15/08/2021

RELATÓRIO DE EXPERIMENTO: Controle de Estímulos

RELATÓRIO DE EXPERIMENTO: Controle de Estímulos

Acadêmica: Elisangela Antonia da Silva

Professor: Ricardo Aurélio

1. Introdução

A análise comportamental por meio de experimentos começou a se difundir no Brasil desde 1961 quando o Prof. Keller na Universidade de São Paulo, passou a utilizar dessa metodologia para as abordagens de suas aulas. Esse período marcou a questão do comportamento humano tendo por base a utilização de um conjunto de estímulos discriminativos para se chegar a um comportamento operante, observando-se ainda as contingencias no desenvolvimento desse processo (Garcia, 2009).

Em relação ao método experimental na Psicologia observa-se a possibilidade do investigador identificar e definir as variáveis as quais serão observadas no decorrer da pesquisa, possibilitando também a formulação de hipóteses que respondam ao problema inicial, relacionando ao controle de estímulos. Os investigadores podem ainda manipular as variáveis e coletar dados que possam levar ao resultado eficaz. É importante salientar que as variáveis externas devem ser controladas, diminuindo a possibilidade de impactar o potencial dos resultados (Nascimento, 2016).

A esse contexto denomina-se o behaviorismo, onde Araújo (2011) relaciona que a psicologia de Burrhus Frederic Skinner, o Behaviorismo, ou psicologia comportamental teve como principal foco de estudo dos estímulos externos recebidos pelos indivíduos e capazes de modificar seu comportamento. Skinner apostou no planejamento da educação para os diversos problemas que envolvem a aprendizagem.

Bock, Furtado e Teixeira (1992) elencam que o Behaviorismo, desde o início, mesmo considerando o comportamento como o objeto principal de estudo da psicologia, enfatiza que só é possível a existência de uma psicologia científica quando for possível relacionar os aspectos do comportamento humano com os aspectos do meio.

 Keller e Schoenfeld (1970) salientam que o behaviorismo dedica-se a estudar o comportamento humano diante da relação que mantém com o meio onde este é desenvolvido pelo indivíduo. Assim, diante da complexidade existente comportamento e meio diante da importância para uma análise descritiva na psicologia, estudiosos chegaram aos conceitos de estímulo e resposta para referenciar os termos anteriores. O estímulo e a resposta são denominados como unidades básicas que descreve o comportamento e o ponto de partida para o desenvolvimento da ciência do comportamento. Por esse foco, o homem é estudado como um produto do processo de aprendizagem o qual percorre desde a infância, ou seja, é compreendido como um produto de associações que se estabelecem no decorrer da vida entre os diversos estímulos (do meio) e respostas (manifestações do comportamento).

O behaviorismo radical de Skinner apresentado por Shultz e Shultz (2002) e entendido como Análise Experimental do Comportamento, é uma forte influencia nos estudos da psicologia em relação ao comportamento humano em várias partes do mundo. A formulação da teoria de Skinenr está centrada no condicionamento operante em relação ao estímulo.

De acordo com Skinner (1970) os métodos behavioristas tem ênfase na área da educação e da aprendizagem e é compreendido como métodos de ensino programado, controle e organização dos contextos que enfocam a aprendizagem. A análise experimental do comportamento skineriana auxilia na descrição dos comportamentos nos diversos contextos averiguando a possibilidade de modificá-los.

A construção do conceito de comportamento operante por Skinner só foi possível após diversos estudos de comportamentos diversos chamados de reflexos ou respondentes, como por exemplo, o fechar e abrir os olhos por meio do estímulo de luz ofuscante. Skinner desenvolveu estudos observando-se os estímulos reforçadores, onde considera reforço tudo o que pode ser utilizado para atingir uma determinada resposta. O reforço positivo está relacionado com acrescimento de um evento para aumento da possibilidade futura de resposta e o reforço negativo ocorre quando a diminuição de determinado evento aumenta a possibilidade de uma resposta futura. O estudo do comportamento ocorre aleatoriamente ao estudo dos eventos que podem influenciar as pessoas a determinado comportamento por meio dos estímulos recebidos (Serio et. al., 2002).

Sidman (1986) salienta que a análise do comportamento demonstra a importância de uma resposta a sua consequência, assim como da resposta às condições ambientais nas quais foi emitida.

 

O reconhecimento da contingência de dois termos como uma unidade de análise, por mais simples que pareça, deve ser considerado como um marco no desenvolvimento da análise comportamental. O comportamento que parecia controlado por eventos futuros, uma anomalia científica problemática, poderia agora ser visto como tendo sido gerado por contingências passadas. Uma importante área da cognição, o “propósito”, foi pela primeira colocado sob um bom arranjo cientifico. Não era mais necessário invocar “expectativas”, “antecipações” ou “intenções” hipotéticas para trazer os determinantes do futuro para o passado ou o presente; poder-se-ia, ao invés disso, indicar as contingências reais que tinham ocorrido (Sidman, 1986, p.217).

 

A esse respeito referencia ainda Souza (2001) sobre a contingência, observando que esta “pode significar qualquer relação de dependência entre eventos ambientais ou entre eventos comportamentais e ambientais” (p. 82). Esta enfatiza como a probabilidade de um evento ser afetada ou causada sob perspectiva de outros eventos, ou seja, um evento pode ocorrer tanto na presença de um quanto na ausência de outro. Analisar as contingências é importante para o processo de identificação de elementos que se fazem presentes em determinada situação, podendo ser verificada a existência ou não uma relação dependente entre ambos.

A variável independente do experimento é a manipulação da relação cor (cartões) e lado (caixa).

A variável dependente do experimento é o comportamento de escolha do participante em relação ao estímulo.

O objetivo do experimento foi verificar o estabelecimento do controle de estímulo diante da mudança de contingência.

 

2. Método

2.1 Participantes

 

Os participantes do experimento foram três acadêmicos do Instituto de Ensino Superior de Goiás. O primeiro participante cursa o 6º semestre de Enfermagem, o segundo participante cursa o 2º semestre de Direito e o terceiro participante cursa o 2º semestre de Direito.

Como critério de inclusão dos participantes, observou-se que estes deveriam estar nos semestres posteriores ao 2º ou 3º, pelo fato de ocorrer a possibilidade dos semestres anteriores já terem participado do experimento em algum momento.

 

2.2 Material

 

            Para a aplicação do experimento, os materiais utilizados foram, cartões nas cores azul e verde, 2 caixas, 1 mesa, 1 cadeira, fichas nas cores amarelas e brancas, doces diversos.

           

2.3 Procedimentos

O experimento foi realizado por meio da aplicação de um teste composto por três fases distintas. Foram confeccionadas fichas nas cores verde e azul, as quais foram demarcadas nas três fases, somando um total de 20 tentativas em cada uma das três fases. Inicialmente escolheram-se os participantes de forma aleatória, no ambiente da instituição, estes foram levados até a sala onde ocorreu o experimento e a eles foi explicado sobre o experimento e explicado sobre as regras.

Após a explicação dos procedimentos, os mesmos sentaram-se em uma cadeira, frente a uma mesa com duas caixas localizadas, uma a direita e outra a esquerda. O aplicador iniciou a apresentação das fichas para que os participantes pudessem apresentar suas escolhas. A eles foram entregues cartões brancos, para que ao escolherem a caixa inserissem os respectivos cartões. A cada acerto os mesmos recebiam a ficha de cor amarela.

Observou-se que os mesmos iniciaram os testes ansiosos, errando em algumas das apresentações dos cartões, porém, ao entenderem o procedimento de estímulo começaram a desenvolver o controle dos mesmos. Ao final dos três fases, o participante poderia trocar suas fichas por doces, levados pelos acadêmicos que observaram o experimento.

Os resultados da aplicação do experimento nas três fases foram tabulados e transformados em dados estatísticos por meio de três gráficos. Sendo estes para a 1ª fase, 2ª fase e 3ª fase. A seguir a tabela (1) apresenta as fases do experimento, assim como as tentativas executadas por todos os participantes e as respectivas cores dos cartões utilizados como estímulo em cada uma das fases.

Tabela 01: Fases do Experimento

Fase 1

20 tentativas

Fase 2

20 tentativas

Fase 3

20 tentativas

Ficha Azul = Caixa da direita

Ficha Verde = Caixa da direita

Ficha Azul = Caixa da direita

Ficha Verde = Caixa da esquerda

Ficha Azul = Caixa da esquerda

Ficha Verde = Caixa da esquerda

 

3. Resultados

Gráfico 1: Fases do Experimento

              Os resultados apresentados no gráfico mostram que o segundo participante conseguiu atingir 100% de acertos diante da observação dos cartões na primeira fase, o terceiro participante atingiu 90% de acerto na primeira fase e o primeiro participante conseguiu acertar 50% na observação dos cartões e escolha da caixa correta para inserir a ficha.

Referente a segunda fase do experimento, o segundo participante atingiu 95% de acertos em relação a observação dos cartões e escolha da caixa para inserir a ficha branca, o terceiro participante atingiu 90% de acertos e o primeiro participante atingiu 80% de acertos.

            Os resultados apresentados por meio do gráfico demonstram que o primeiro participante atingiu 90% de acertos na terceira fase na observação dos cartões e escolha da caixa para inserir a ficha branca, o segundo participante atingiu 85% de acertos e o terceiro também atingiu 85% de acertos nessa última fase.

4. Discussão

A aplicação do experimento teve como objetivo analisar o controle de estímulos por indivíduos em determinadas situações. Diante das observações iniciais no experimento, foi possível constatar que este não conseguiu perceber a contingência em vigor sobre como estava sendo conduzida a atividade, levando-o a desconcentração dos estímulos apresentados, ou seja, dos cartões com as cores azul e verde e qual o critério de escolha da caixa para inserir as fichas. Ficou apreensivo em um primeiro momento, apresentando certo nervosismo ao observar os cartões apresentados pelo professor. Posteriormente começou a ficar mais confortável e a estabelecer um sistema de ordenamento das observações que estava realizando e a realizar a inserção das fichas de maneira mais consciente ao estímulo. Após o final do experimento, foi explicado sobre as regras e o participante relatou que só após algumas tentativas é que se deu conta de que havia uma sequência, tanto nas cores apresentadas como nas escolas que deveria fazer para inserir a ficha em uma das caixas. Foi realizada a contagem das fichas amarelas recebidas, das quais entre 60 tentativas o participante acertou 44 vezes a opção da caixa para inserir a ficha branca. Foi explicado ainda que as fichas amarelas fossem um reforço positivo a cada estímulo que ele recebesse de maneira positiva e acertasse a caixa correta para inserir a ficha. O tempo de realização das três fases do experimento foi de 7 min. e 48 segs. Após esse momento, as fichas do participante foram trocadas por doces, como forma de recompensa por participar de tal experimento. 

Na realização do experimento com o segundo participante, observou-se que o mesmo apresentou tranquilidade desde o primeiro momento em que foi explicado sobre os procedimentos da atividade. O participante ficou atento quanto a troca dos cartões, das cores e também do estímulo recebido e da resposta a qual deveria ser realizada. Ao participante foram dadas as 60 tentativas, sendo 20 para cada fase e foi possível notar sua atenção mediante as alternativas apresentadas. A realização do experimento com o participante teve como tempo de duração 7 min. e 31 segs. O participante teve 56 acertos em relação a observação dos estímulos. É importante relatar que a atenção do participante desde o momento da explicação dos procedimentos do experimento foi importante para que o mesmo conseguisse manter-se atento a todo o processo realizado, e que esteve atento também aos comportamentos de todos os envolvidos no experimento, possibilitando uma margem de acertos maior do que a do primeiro participante. Ao finalizar o experimento, o participante relatou que conseguiu identificar no desenvolvimento da atividade a mudança de estímulos e a variação de escolhas da caixa para inserção das fichas brancas recebidas a cada troca de cartões, o que leva a considerar que os 4 erros estão ligados diretamente a observação da mudança de comportamento dos aplicadores do experimento por meio do controle de estímulo expandido.

A realização do experimento com o terceiro participante observou-se que o mesmo demonstrou tranquilidade ao serem passados os procedimentos da atividade e ainda que o mesmo demostrou atenção diante da observação dos estímulos e das escolhas (respostas) sobre a inserção das fichas brancas, recebidas como reforço, nas respectivas caixas. Observou-se ainda que ao serem realizadas as mudanças de fases (contingência) nos estímulos o mesmo não demonstrou atenção, momento em que não conseguiu acertar alguns estímulos. Já na terceira fase do experimento, o participante atentou-se para a mudança de estímulos, possibilitando maior número de acertos nesta fase. O experimento durou 7 min. e 11 segs. Após o término do experimento o participante relatou que em alguns momentos não se concentrou nas cores apresentadas nos estímulos, o que diminuiu as possibilidades de acertos diante da mudança de contingência. Diante do número de acertos, 53 entre 60 tentativas, o participante relatou que não utilizou nenhum critério ou padrão para escolher a caixa a medida que os estímulos eram apresentados.

Diante das observações realizadas no experimento, com os três participantes, é possível afirmar que houve controle de estímulos para cada fase na apresentação dos cartões coloridos e que mesmo invertendo os estímulos o comportamento dos participantes foi sensível à mudança de contingência.

Como sugestão para o experimento, observa-se que este poderia ser realizado em um ambiente neutro, com participantes escolhidos pelo aplicador e não pelo grupo de expectadores, de maneira que não ocorra a possibilidade de manipulação dos estímulos.

 

Referências

Araújo, L. (2011). Skinner e o behaviorismo. Disponível em http://www.infoescola.com/psicologia/b-f-skinner-e-o-behaviorismo/, acesso em 23 de novembro de 2017.

Bock, A.; Furtado, O.; Teixeira, M. (1992). Psicologias: Uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva.

Garcia, A. S. (2009). A análise comportamental interagindo na gestão de recursos humanos em uma empresa. Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/G200044.pdf>. Acesso em 26 de novembro de 2017.

Keller, F. S. E Schoenfeld, W. N. (1970). Princípios de Psicologia. São Paulo: Herder e EDUSP.

Lakatos, E. M. A.; Marconi, M. de A. (2006). Fundamentos da metodologia científica. São Paulo: Atlas.

Nascimento, M. (2016). O método experimental em psicologia. Disponível em: <https://www.Sociais-Aplicadas/Psicologia/O-M%C3%A9todo-experimental-em-psicologia-1127527.html>. Acesso em 20 de novembro de 2017.

Serio, T.M.A; Andery, M.A; Gióia, P.S; Micheletto, N. (2002). Controle de Estímulos e Comportamento Operante. São Paulo: Educ.

Sidman, M. (1986). Funcional analysis of emergent verbal classes. In Thompson, T. E Zeiler, M. D.(orgs). Analysis and integration of behavior units. Hilssdale, NJ, Erlbaum.

Shultz, D.P. & Shultz, S. E. (2002). Teorias da Personalidade. Ed. Pioneira Thomson. São Paulo.

Skinner, B. F. (1970). Ciência e comportamento humano. Brasília: Ed. UNB e FUNBEC.

Souza, D.G. (2001). O que é Contingência. In Banaco, R. A. (org.), Sobre Comportamento e Cognição, Vol. I, Ed. ESETec. Santo André.

 

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×