Secretaria de Educação e Arrogância
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
A educação é um dos braços fortes de qualquer campanha política, prometendo-se valorização dos professores, qualidade na educação, dentre outras utopias que por excesso de esperança e falta de percepção, o povo acaba se deixando levar pelas demagogias.
Temos vários contraexemplos e um bem atual aconteceu na Secretaria Estadual – Seduc-GO ao qual a secretária com o seu excelente currículo respondeu de forma ríspida o questionamento de uma professora sobre ter o ponto cortado por levar seu filho de 11meses ao médico e ter apresentado uma dispensa médica.
Interessante pontuar que nós que atuamos nas escolas, não somos profissionais de mesa e tampouco ostentadores de currículos enquadradas nas paredes.
O verdadeiro professor está em sala de aula, ou como se diz, no front de batalha, assim sendo, aproveitando a analogia com a guerra, é o profissional que caminha na terra de ninguém, “no man's land”, isto é, nas guerras de trincheiras, a terra de ninguém é a parte mais perigosa por se tratar do espaço entre a sua trincheira e a do inimigo.
Hoje lecionar realmente é uma guerra em que se vence uma batalha ou outra e perde-se muitas, pois os inimigos da educação pública municipal e/ou estadual são exatamente as pessoas que poderiam ser nossos reforços, como secretários da educação arrogantes e sem experiência em sala de aula ou em qualquer contexto escolar, governadores e outros políticos que desvalorizam a classe docente e sucateia as escolas, alguns familiares que negligenciam suas responsabilidades perante seus filhos em relação ao acompanhamento escolar e cobranças indevidas por um simples falto de terceirizar a escola o que é de sua legítima obrigação, política educacional que empurra nos profissionais seus projetos estéreis com o intuito de criar uma geração alienada, enfim, é uma guerra que os educadores lutam sozinhos.
Este texto me permite usar a primeira pessoa já que observo cobranças de escolas pedindo mais participação dos pais negligentes que percebendo que seus filhos encontram-se debilitados mesmo necessitando de uma atenção por parte deles, sendo encaminhados assim mesmo para as escolas sem as mínimas condições de permanecerem, o que as vezes implica a escola em ter que acionar os socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), prestar socorros aos discentes que necessitam de atendimento.
Diante das cobranças da presença dos pais, alguns gestores se esquecem que seus professores também são pais e precisam dar atenção a seus filhos.
Assim como é cobrado a participação da família na escola, o professor acaba sendo ausente nas escolas de seus filhos, e infelizmente em algumas situações encontram-se obrigados a terceirizar a responsabilidade de levar ao médico o que ele tem de mais sagrado em sua vida que é o seu filho.
É muita hipocrisia de gestores que punem professores por priorizarem a saúde dos filhos ou a própria saúde.
Quando escolhemos um profissional para lidar com pessoas, não podemos nos limitar a currículos, pois currículo oriundo de boas instituições não formam caráter e tampouco humanizam as pessoas.
Que a arrogância explicitada nos gestores possa um dia ser substituída pela empatia e pelo verdadeiro compromisso com a educação de qualidade que perpassa pela valorização dos profissionais, e cabe pontuar que valorizar o profissional não se trata apenas de um salário digno como ressaltado pela secretária da Seduc-GO ao se gabar que o professor recebe o piso salarial, aliás, o piso é o mínimo aceitável.
Valorizar o professor, é respeitá-lo como profissional, como cidadão e principalmente ser humano que apesar de ter um trabalho a cumprir por meio da docência, tem em concomitância a sua responsabilidade como pai e/ou mãe e que este dever jamais poderá ser terceirizado.
Assim sendo, cabe a qualquer gestor ter seu plano de contingência para eventuais faltas e não punição como ocorreu com a professora que levantou o questionamento do porquê ter o dia cortado por ter levado seu filho de 11 meses ao médico e dias depois ser dispensada da função.
Isso é desumano, arbitrário e de extrema prepotência.