07/05/2021

Sala Recursos: O Lúdico no Isolamento Social

Por Eci Maria Cordeiro Resende - Psicóloga, Psicopedagoga e Consultora em Educação Inclusiva

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E-Mail: ecicordeiro@yahoo.com.br

 

A psicologia foi uma área que me deu amadurecimento para entender o desenvolvimento humano, mas a sua junção com a psicopedagogia, fez-me contribuir com este desenvolvimento, e de forma especial, o desenvolvimento das crianças com Necessidades Especiais Educacionais que por demasiado tempo, foram excluídas da sociedade.

Santos em sua obra, ressalta que "temos o direito de ser iguais quando nossa diferença nos inferioriza e temos o direito de ser diferentes quando nossa igualdade nos descaracteriza", e cabe aqui complementar que a diferença em momento algum é para a pessoa se sentir excluída, já que somos seres singulares e cada um tem suas especificidades, entretanto, cabe a todos o respeito por estas singularidades, bem como um crescimento mais humanizado, já que Giles (1983, p. 28) elucida que "o homem se torna humano graças a educação", todavia é justamente esta educação que lhe permite uma melhor socialização com a sociedade de forma com que este possa se sentir inserido na mesma.

O isolamento social causado pela pandemia, fez o educador aprender e utilizar novas técnicas para trabalhar e encantar seus educandos, entretanto, os psicopedagogos tiveram seus trabalhos diferenciados, pois com as aulas remotas, os alunos com Necessidades Especiais Educacionais - NEEs foram privados das salas de recursos utilizados pelos psicopedagogos, em contrapartida, estes profissionais não deixaram desamparados seus educandos, revendo inclusive novas metodologias e inovando suas aulas, tendo o lúdico como uma forma de se trabalhar a imaginação e criatividade da criança, já que Pereira (2008) enfatiza ser ele o fulcro para contribuir com o desenvolvimento harmonioso de todas as capacidades físicas e intelectuais do educando.

O lúdico além de recuperar e resguardar as características infantis das crianças, ele também é visto como uma dinâmica de jogo de caráter libertário para uma educação que visa a autonomia do educando, assim sendo, Fontes (2005) esclarece que ao trabalhar de forma lúdica a imaginação e desejos do educando, o mesmo conseguirá exprimir seus sentimentos, criando fantasias e recriando realidades as quais ele tenderá a ser o seu protagonista.

Vale salientar que o lúdico se faz tão relevante no processo ensino-aprendizagem que Pereira (2008) concebe uma advertência quanto a redução das atividades lúdicas, afirmando que a mesma causa uma degradação no processo formativo da personalidade infantil.

D’Ávila (2006, p.18), é enfático ao afirmar que no ensino lúdico, se insere “conteúdos, métodos criativos e o enlevo em se ensinar e principalmente, aprender”, dito isso, o ensino remoto também permite fazer uso destas técnicas para que o educando possa assimilar o conteúdo ministrado, respeitando claro suas especificidades.

Educar crianças com NEEs é algo mágico para nós psicopedagogos e também para os pais e/ou responsáveis destas crianças, pois, mesmo que tais crianças apresentem um pequeno aclive na curva de aprendizagem, para os pais isso não passa despercebido, e se transforma em uma explosão de alegria em poder presenciar o crescimento de seu filho.

Para Axline (1975), o lúdico auxilia o educando na auto expressão, proporcionando assim, possibilidades de exercitar sentimentos e problemas, lidando com sensações de tensão, estresse, desgosto, frustração, insegurança, agressividade, fobias, irritação e confusão.

Tais informações são complementadas por Ribeiro (2002) ao aduzir que trabalhar o lúdico com educando faz com que o mesmo alcance uma estabilidade emocional e uma maturidade psicológica, o que é acrescentado por Bianconi e Caruso (2005) ao esclarecem que a criatividade levantada pela ludicidade, pode ser importante quanto ao processo de ensino aprendizagem, e a mesma poderá ocorrer através de uma linguagem teatral, produção de quadrinhos, oficinas, jogos, brincadeiras entre outros recursos lúdicos que darão sustentação ao processo em si.

Mendes, Broca e Ferreira (2009) deixam claro que o lúdico faz fluir a criatividade e sensibilidade humana de diferentes modos e formas e por meio dele, pode-se efetivar a criatividade e sensibilidade humanas de diferentes modos e formas facilitando as manifestações de carinho, atenção e afeto além de contribuir com a qualidade do relacionamento humano.

 

A dimensão lúdica não está comprometida apenas com o brincar, mas com a liberdade, a expressividade, a leveza e a espontaneidade. Dito isso, Rizzi e Haydt (1994) enfatizam que “através do lúdico as crianças aprendem conseguindo aliar a necessidade de brincar com o desejo de conhecer, o que facilita na compreensão de vários conceitos”.

O lúdico desperta prazer, descontrai socializa, insere o educando no processo ensino aprendizagem e faz com que ele lide com suas angústias, frustrações, estresses dentre outros sentimentos que o acompanharão em sua vida adulta.

Desta forma, o isolamento implicou sim no afastamento dos educandos na instituição escolar, porém não o privou do profissionalismo dos psicopedagogos que não medem esforços para que o processo educativo perpasse as salas recursos e alcance o seu educando com NEEs, ressaltando que seus direitos estarão não somente resguardados como também efetivados.

REFERÊNCIAS

AXLINE,V.M. Terapia de juego. México. 1975

BIANCONI, M. Lucia; CARUSO, Francisco. Educação não-formal. Cienc. Cult., São Paulo, v. 57, n. 4, Dec. 2005. Available from <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252005000400013&lng=en&nrm=iso>. access on 01  Mai 2021.

D’ÁVILA, C. M.,. Eclipse do lúdico. Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 15, n. 25, p. 15-25, jan./jun., 2006.

FONTES, Rejane de S. A escuta pedagógica à criança hospitalizada: discutindo o papel da educação no hospital. Revista Brasileira de Educação. Maio/Jun/Jul/Ago 2005, No 29

GILES, Thomas Ransom.  Filosofia da Educação.. São Paulo: EPU, 1983.

MENDES, Lívia Rodrigues, BROCA, Priscilla Valladares, FERREIRA, Márcia de Assunção. A leitura mediada como estratégia de cuidado lúdico: Contribuição ao campo da enfermagem fundamental. Esc Anna Nery Rev Enferm 2009 jul-set; 13 (3): 530-36.

PEREIRA, Ruben Gonçalves. Onde está o lúdico?. Motri.,  Santa Maria da Feira,  v. 4,  n. 2, jun.  2008 .   Disponível em <http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-107X2008000200001&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  05  maio  2021.

RIBEIRO CA. O brinquedo e a assistência de enfermagem à criança. Enfermagem Atual 2002 nov-dez; 06-17.

RIZZI, L.; HAYDT, R. C. Atividades Lúdicas na Educação da Criança. São Paulo: Ática, 1994.

SANTOS, Boaventura de Souza. A gramática do tempo. Para uma nova cultura política. Porto: Afrontamento, 2006.

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