26/02/2019

Ser Professor Hoje

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo geral destacar como o professor se torna um bom profissional, além da licenciatura, na prática com o aluno, irá surgir o “professor professor”. Aquele que ensina uma arte, uma ciência ou uma língua. Esse é um trabalho com metodologia de pesquisa bibliográfica. Concluímos que os professores são eternos alunos, só o talento não nos faz acompanhar a evolução dos tempos é preciso estar sempre se atualizando. A grande lição de aprender a ensinar é entender como o aluno chegou ao resultado, o método e isso só se adquire com muito treino.

Palavras-chave: Professor, licenciatura, aluno, educação

1. INTRODUÇÃO

Neste artigo abordaremos o profissional que sua, transige, estuda para apreender na intenção de preencher tabulas rasas com conteúdos vivos: o conhecimento. Apresentamos o surgimento do “professor professor”: o profissional humano, real, livre do mito do professor acima do conhecimento e da necessidade de formação. No nosso pensar, professor é muito mais este todo. Nosso objeto de trabalho, o aluno, precede nossa existência, transforma esta profissão em arte. Professor: qual seria a melhor definição? Segundo o dicionário “Priberam:  Substantivo masculino (1. Aquele que ensina uma arte, uma atividade, um ciência, uma língua, etc; aquele que transmite conhecimentos ou ensinamentos a outrem , 2. Pessoa que ensina em escola, universidade ou noutro estabelecimento de ensino. = DOCENTE , 3. [Figurado] Entendido, perito Adjetivo e substantivo masculino , 4. Que ou aquele que professa uma religião ou crença  [...]

2. PROFESSOR: UMA PROFISSÃO

Ser professor no Brasil de hoje e, até quem sabe, no de sempre é um ato de fé: firmamos propósitos que, no mais das vezes, não vemos (Paulo, Novo Testamento: Hebreus 11). Cremos que uma infraestrutura adequada é suficiente, cremos que todos os alunos são padronizados e, portanto, reagem da mesma forma as mesmas questões, cremos até que aprender é lembrar. O professor é um crente, crê inclusive que ensina.

Vivemos na mesma caverna do mito platônico, açambarcados de certezas inconsistentes, assistindo sombras e imaginando a realidade, em PLATÃO (2012, p 258):

 

SÓCRATES – Agora imagina a maneira que segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoço acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está adiante deles, pois corrente os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo desta estrada está construído um pequeno muro, semelhantes as divisórias eu os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.

Glauco – Estou vendo.

SÒCRATES – Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda espécie, que o transpõe: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.

Glauco – Um quadro estranho e estranhos prisioneiros. [...]

SÓCRATES – E se a parede do fundo da prisão provocasse eco, sempre que um dos transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?

Glauco – Sim, por Zeus. Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às obras dos objetos fabricados.

SÓCRATES - Considera agora o que acontecerá, naturalmente, se forem liberados de suas cadeias e curadas de sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço e caminhar, a erguer os olhos para luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá. E o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que viu até então senão fantasmas, mas agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?

Glauco – Muito mais que verdadeiras [...]

Comparamos a caverna à escola, os prisioneiros são os professores e os alunos, enquanto que as sombras nossos paradigmas. Resta-nos a esperança cartesiana da descoberta da realidade no “Eu penso, logo existo” (DESCARTES, 1979,Discurso do Método, p23), uma vez que o pensar desencadeia o conhecimento, que é a premissa básica da Educação.

Mas, que tipo de professor você é? Um deus, acima do bem e do mal, com direito de vida e morte sobre os seus alunos, autorizado para julgar sumariamente quem se opor a suas diretrizes ou ainda o tipo terrorista que provoca no aluno a certeza que a única razão da existência escola é “passar” ou “rodar”, impunemente, os alunos?  Ou você é um poço de lamentações exalando vapores depressivos ministrando reclamações contra tudo e contra todos sem qualquer atitude reativa?

Que tipo de professor você pretende ser e que tipo de professor você será?

GREEN (2015,p17) desperta para o fato que temos que aprender a ensinar quando conhece a professora Magdalene Lampert:

 

[...]. Meus amigos professores pareciam ter nascido para a lousa. Dava para ver em suas personalidades e na forma como se dedicavam – a sensibilidade determinada e o comprometimento de um, a devoção confiante e lúdica do outro. Agregadores, encantadores e teatrais, eles atraiam a atenção onde quer que fossem. Não surpreende que tenham decidido ser professores, enquanto eu – timidamente séria, alérgica a palhaçadas e cética – me tornei jornalista. Eles tinham aquela qualidade mágica do “professorismo” [...]

Quando encontrei Magdelene pela primeira vez, seu talento era evidente, parecia uma espécie de feiticeira. Estávamos no inverno de 2009 [...] ela era agora professora do curso de Educação da Universidade de Michigan[...].

Quanto mais eu aprendia sobre Magdelene e sua didática, mais eu enxergava que o que parecia leitura de mentes era resultado de uma prática extraordinária, não talento inato. O sucesso dela não dependia de sua personalidade – introspectiva, reflexiva e metódica, bem o oposto dos míticos professores hollywoodianos. Ao contrário, o desempenho de Magdelene se baseava em conhecimentos e habilidades que ela passou anos treinando. Ensinar, do jeito que ela fazia, era uma técnica complexa.

A realidade é que não existem professores “a priori”. O senso comum se equivoca ao pensar que alguns professores já nascem assim, como Robin Willians em Sociedade dos Poetas Mortos. A ideia do dom de ser professor está encravada no inconsciente coletivo há muito sem que qualquer estudo científico tenha concluído que esta crença é real, ou melhor, até hoje incontáveis pesquisas foram realizadas sem que nenhuma delas apresentasse um modelo de professor preexistente, nato, resumindo: aprendemos a ser professores (GREEN, 2015,p21).

A grande lição do aprender a ensinar é que, antes de usar repetições infindáveis de informações enfadonhas como base para o conhecimento e a simples correção de erros de exercícios aplicados aos alunos, devemos entender precisamente como o aluno chegou ao seu resultado, não interessando se ele acertou ou errou. Método: esta é a resposta, e isto só se adquire com muito treino.

O professor, como disse Albert Einstein fazendo comentário sobre a genialidade, necessita de 1% de inspiração e 99% de transpiração. Precisa estudar e aprender precisa errar... entender como errou e acertar, tornar o acerto cada vez mais preciso... entender como acertou, estudar mais e mais. Entender que quanto mais sabe, mais descobre quão pouco sabe.

Os “professores professores” devem entender que são eternos alunos de si mesmos e das experiencias externas.

O “professor professor” é um cientista, um pesquisador atento a cada aresta do complexo poliedro da sala de aula, com cada aluno ocupando posição única e independente, ora como receptor, ora como fonte e cada qual a seu tempo. Deve-se deixar bem claro que a correspondência entre ensinar e aprender é perfeitamente biunívoca e que o conhecimento é a função que rege esta correspondência. O limite entre o aprender e o ensinar é tão tênue que não distinguimos quando começa um e termina o outro e que a existência de alunos precede a existência de professores.

O “professor professor” aprende, incessantemente, que sabe pouco e por isso precisa continuar a estudar para permanecer aprendendo e que este processo é eterno e ilimitado.

3. TALENTO X TREINO

Sim, devemos levar em conta que o talento é um bom tempero, mas não é o prato principal, ou seja, faz diferença, mas é insuficiente. Ninguém discute a capacidade especial de Pelé como jogador de futebol, mas quanto jogador ele seria sem preparo físico e sem muito treinamento? E, sem aulas de canto, sem técnicas de respiração quão cantores seriam Robert Plant, Fredie Mercury ou Cauby Peixoto?

Ouvi várias vezes de um grande amigo e jornalista David Coimbra: “-...Treino é tudo! ”. Certamente sua cultura e seu texto genial estão relacionados com os milhares de livros que ele lê (aprende-se a ler escrevendo e, lendo, escrevesse cada vez melhor).

Ensinamos estudando e ensinar é conhecer a opinião externa, é comparar, é criticar com base na comparação.

O conhecimento se desenvolve da mesma forma que as sinapses cerebrais: informações múltiplas, fontes diversas viabilizam a formação de novos caminhos que simplificam o atingimento de objetivos e a busca de novas metas. Estudar é criar novas sinapses, ensinar é usufruir destas recém criadas sinapses. A aprendizagem é o resultado do conhecimento, porém a aprendizagem não é concluída com o conhecimento, ela apenas encontra um “oásis” para descansar em meio a maratona infindável. Só percebemos a imensidão do oceano quando observamos o horizonte e, se nos dirigirmos nesta direção, veremos que o horizonte continua na mesma distância.

O “professor professor” inclui, associa, integra, não vê diferenças, observa individualidades. O “professor professor” sabe que “normal” nada mais é que uma questão estatística, um intervalo onde a população se concentra, seja a população cultural, econômica ou étnica.

Mas como treinar um professor? A experiência do ensino da matemática nas escolas japonesas é esclarecedora o aluno é incentivado métodos novos para soluções de problemas ao invés de, pura e simplesmente, calcular: o saber antecede o resultado, isto é, a escolha do caminho antecede a chegada ao destino.

A metodologia normal (e, novamente, entendamos normal como uma questão puramente estatística*1) nos oferece algo semelhante ao experimento mental de Schoredinger*2): o problema é proposto, a fórmula da solução é desconhecida (a “caixa” está fechada) e o resultado continua uma incerteza. O “professor professor” deixaria um orifício na caixa do experimento para despertar a curiosidade do aluno!

Toda ciência é exata, desde que conheçamos todas as variáveis envolvidas. Educar é uma ciência exata com comportamento paradoxal: as variáveis dependem tanto do resultado como o resultado dependem delas, em outras palavras, dominar o conteúdo a ser ensinado é condição necessária, mas não suficiente, também temos que conhecer cada aluno como único. O aluno é o resultado que altera as variáveis.

4. MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho foi realizado utilizando pesquisa bibliográfica com consulta aos volumes apresentados no item “Referências” e exaustivos debates entre os autores. PLATÃO e DESCARTES ofereceram a metáfora histórica a respeito do tema, enquanto que ELIZABETH GREEN proporcionou a visão atualizada e contundente sobre a realidade do comportamento dos professores nos Estados Unidos da América e no Japão. A pesquisa compilada é dirigida aos cursos de graduação em licenciatura.

*1: Normal: é a chance estatística de ocorrer determinado evento

*2: Erwin Rudolf Josef Alexander Schrödinger (pronúncia alemã ˈɛʁviːn ˈʃʁøːdɪŋgɐ) (Viena-Erdberg, 12 de agostode 1887 — Viena, 4 de janeiro de 1961) foi um físico teórico austríaco, conhecido por suas contribuições à mecânica quântica, especialmente a equação de Schrödinger, pela qual recebeu o Nobel de Física em 1933. Propôs o experimento mental conhecido como o Gato de Schrödinger e participou da 4ª, 5ª, 7ª e 8ª Conferência de Solvay. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Erwin_Schr%C3%B6dinger [consultado em 04-11-2018]

5. CONCLUSÃO

Esta é uma história sem final. O professor é o profissional que ensina e cria todos os outros profissionais, inclusive novos professores. Sabemos que talento direcionado é uma realidade (neurológica, quem sabe), porém, qualquer talento necessita de muito treino competente, caso contrário o talentoso se mediocriza. Sócrates não tinha certezas (“só sei que nada sei...”), Einstein se considerava um estudante obstinado (“O homem erudito é um descobridor de fatos que já existem, mas o sábio é um criador de valores que não existem e que ele faz existir...”), Descartes um insaciável explorador da verdade (“Muitas vezes as coisas que me pareceram verdadeiras quando comecei a concebê-las tornaram-se falsas quando quis coloca-las sobre o papel...”). Humildade para aprender sempre, entender que cada aula é uma peça inédita representada para uma plateia única, esta parece ser a fórmula que transforma o professor em “professor professor”.

Ser um professor hoje requer uma dedicação a mais sempre aprimorando nossos conhecimentos para tentarmos não ficar no passado com métodos atualizados baseados no conhecimento e habilidades que se consegue através de muito treino e técnicas didáticas. Fazendo um trabalho com resultados positivos em que o aluno adquira conhecimento para a vida, seja um ser pensante e possa se tornar um cidadão capaz e autônomo.

REFERÊNCIAS

DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo: Editora Abril, 1979.

PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1949.

GREEN, Elizabeth. Formando mais que um Professor. Indaial: Editora Boa Prosa, 2015.

("professor", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/professor [consultado em 04-11-2018].)

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