor) de em situação de interação comunicativa, compreender, produzir, textos considerados bem formados, valendo de capacidades básicas que, segundo Charolles (1997), seriam necessariamente as seguintes:

a) Capacidade Formativa – possibilita aos usuários compreender e produzir um número de textos basicamente ilimitados, além de poder avaliar a boa ou a má formação dos textos dados, isto é, poder ser capaz de dizer se um enunciado linguístico é ou não um texto de acordo com critérios de textualidade previamente estabelecidos.

b) Capacidade Transformativa – seria a possibilidade de os usuários da língua modificar de diferentes maneiras um texto: parafrasear, parodiar, resumir, etc.

c) Capacidade Qualificativa – a possibilidade de os usuários poderem dizer a que tipo de texto pertence um texto dado, ou seja, identificar o gênero textual ao qual o texto nos remete: se é uma receita de alimento ou remédio, um ofício, uma carta, romance, reportagem, uma narração, uma descrição, uma argumentação ou dissertação etc.

Por Conseguinte, faz-se necessário para realização desse primeiro objetivo, que é o de Desenvolver a Competência Comunicativa dos usuários da língua, embasar o ensino-aprendizagem do português na produção, compreensão de textos, os mais variados possíveis.

Na segunda resposta, são englobados mais dois objetivos que são ou deveriam ser preocupações nossas, professores de português, isto é:

  1. levar o aluno a “dominar” a norma culta ou padrão;
  2. ensinar a variedade escrita da língua.

Estes dois objetivos se justificam, porque quando um aluno começa a estudar pressupõe-se que já domine a norma coloquial e ainda por razões políticas, sociais e culturais, deve-se ensinar a variedade escrita da língua, porém, o ensino do português não deve se restringir, exclusivamente, somente a estes dois objetivos, já que nem sempre o falante/ouvinte, escritor/leitor estarão utilizando , unicamente, a norma culta ou escrevendo.

Assim sendo, admitimos que esses dois objetivos são mais restritos que o desenvolvimento da Competência Comunicativa, já que se pretende que o usuário da língua seja capaz também de utilizá-la nas mais diversas situações possíveis de interação, considerando o contexto sócio-histórico-ideológico-discursivo-semântico e pragmático no qual o sujeito está ou não inserido.

A terceira resposta aponta que um dos objetivos do ensino da  nossa língua materna é levar o educando ao conhecimento da instituição linguística, social que a língua é, ao conhecimento de sua forma e função, esse conhecimento seria importante na mesma medida em que se considera importante reconhecer outras instituições de nossa sociedade, ou melhor, casamento,religiões, justiça, congresso, instituição bancária etc. É o que Perini (1988:24) chama de “Conhecimento Cultural”, ou seja, “saber que correr é um verbo e que Colombo descobriu a América em 1492.” Este tipo de conhecimento, de acordo com Kleiman (2011), ainda é conhecido como Conhecimento de Mundo ou Extralinguístico.

A quarta resposta propõe que o ensino do português seja ligado a atividades metalinguísticas, isto é, ensinar gramática, não obstante, deve-se lembrar que não existe um único tipo de gramática, ou melhor, não existe somente a gramática ensinada pela escola, para aprofundar mais esta questão basta consultar os livros que citaremos ao final desse artigo.

Dessa forma, para se ensinar, realmente, o português, temos que considerar tudo o que foi dito no decorrer desse trabalho, e ainda, termos coragem suficiente não só para mudarmos nossa maneira de ensino, mas, principalmente, estarmos abertos às  mudanças, isto é, aos avanços tecnológicos, científicos por que perpassam a humanidade, além disso, devemos considerar a língua como algo vivo, dinâmico e sempre passível a  mudanças.

Nesse sentido, após tratarmos dos Objetivos do Ensino de Nossa Língua Materna, abaixo, elencaremos alguns conceitos de gramática.

3.Conceitos de Gramática

Existem vários conceitos de gramática, porém, tratarei apenas de três, que julgo relevante para este estudo, por isso, vejamos como Possenti (1996:62-64) trata desta questão: 1 – Conjunto de regras que devem ser seguidas;                                2 – Conjunto de regras que são seguidas; 3 – Conjunto de regras que o falante domina.

  Estes três conceitos de gramática poderão engendrar três tipos de gramática diferentes, o primeiro corresponde à Gramática Normativa, isto é, regras utilizadas pelos falantes/ouvintes a fim de aprenderem a “escrever e falar corretamente”, ou melhor, o não seguimento dessas regras implicaria em sanções nada positivas, socialmente falando, porque se alguém diz por exemplo “nóis vai”, uma das primeiras atitudes que as pessoas podem tomar é que fulano fala “errado” ou no mínimo esquisito, estranho, e quase sempre não se admitiria que se possa falar diferente.

  No segundo conceito, percebe-se que a gramática não funcionaria apenas para descrever uma única variedade da língua e classificá-la como “certa” ou “errada”, mas também, procurar-se-ia descrever uma língua; levando em conta as infinitas possibilidades de construções que esta língua possui, e isso inclui um grande número de variedades pertencentes a um determinado sistema linguístico.

  No terceiro conceito, este tipo de gramática também é conhecido por Gramática Internalizada ou Natural, isto é, conjunto de regras que o falante domina, as quais lhe permite produzir sentenças linguísticas que tenham coerência, ou seja, façam sentido, tratando-se, assim, da Competência Linguística inata ao falante/ouvinte de uma determinada língua; aliás esta Competência é que vai determinar quais as sequências linguísticas serão aceitas, ou não, dentro de uma determinada comunidade linguística.  

  Por exemplo, é perfeitamente aceitável sequências do tipo:

  1. Os menino subiu na cadeira.
  2. Eu vô apanhá as goiaba.

Por outro lado, penso ser inaceitáveis sequências do tipo:

                   *c) A cadeira subiu nos meninos.

                   *d) As vão goiabas apanharem os meninos.

A não ser que uma dessas sequências (no nosso caso, a sequência (c)), pertença a uma área da Literatura conhecida como Realismo Fantástico, pois no mundo textual fictício, acredito que esta sentença poderia ser aceita, todavia não estamos tratando do mundo textual fictício. E ainda, em se tratando dessas duas sentenças, gostaríamos de asseverar (mais uma vez) que a presença dos asteriscos se faz necessária, já que segundo os Linguistas estes asteriscos são usados para mostrar que estas sentenças não são aceitas no português.

Além disso, no que se refere à Gramática Internalizada, Luft (1996) asseguraria que o indivíduo nasce “programado” para falar.

Dado que tratamos acerca de alguns conceitos de gramática, trataremos a seguir do objetivo primordial desse trabalho que seria diferentes conceitos de sujeitos apresentados em algumas gramáticas Normativas ou escolares e verificar as possíveis implicações/relações no que concerne ao ensino-aprendizagem de nossa língua materna.

 

4. Dimensionamento do Problema

Citaremos a seguir alguns autores de Gramática Normativa, mas não estamos querendo com isso culpá-los por possíveis faltas de lógica que a gramática escolar ou Normativa possa ter, pois sabemos que estes autores são antes vítimas do que culpados por uma tradição escolar que foi herdada desde a Antiguidade greco-romana.

Neste momento, designaremos a Gramática Normativa por G.N. E Segundo a G.N. de Faraco e Moura (1996:313), sujeito seria: O termo que denota o ser a respeito de quem ou de que se faz uma declaração.

Dito desta forma, entende-se que sujeito seria a declaração que se faz sobre alguém ou alguma coisa, não obstante sabemos que esta definição é problemática, porque há contextos em que a definição, acima mencionada, gera controvérsias, vejamos:

                                                                   1)  Orlando apanhou de Maria.

                                                                    2) Cláudia caiu de bicicleta

                                                                    3)  Eduardo gosta de Mônica.

                                                                    4) Trovejou muito, ontem, em Santa Luzia D’Oeste.

Em (1), temos duas declarações, a primeira seria de que Orlando apanhou de Maria e, consequentemente, Maria bateu em Orlando, já se nota que neste caso fica um tanto quanto complicado concordarmos com a G.N. no que tange à definição de sujeito, anteriormente citada.

Já em (2), também acreditamos que é possível falar em duas declarações: uma sobre a queda de Cláudia, isto é, ela não caiu de um trem, ônibus ou de uma escada, e sim, de uma bicicleta, por isso, pensamos que não é uma declaração, mas sim, duas: declara-se algo sobre a bicicleta e também sobre Cláudia, que levou um “baita” tombo e deve ter doído “pra caramba”, principalmente, se a bicicleta impulsionada por Cláudia estivesse em alta velocidade e em Movimento Retilíneo Uniformemente Variado.  

Em (3), faz-se duas declarações, uma a respeito de Eduardo, isto é, que gosta de Mônica, porque se Eduardo gosta, ele vai ter de gostar de alguém ou de alguma coisa, e a outra é que ele não gosta de Carla, ou de Cláudia, mas sim de Mônica que indiretamente, implicitamente deve possuir uma característica particular, intrínseca, que fez Eduardo gostar dela, logo, a declaração também é de certa forma sobre Mônica.

No exemplo (4), a situação piora, porque a oração é chamada pela G.N. de Oração Sem Sujeito, ou de Sujeito Inexistente, por isso, não deveria, exclusivamente, estar declarando algo por ser justamente uma “Oração Sem Sujeito”, todavia, nota-se que há uma declaração sobre Santa Luzia D’Oeste, cidade do interior do Estado de Rondônia, nisto já se percebe um pouco da falta de lógica da G.N.

Ainda assim, continuemos a observar, segundo Saviole (1992:7): “Sujeito é o termo da oração que funciona como suporte de uma afirmação feita através do predicado.”

De acordo com esta definição, sujeito seria a base de uma afirmação feita através do predicado, porém observemos os seguintes exemplos:

                                           (5) Izabel sorriu.

                                           (6) Marinho gritou bastante, ontem, à noite.

                                           (7) Thiago não quis conversa.

                                           (8) Paulo não deu aulas ontem.

Em (5) e (6), a definição se presta muitíssimo bem, pois o predicado afirma que Izabel não está chorando, mas sim, sorri, e ainda que Marinho não ficou calado, gritou, no entanto, em (7) e (8), conforme a definição não teríamos sujeito, já que o predicado não é um “suporte” de uma afirmativa, porém de uma negativa: pois em (7) o predicado diz que Thiago  não quis conversa, e, finalmente, em (8) Paulo não deu aulas ontem, acontece o mesmo.

Vejamos ainda em Bertolin, & Silva( s/d:295). “Sujeito é o ser que faz alguma ação.” Diante desta definição de sujeito, atentemos para os exemplos a seguir:

                                           (9) Alex chutou a bola.

                                          (10) Flávia abriu o livro.

                                          (11) Marinho escreveu um artigo.

                                          (12) O pneu furou.

                                          (13) A pedra caiu na cabeça de Claudionor.

                                          (14) O motor do carro rolou de cima da banca.

                                          (15) Thiago apanhou de sua namorada.

                                          (16) A namorada levou um grande susto do seu namorado.

                                          (17) O papel higiênico se rasgo

                                          (18) A terra tremeu.

Em (9) e (10), a definição se aplica perfeitamente, porém, em se tratando de (12), como pode o pneu furar sozinho? E ainda em (13), de que forma a pedra tomaria impulso e automaticamente cairia em cima da cabeça de alguém?

Mas também, como poderia em (14), independentemente de uma força aplicada sobre o motor e ele rolar de cima de uma banca?

Em (15), não tem como justificar, porque, de que maneira Thiago praticaria a ação? Se foi ele mesmo quem apanhou, ou seja, pela definição o sujeito deveria ser a namorada de Thiago, uma vez que foi ela quem praticou a ação, isto é, bateu.

Porém em (17) e (18), dificilmente veríamos um papel higiênico se rasgando a si mesmo. O que se aplica também em (18).

Em vista disso, ouçamos de Perini (1997:54) o que tem a nos dizer sobre isto:

O problema é que as gramáticas escolares, aqui como em muitíssimos outros pontos não são organizados de maneira lógica; e como aprender uma disciplina que não tem organização lógica?

Não é de espantar que ninguém tenha segurança nessa matéria; e, não é de espantar que ninguém goste dela.

No entanto, não é só quanto à definição de sujeito que a G.N. peca. Sendo assim, vejamos como Luft (1995:88-90) trata dessas questões:

“São médias as várias espécies de vogais a.” Segue um triângulo com nove ( ! ) vogais, uma delas o a , se bem que este abranja “várias espécies” todas “médias”...

“Tio, fio, pavio, contêm ditongos crescentes.” Algo como tiú, fiú, ou tio, fio ... (não distinguir nem entre ditongo e hiato...)

 Duas vogais formam ditongo crescente e se consideram suas sílabas quando a [...] segunda é semivogal acentuada”!

“Artigo é a palavra que tem por finalidade individualizar a coisa.”

“Preposição – A esta classe pertencem todas as palavras que servem para ligar duas outras.”

 “Quer dizer que, em “João e Pedro”, ler ou escrever, inteligente, mas preguiçoso”, as palavras e, ou, mas são – preposições. Em por isso que é difícil entender a gramática, o por estar ligando duas palavras...”

“Verbos são palavras que encerram idéia de ação ou estado. Portanto, leitura e cansaço são... verbos!”

“Gênero gramatical é a indicação do sexo real ou suposto dos seres.”

“Mesa, poste e livro têm... sexo suposto.”

“Grau é flexão e possuímos [...] diversas desinências podem especificar o tamanho da coisa.”

“Diversas é modéstia, pois na página seguinte o gramático relaciona 45 (quarenta e cinco!) sufixos, diminutivos. Sufixo ou desinência? Tanto faz para o gramático: desinências, terminações ou sufixos, diz em outra parte do livro. E, pequenininho ou pequetitinho há, segundo ele, “dupla flexãodiminutiva”, duas desinências” ...

“Pessoa gramatical é a relação entre a linguagem e os seres!”

“(...) Ocioso multiplicar os exemplos. Qualquer exame superficial de grande parte dos livros usados nas escolas demonstrará falhas semelhantes.”

 

Sendo assim, seria interessante, não só nos Cursos de Letras, como também no ensino médio, fazer uma análise comparativa de gramáticas escolares para detectar possíveis falhas.

5. Considerações Finais

Voltando à definição de sujeito, percebemos que as Gramáticas Normativas deixam, muito, a desejar, porque, em se tratando de “regras”, estas, pelo que se sabe, deveriam dar conta de um número maior de casos, e; este não é o caso da regra aplicada para definir o sujeito na G.N.

 Nesse sentido, pensamos que a definição de sujeito mais adequada é dada por Perini (1995:17 ), apesar de confessar que: No momento não disponho de uma definição realmente completa e adequada  a todos os casos; mas acho que a seguinte é uma aproximação: (7) Sujeito é o termo com o qual o verbo concorda.

Esta nova definição acarretaria, consequentemente, uma mudança drástica nos tipos de sujeito encontrados na G.N. , mas, tratar desse assunto, não é nossa intenção neste momento, quem sabe em um próximo ensaio.

Apesar das falhas detectadas na G.N., Luft (op.cit., p.101) nos mostra ainda que:

Os repetidos fracassos no ensino gramatical, uma quase generalizada aversão dos jovens, por esse ensino, mais alguns conceitos de lingüística (sic) moderna mal digeridos – e temos uma solução simplista: não ensinar gramática.

Assim, não estamos propondo que se deixe de ensinar Gramática na escola, todavia sugerimos uma reformulação, redefinição, reconstrução, renovação nos objetivos do ensino da gramática na escola.

Principalmente, se levarmos em conta Os Objetivos do Ensino da Nossa Língua Materna (tratados no início desse trabalho), uma vez que a linguagem deve ser considerada como o lugar de interação social, a saber, os indivíduos se apropriam da língua que pode ser vista como um “bem”, conforme nos mostra Terra (1997:8):

Se retomarmos o conceito de bem (bens são aquelas coisas que, por serem úteis ao homem, são objetos de apropriação), verificamos que a língua que você fala é um bem, por se encaixar perfeitamente na definição apresentada.

Do exposto, propomos um ensino de gramática que considere todas as diferenças, complexidades dos seres humanos, não valorizando, excessivamente, uma variedade; a padrão ou culta, em detrimento da outra: a coloquial ou popular, ou melhor, que se ensine gramática sim, não obstante, considerando, valorizando a linguagem que o aluno traz de casa, ou seja, sua gramática natural da língua.

E para reforçar ainda mais o que expomos, ouçamos o que Bechara (1995:35-36) tem a nos dizer:

Com o passar dos tempos, a gramática se foi enriquecendo com os dados novos trazidos pelos progressos da Ciência, da linguagem, e a sala de aula se foi transformando num palco de erudições que acabava por definha aqueles jovens alunos ainda não  amadurecidos  para  as  preleções universitárias a que os submetiam seus professores.

Nesse processo, deve-se tomar muito cuidado, isto é, sermos prudentes no que tange ao ensino da gramática nas escolas, porque, senão ao invés dessas plantas tenras, que são os alunos, crescerem nutridas, elas, simplesmente, serão sufocadas e consequentemente, exterminadas; banidas da face da escola; pois ao invés de seiva elaborada; estaremos lhes dando seiva bruta; ou ainda; ao invés de sangue arterial, estaremos lhes doando sangue venoso.

E como se não bastasse isto, Perini (1997:54), ainda nos exorta:

Como que nossa matéria chegou a esse ponto? Sinceramente        não sei dizer; mas é urgente resgatá-la do poço. Ou seja, nós que somos os amigos, precisamos conscientizar dos problemas da gramática, antes que os inimigos o façam. 

Fica, aliás, esta sugestão: devemos nos conscientizar de que é preciso reformular o ensino de gramática nas escolas, se não, mais uma vez, estaremos insistindo no atual fracasso do ensino-aprendizagem de nossa língua materna.

6.Referências Bibliográficas

BAGNO, Marcos. (1997). A Língua de Eulália: Novela Sociolingüística. São Paulo: Contexto.

BECHARA, Evanildo. (1995). Ensino da Gramática. Opressão? Liberdade? 8ed. São Paulo: Ática.

CHAROLLES, M. Introdução aos problemas da coerência dos textos. In: GALVES, C.; ORLANDI, P. E.; OTONI, P. (Orgs.). O texto: leitura e escrita. 2ª ed. Campinas: Pontes, 1997.

FARACO, Carlos Emílio & MOURA, Francisco Marto de. (1996). Gramática. 9ed. São Paulo: Ática.

GERALDI, João Wanderley. (1995). Portos de Passagem. 3ed.São Paulo: Martins Fontes.

KLEIMAN, Angela.   Texto e leitor: Aspectos cognitivos da leitura.        1 4 ed.    Campinas,

SP- Pontes Editores, 2011.

KOCH, Ingedore Villaça. (1997). A Inter-ação pela Linguagem. 3ed. São Paulo: Contexto.

LUFT, Celso Pedro. (1995). Língua e Liberdade. São Paulo: Ática.

PERINI, Mário Alberto. (1997). Sofrendo a Gramática. São Paulo: Ática.

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___________________ . (1998). Níveis de detalhamento na descrição gramatical: uma perspectiva pedagógica. Nº 12. Campinas: IEL/UNICAMP, jul.- dez, p23-32. In: TRAVAGLIA, Luiz Carlos. (1996). Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de Gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez.

POSSENTI, Sírio. (1996). Por Que (Não) Ensinar Gramática na Escola. Campinas: Mercado de Letras – ALB.

SAVIOLI, Francisco Platão. (1992). Gramática Em 44 lições: com mais de 1700 Exercícios. 11ed. São Paulo: Ática.

SILVA, Antônio de Siqueira & BERTOLIN, Rafael. (s/d). Curso Completo de Português. São Paulo: IBEP.

TERRA, Ernani. (1997). Linguagem, Língua e Fala. São Paulo: Scipione.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. (1996). Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de Gramática no 1º e 2º Graus. São Paulo: Cortez.

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