15/04/2021

Saúde Mental dos Professores Durante Pandemia

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

Conceitos preconcebidos são normais em uma pessoa mal instruída, todavia isso não pode virar regra em uma sociedade, já que a informação encontra-se acessível a todos. Dito isso, cabe lembrar que esta pandemia em concomitância ao isolamento não facilitou em nada a vida do professor, muito pelo contrário, tem custado uma sobrecarga aos docentes com sérias consequências a curto e médio prazo, o que já está abalando a sua saúde mental.

Giano et al no artigo O conceito de saúde mental para profissionais de saúde: um estudo transversal e qualitativo, publicado em 2018[1], esclarecem embasados nas definições da OMS que saúde mental "é entendido como um constructo de natureza subjetiva, fortemente influenciado pela cultura".

Os autores complementam ao aduzirem que também é "um estado de bem-estar no qual um indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses cotidianos, pode trabalhar produtivamente e é capaz de contribuir para sua comunidade".

De acordo com a pedagoga Guimarães[2], falta na sociedade um pouco mais de empatia e respeito ao professor, pois na maioria das vezes suas aulas se limitavam em ir a uma instituição educacional, lecionar sua disciplina que obviamente, já encontrava-se tudo preparado como a devida programação e atividades. É certo que o trabalho do professor não se limitava apenas a instituição gerando assim outras funções como diários, correções dentre outros labores pertinentes a tarefa de lecionar.

É certo que a pandemia trouxe consigo uma nova maneira de se trabalhar, e isso pegou muitos professores de surpresa. Entretanto eles demonstraram o quão são capazes de continuarem com esta missão de educar a duras penas, o que tem custado sua saúde mental.

Hoje, o lecionar em época de pandemia implica em aulas por whatsapp, meet, aulas gravadas e lives, Exige também conhecimento de algumas plataformas virtuais e isso sem se abster as normas da Base Nacional Comum Curricular - BNCC. Além de tudo isso, o professor ainda tem que preparar atividades diferenciadas/adaptadas, linkando sempre com o código da referida habilidade.

Vale ressaltar que as atividades não podem ser nem muito longas e tampouco resumidas demais, e o enunciado deve estar contextualizado com a realidade do educando já que a aprendizagem tem que desenvolver um conhecimento pertinente ao seu contexto. Dito isso, conteúdo lecionados não podem ser difíceis senão os alunos não assimilarão seus afazeres e em contrapartida, não podem também ser fáceis demais, pois caso sejam, os alunos não se sentirão desafiados.

Como se não bastasse, o professor tem que procurar vídeo adequado para ilustrar a aula e este não pode ser longo demais e nem curto, além de procurar jogos educativos ou dinâmicas para trabalhar a ludicidade do educando; e tudo isso se justifica pelo simples fato do educando não ficar entediado com as aulas remotas.

Como se não bastasse todas estas atribuições, o professor agora tem que interagir com os pais, coisas que nem em reuniões e nem eventos escolares os pais se faziam presentes, só que agora, o professor tem que pesquisar gifs, emojis para enviar no grupo dos pais além de ter que gravar um áudio explicativo sobre o conteúdo enviado, sem contar que o educador tem que estar de prontidão para responder as dúvidas destes que geralmente não respeitam os horários de aulas do professor, pois as aulas não findam mais no final da tarde, já que o mesmo perdura por toda a noite ou de acordo com a vontade e disponibilidade dos responsáveis pelo educando.

Dando continuidade as suas funções, o educador tem também que fazer relatório, ficha de frequência, conferir, corrigir e/ou preparar atividades como PET (Programa de Educação Tutorial) e MAP (Material de Apoio Pedagógico), sem contar com os contratempos como problemas na conexão com a internet, celular sobrecarregado e travando e também notebooks tendo que ser formatados.

Paralelo a isso, tem a parte de formação on-line para os professores, com cursos e lives que nem sempre ajudam realmente as necessidades e/ou dificuldades dos educadores, reuniões pedagógicas totalmente infrutíferas além de outras atividades criadas pelas secretarias de última hora.

Diante tal cenário, os educadores se expõem a diversas situações e pressões das instituições, o que é corroborado por Silva et al no artigo Saúde mental de docentes universitários em tempos de pandemia, publicado em 2020[3], quando esclarecem que a situação reverbera no adoecimento, principalmente relacionada à saúde mental.

Para os autores desafios relacionados ao aprendizado do manuseio e também domínio das tecnologias da informação e comunicação implica em um estado de ansiedade em relação ao docente, pois devido ao seu profissionalismo, ele oferece o melhor que há em si e com isso ultrapassa o próprio limite.

Assim sendo, todos os esforços realizados pelo educador induz a ansiedade que afeta sua saúde mental, e cabe observar que outros males de mesma importância devem ser levados em consideração quando se trata de saúde mental, e estes são Mal-estar psicológico ou stress continuado; Depressão que é considerado por muitos o mal do século, Dependência de álcool e outras drogas; Perturbações psicóticas, como a esquizofrenia; Atraso mental, Síndrome do Pensamento Acelerado; Demências, Síndrome de Burnout, Síndrome do Pânico, dentre outros que obviamente influenciarão não só a saúde mental do educador como também psicomatizarão outros males.

Como ressaltado anteriormente, precisamos usar da empatia em relação ao educador e perceber realmente a sua importância, assim sendo, quando retornarmos as atividades normais, que o professor possa ter sua profissão reconhecida e valorizada.

 

[1] Para mais informações vide GAINO, Loraine Vivian et al . O conceito de saúde mental para profissionais de saúde: um estudo transversal e qualitativo*. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.),  Ribeirão Preto ,  v. 14, n. 2, p. 108-116,   2018 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762018000200007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  14  abr.  2021.  http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.smad.2018.149449.

[2] Viviane Evelyse Fernandes Guimarães, pedagoga há 17 anos na Rede Pública Municipal na cidade de Congonhas MG

[3] Para mais informações vide https://scielosp.org/article/physis/2020.v30n2/e300216/pt/

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×