06/10/2015

Saída pela esquerda

Desde à revolução francesa costuma-se dividir o universo político em pelo menos dois grandes blocos ou lógicas: direita e esquerda. Nos tempos de Napoleão os membros da Assembleia Nacional que apoiavam o imperador assentavam-se à direita de seu presidente e os opositores à esquerda. Com o tempo foram sendo atribuídos à direita predicados como conservadora, reacionária, privatista, capitalista e opulenta e à esquerda identificada como anarquista, revolucionária, estatizante, comunista e socialista. No século XX, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, esta diferenciação tornou-se mais concreta com a criação de dois grandes blocos de nações, um capitalista de caráter direitista e outro comunista com tendência esquerdista.

Com a queda do muro de Berlim essa dicotomia dilui-se consideravelmente. Outro aspecto importante foram as sucessivas quedas de regimes ditatoriais de clara orientação direitista, como aconteceu no Brasil em 1985. No caso particular do Brasil, os remanescentes do regime direitista não entregaram o poder por reconhecerem passivamente a superação de suas condutas. Ao contrário, abandonaram o velho discurso e aos poucos migraram para os movimentos democráticos, sindicais e populares e a contragosto, assumiram o seu discurso. Mas apenas o seu discurso! Além disso, encontraram nestes movimentos alguns de seus líderes, dispostos a negociar novas adesões descaracterizando a legitimidade da própria esquerda.

No Brasil atual não se costuma atribuir muita importância para a identificação do pensamento direitista e esquerdista. Ao contrário para a direita, convém disseminar a ideia de que esta dicotomia não tem razão de ser e que agora é tempo de moderar discursos. Como dito, a direita em seu esforço pela moderação assumiu o discurso esquerdista, com rompantes piedosos de atenção aos pobres, miseráveis e excluídos. Um discurso absolutamente descolado do pensamento original e principalmente da prática. Aos poucos estes esforços seduziram alguns líderes de esquerda que acolheram generosamente seus irmãos direitistas, para enfim, conquistar o poder.

Mas a adesão de parte da direita teve e tem seu preço. Partidos políticos perderam completamente sua identidade; alianças uniram algozes e vítimas; acordos anularam convicções. No Brasil pós-ditadura, parte dos socialistas e liberais, revolucionários e reacionários dividem e sucateiam o Estado, criam partidos para negociar apoio legislativo por cargos executivos, enfim, promovem uma anarquia as avessas.  Como consequência disto o mais evidente subproduto é a corrupção. Além disso, a mescla produzida por alguns líderes esquerdistas famintos por poder e direitista viciados pelo protagonismo político de cinco séculos, praticamente destruíram a legitimidade esquerdista.

Por este descaminho repassa a ideia de que a esquerda foi diluída ou então que seu discurso está definitivamente superado. Mas por menos que seja reconhecido oficialmente é possível afirmar que sempre que algum Estado acolheu as demandas dos mais fracos e miseráveis foi pela esquerda. A prática de melhor redistribuição de renda, de educação libertadora e de políticas públicas inclusivas fundamentam-se em convicções esquerdistas. Assim considerando-se o Estado o ente protetor dos direitos fundamentais e a política, a arte de fazer com que estes direitos seja garantidos à todos é evidente que a saída é pela esquerda, pela boa e legítima esquerda.

Prof. Nilton Bruno Tomelin

niltonbt@sed.sc.gov.br

 

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