Ser Aluno ou ser Estudante, eis a questão
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br
É irrefutável a fala do professor, escritor e neuropedagogo Pierluigi Piazzi quando afirma que no Brasil tem-se milhões de alunos e pouquíssimos estudantes.
O professor simplesmente ressalta o analfabetismo funcional que é quando a pessoa simplesmente transforma letras em som, mas não consegue ou não tem capacidade em se trabalhar idéias e/ou entendê-las, ou seja, é mais um ser totalmente alienado e sem consciência crítica.
Com o atual sistema de ensino público, nossas escolas preparam apenas alunos, isto é, sujeitos passivos predispostos a manipulação para aumentar cada vez mais a massa de manobra.
As escolas não transformam estes alunos em estudantes, sujeitos ativos que produzem conhecimento útil para si e que possa também transformar o seu entorno.
Cabe ressaltar através de Fontes em seu texto A escuta pedagógica à criança hospitalizada: discutindo o papel da educação no hospital publicado pela Revista Brasileira de Educação. Maio/Jun/Jul/Ago 2005, No 29 que a pesquisa é uma forma de tornar o aluno em estudante, pois sem pesquisa é impraticável fazer a educação trilhar pela seara pantanosa a que nos encontramos, alicerçada pelas informações mediáticas e modismos fugazes.
E outra forma de transformar o aluno em estudante será através do letramento. No meu livro Gestão Pedagógica: Gerindo Escolas para Cidadania Crítica publicado pela WAK Editora em 2009 ressalto que o educando alfabetizado não usufrui dos benefícios que uma prática sociocultural pode lhe oferecer com o entendimento de textos mais complexos e elaboração de frequentes relatórios, além de explicitar de maneira inteligível a defesa de um pensamento crítico.
Através do letramento, insere-se uma prática cultural e sócio-histórica, agregando habilidades cognitivas do educando, e com isso, pode-se afirmar que um cidadão letrado se torna protagonista de seu entorno, desenvolvendo a capacidade de enxergar horizontalmente, perpassando seus limites e fazendo relação com as informações mesmo não inseridas no texto falado ou escrito, mas consegue vinculá-las em seu entorno sociocultural, favorecendo uma educação crítica e protagônica, levando os educandos a um pensar e agir crítico, fomentando suas capacidades de ação a uma melhor contextualização sem se deixar esbarrar na manipulação do sistema.
Logo, percebe-se que um educando letrado tem mais facilidade em se tornar um estudante, que buscará através da pesquisa e de seu discernimento verdades não manipuladas pelo sistema.
No livro Escola não é depósito de crianças: A importância da família na educação dos filhos, publicado pela WAK Editora em 2012, esclareço que a educação é um fato social que independe da autoridade, superioridade e coercitividade. Ela é uma influência que resulta em uma ação direcionada para mudanças na vida do sujeito que a praticou.
Percebe-se com isso que as escolas devem preparar seus educandos para serem estudantes e não apenas alunos a acatar imposições que usurpam a sua própria dignidade e perspectivas, tornando-os em verdadeiros néscios a acatarem idiotices impostas pelo sistema.
Estamos criando gerações de analfabetos funcionais pelo simples fato de privá-los do conceito de conhecimento como a gênese de tudo e também de não fomentar o estudo, pois como visto em muitas escolas públicas, a reprovação é quase zero, ou seja, o aluno desenvolvendo ou não o seu senso crítico, caberá ao professor passá-lo para a turma seguinte para que este possa dar continuidade as suas aprendizagens.
Com isso, contribuiremos com o déficit da educação e aumentaremos a miséria do país, visto que a pobreza não implica apenas no indivíduo estar privado de bens materiais, mas sobretudo dele estar privado de construir suas próprias oportunidades e estas oportunidades acontecerão aparecerão quando o mesmo tiver discernimento e não for mais um analfabeto funcional a ser visto apenas como mais um a compor o rebanho de idiotas dos políticos.