01/10/2013

Sobre a questão da Acentuação Gráfica: Por que e para quê acentuamos as Palavras?

MARINHO CELESTINO DE SOUZA FILHO[1]
 

RESUMO: Nesse breve ensaio, pretendo mostrar como funciona a acentuação gráfica na Língua Portuguesa.

PALAVRAS-CHAVE: Acentos gráficos. Língua Portuguesa.

ABSTRACT: In this brief essay, I intend to show how the graphic accent in Portuguese Language.

KEYWORDS: Accents graphics. Portuguese Language.

1 INTRODUÇÃO

Os primeiros questionamentos sobre acentuação gráfica que poderão vir à mente de um escritor/leitor da Língua Portuguesa, seriam esses:

  1. Como devo acentuar?
  2. Por que acentuar graficamente as palavras?
  3. Acentuam-se todas as palavras da Língua Portuguesa? 
  4. Quantos acentos gráficos existem nessa Língua?
  5. O que seriam palavras oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas?
  6. Finalmente, por que estudar toda esta “parafernália”?

2 TIPOS DE GRAMÁTICA

Primeiramente, tentaremos responder, adequadamente, a todos questionamentos feitos acima.

Logo, para se acentuar quaisquer que sejam as palavras, devemos seguir, obrigatoriamente, (felizmente ou infelizmente), as regras de acentuação gráfica encontradas nas gramáticas utilizadas nas escolas, ou seja, na gramática normativa; mas, normativa por quê?

Porque, de acordo com Travaglia (1996), existem vários conceitos de gramática, porém trataremos apenas de três, que julgamos relevantes para esse trabalho, por isso, vejamos como Possenti (1996, p. 62-64) trata dessa questão: “[...]1 – Conjunto de regras que devem ser seguidas; 2 – Conjunto de regras que são seguidas; 3 – Conjunto de regras que o falante domina.”

Esses três conceitos de gramática poderão engendrar três tipos de gramática diferentes: o primeiro corresponde à gramática normativa, isto é, regras utilizadas pelos falantes/ouvintes, a fim de aprender a “escrever e falar corretamente”. O não seguimento dessas regras implicaria em sanções nada positivas, socialmente falando, porque se alguém diz, por exemplo, “nóis vai”, uma das primeiras coisas que as pessoas poderiam dizer é que fulano fala “errado” ou, no mínimo, esquisito, estranho, e quase sempre não se admitiria que se pudesse falar diferente.

No segundo conceito, percebe-se que a gramática não funcionaria apenas para descrever uma única variedade da língua e classificá-la como “certa” ou “errada”, mas sim, procurar-se-ia descrever uma língua, levando em conta as infinitas possibilidades de construções que esta língua possui, e isso inclui um grande número de variedades pertencentes a um determinado sistema linguístico, por isso, a gramática anteriormente mencionada é chamada de gramática descritiva.

No terceiro conceito, este tipo de gramática é conhecido por gramática internalizada ou natural, isto é, conjunto de regras que o falante domina, as quais lhe permitem produzir sentenças linguísticas que tenham coerência, ou seja, façam sentido, tratando-se, assim, da competência linguística inata ao falante/ouvinte de uma determinada língua; aliás,  de acordo com Chomsky (1999), essa competência é que vai determinar quais as sequências linguísticas que serão aceitas, ou não, dentro de uma determinada comunidade linguística.

Por exemplo, é perfeitamente aceitável sequências do tipo:

  1. Os menino subiu na cadeira.
  2. Eu vô apanhá as goiaba.

Por outro lado, pensamos ser inaceitáveis sequências do tipo:

*c) A cadeira subiu nos meninos.

*d) As vão goiabas apanharem os meninos.

A não ser que uma dessas sequências (no nosso caso, a sequência (c)), pertença a uma área da Literatura conhecida como Realismo Fantástico, pois, no mundo textual fictício, acreditamos que essa sentença poderia ser aceita, todavia não estamos tratando do mundo textual fictício.

E ainda, em se tratando dessas duas sentenças, gostaríamos de dizer que a presença dos asteriscos se faz necessária, já que, segundo os linguistas, esses asteriscos são usados para mostrar que essas sentenças não são aceitas na Língua Portuguesa.

Além disso, no que se refere à Gramática Internalizada, Luft (1995) diria que o indivíduo nasce “programado” para falar, ou seja, nasce com propriedades fisiológicas, biológicas, psicológicas para falar uma determinada língua.

Assim, apesar de existirem os três tipos de gramáticas anteriormente mencionadas, infelizmente, a única gramática que preceitua regras para acentuarmos as palavras é a gramática normativa.

Por isso, deveremos consultar as gramáticas escolares ou normativas para sabermos como devemos acentuar de forma adequada as palavras da Língua Portuguesa.

3 RESPOSTAS ÀS QUESTÕES FORMULADAS NA INTRODUÇÃO

Assim, a razão por que se acentuam as palavras graficamente na L. P (doravante Língua Portuguesa) seria a seguinte: acentuamos, porque, felizmente ou infelizmente, na escrita da L.P, existem regras pré-estabelecidas que nos obrigam a acentuar as palavras de nossa língua.

Além disso; devemos acentuar os vocábulos da L. P para de certo modo realçar, enfatizar, e até, diferenciar na escrita as sílabas átonas das tônicas.     

Assim, são consideradas sílabas tônicas, aquelas com o som mais forte.

Já quanto às átonas, são aquelas com o som mais fraco.

Dessa forma, esta consideração deve ser respeitada, a priori, na escrita, pois, na fala, de acordo com Geraldi(1966), temos os recursos mais amplos para a compreensão e interação da mensagem, por exemplo: os gestos, o fato de estarmos face a face com o nosso interlocutor/locutor, a entonação, a dicção.

Além disso, tem a questão de muitas pessoas terem uma audição, praticamente, perfeita que distingue sons fracos dos fortes, ou seja, temos a faculdade em discernir sons agudos, mais fracos, de sons graves, mais fortes.

Por isso, é que na escrita devemos acentuar as palavras, já que nesta modalidade, não temos muitos recursos, conforme temos na fala, apesar de que em algumas línguas, tais como: a Língua Inglesa, não existe acento gráfico algum, existem apenas poucos sinais gráficos, ou seja, apenas os sinais de pontuação.

Mesmo assim, este fato não torna a Língua Inglesa nem mais bela, nem mais pobre, nem mais rica do que qualquer outra língua.

Porém, para acentuar as palavras da L. P, não devemos acentuá-las de forma aleatória, já que nem todas as palavras dessa Língua levam acento gráfico, pois, para isso, devemos seguir as regras de acentuação gráfica, o que parece muito óbvio; mas, talvez muitas pessoas não saibam disso, ou, às vezes; ignoram estas regras.

Assim, antes de tratar das regras de acentuação gráfica, devemos saber que existem apenas três acentos gráficos em nossa Língua: circunflexo, agudo e o grave.  

O circunflexo é o famoso “chapeuzinho” (^) que aprendemos na escola desde tenra idade, ou seja, esse acento nos obriga a pronunciar as sílabas tônicas fechadas, é o caso de vovô, câmara, você etc.

Já o agudo (´), obriga-nos a pronunciar as sílabas tônicas abertas, é o caso de sofá, órgão, cipó etc.

No que tange ao acento grave (`), esse acento indica a “famosa” crase, indicando que nesse caso há a junção ou fusão de dois as: preposição + artigo definido feminino a.

Após esses breves comentários sobre os acentos gráficos, trataremos agora de como devemos acentuar as palavras da Língua Portuguesa.

Nesse sentido, acentuamos as palavras da L. P seguindo alguns critérios, são eles:

  1. Acentuam-se, geralmente, todas as palavras proparoxítonas, aquelas cuja sílaba tônica é a antepenúltima, apesar de sabermos que no caso da palavra ¹performance, mesmo sendo proparoxítona não deve ser acentuada, isto é, sua pronúncia adequada é dizê-la de forma que a antepenúltima sílaba seja a tônica, portanto, se formos levar sempre em consideração a regra que diz que toda palavra proparoxítona leva acento, estaríamos propensos a um julgamento inadequado no que tange à acentuação gráfica das palavras proparoxítonas. Mesmo assim, seguem alguns exemplos de proparoxítonas acentuadas: médico, ônibus, árvore, hexágono, pentágono, etc.
  2. Em se tratando das palavras oxítonas, cuja sílaba tônica é a última, devemos seguir o seguinte critério: acentuam-se as palavras oxítonas terminadas em a, e, o, seguidas ou não de s, e ainda as terminadas em: em, seguidas ou não de s. Exemplos: café, sofás, cipó, armazéns, alguém etc.
  3. Quanto às paroxítonas, aqueles vocábulos cuja sílaba tônica é a penúltima, devemos acentuá-los seguindo tantas regras que se torna quase impossível decorá-las, em vista disso, fazemos a seguinte sugestão: uma vez que acentuamos as palavras oxítonas terminadas, conforme, os casos, acima, vistos, por conseguinte, não acentuamos as palavras ²paroxítonas terminadas em a, e, o, em, seguidas ou não de s. Não acentuamos, por exemplo: menina, caso, elefante, janela, bolso, item, etc; já as que não seguem este mesmo critério, ou seja, os vocábulos paroxítonos que não terminam em a, e, o, em, seguidos ou não de s, são acentuados. Exemplos: açúcar, hífen, álbum, fórum, bíceps, táxi, ônix, fênix, possível, impossível etc.

Assim, após esses breves comentários sobre acentuação gráfica e embasados nos mais de vinte anos de aulas ministradas por nós, ou melhor, mais de vinte anos lecionando a disciplina Língua Portuguesa, conseguimos formular em sala outras regras que acreditamos facilitarão a vida de qualquer estudante brasileiro, as quais serão abaixo elencadas.

4 REGRAS NÃO CONTIDAS NAS GRAMÁTICAS NORMATIVAS QUE PODERÃO FACILITAR O USO DOS ACENTOS GRÁFICOS

  1. Pode-se dizer (apesar da palavra performance) que todas as palavras proparoxítonas são acentuadas.
  2. Quanto às oxítonas, acentuamos somente aquelas que terminam em: a, e, o, em, seguidas ou não de s.
  3. Já quanto às paroxítonas, essas sim, cremos que elas apresentam problemas quanto à acentuação, pois, são muitas as terminações a serem lembradas. Por isso, recomendamos que o leitor/escritor siga as seguintes sugestões:
    1. Memorize a seguinte frase: UM PÁSSARO ROUXINOL, dessa forma, ficaria mais fácil (depois de compreender, entender o que são palavras proparoxítonas, paroxítonas e oxítonas) memorizar as terminações, pois, observando a frase acima assinalada, percebemos que devemos acentuar as seguintes palavras paroxítonas terminadas em: um, s, r, u, x, i, n e l, seguidas ou não de s. Exemplos: álbum, açúcar, bônus, fênix, táxi, abdômen, possível.
    2. Caso o leitor/escritor tenha dificuldade para memorizar a frase acima citada, basta ele memorizar no que tange às paroxítonas o seguinte: NÃO SE ACENTUAM AS PALAVRAS PAROXÍTONAS TERMINADAS EM A, E, O SEGUIDAS OU NÃO DE S, COM EXCEÇÃO DOS DITONGOS.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por conseguinte, parece-nos que o tratamento dado anteriormente à acentuação gráfica, poderá auxiliar o leitor/escritor a acentuar adequadamente os vocábulos da L. P, facilitando, assim, a vida de muitas pessoas que lidam com o maravilhoso, instigante mundo da linguagem, das palavras.

6 REFERÊNCIAS

CHOMSKY, Avram Noam. Aspectos de la teoría de la Sintaxis. 1 ed. Barcelona, Espanha: Editorial Gediza, 1999.

LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade. São Paulo: Ática, 1995.

 

GERALDI, João Wanderley (Org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 1997.

POSSENTI, Sírio. Por Que (Não) Ensinar Gramática na Escola. Campinas: Mercado de Letras – ALB, 1996.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de Gramática no 1º e 2º Graus. São Paulo: Cortez, 1996.

 

 

 


 

 


[1] Mestre em Linguística e, Professor da Cadeira de Língua Portuguesa no IFRO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Câmpus Ariquemes.

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