16/12/2022

Reprovação: Um Momento de Reflexão

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806

Provavelmente o título deste texto surtirá um efeito de reprovação, já que tem se entranhado na cultura brasileira de que escolas públicas não reprovam.
Esta afirmação nos remete a um passado em que a escola e os professores eram valorizados e sem hipocrisia, aprovar aluno sem que este tenha se empenhado o mínimo exigido, e olha que o exigido se encontra na tênue linha do sofrível no quesito nota, é simplesmente abrir mão de toda seriedade e profissionalismo por parte dos docentes.
Em muitas escolas públicas, o último mês letivo é para o professor, um mês de muito trabalho e estresse, isso porque quando o aluno recebe o resultado de seu rendimento escolar, alguns pais que jamais compareceram as reuniões, resolvem vestir as máscaras de bons pais e cobrar pelo trabalho do professor.
Como descrito no livro Escola não é Depósito de Crianças: A importância da família na educação dos filhos, publicado pela WAK em 2012, a família tem deixado suas crianças à revelia nas escolas públicas e se omitindo de suas funções e obrigações, assumindo em concomitância um papel mais tímido e mais apagado no dever de educar seu filho, reforçando o adágio de “pais ausentes, filhos inconsequentes”.
O Estatuto de Criança e do Adolescente ressalta que a responsabilidade em cuidar e educar os filhos é da família (Art. 4°/ECA), assim sendo, deflui do artigo 129, inciso V, que os “pais, além da matrícula, têm o dever de acompanhar a frequência e o aproveitamento escolar do filho [...] garantir a permanência, bem como observar e participar da evolução escolar da criança ou adolescente, avaliando seus progressos individuais e estimulando-os para que o estudo seja-lhes rendoso”, todavia, na hora em que o aluno recebe o resultado de reprovado, estes pais aparecem nas escolas reclamando do resultado, mas sequer sabem quais são os professores de seus filhos e nas reuniões marcadas pelas escolas, jamais compareceram.
É comprovado que o apoio da família no processo ensino-aprendizagem é de suma importância para o desenvolvimento educacional do educando, o que corroborado por SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica)
De acordo com o livro Educação um Ato Político, publicado pela Autoria em 2019, está havendo uma inversão de valores, fazendo da escola um fármaco para todas as mazelas contidas no educando, oriundas de uma família com pais omissos e levianos, que acreditam ser obrigação do professor fazer o papel dos pais que negligenciam a função da família na educação da criança.
Estes mesmos pais que delegam suas obrigações para os professores, se acham no direito de questionar as metodologias e critérios de avaliações utilizadas pelos educadores, perguntando o porquê de o filho ficar reprovado, ou o porquê do filho ter um número significativo de faltas.
O fato é que tais pais sequer têm controle do que seu filho faz ou deixa de fazer devido ao seu desleixo como responsável por sua prole e por isso cobra atitudes que jamais teve.
Interessante perceber que nas escolas públicas (rede municipal e estadual) para o aluno ficar reprovado direto é nada mais e nada menos que o puro descaso do próprio aluno e dos pais com a educação pública, já que a grande maioria das escolas oferecem recuperação paralela, aulas de reforços dentre outros recursos que auxiliam o aluno nesta seara, todavia, é explícito perceber que estes mesmos pais mal sabem a situação do filho no decorrer do ano.
Assim sendo, a reprovação do filho retrata a indolência do pai ou mãe que tem a função de resguardar e contribuir com a educação formal e não formal de seus filhos.
A vida é feita de fracasso e vitórias e reprovação não pode ser vista como fracasso, mas também como uma forma de aprendizagem, já que a reprovação em um ano escolar não é nada comparada com a reprovação na vida que exige ainda mais empenho de nossa parte como pessoas perante a sociedade.

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