Red Pill: A Banalização da Violência Contra a Mulher
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
Apesar de nossas leis tentarem resguardar a integridade física e psicológica da mulher, ainda esbarramos em interpretações tendenciosas e misóginas ou até mesmo na subjetividade da lei.
O termo "Red Pill" é conhecido como pílula vermelha e faz menção ao filme Matrix, no qual Morpheus oferece a pílula vermelha a Neo, dando a oportunidade de conhecer a verdade por trás da ilusão da Matrix — ou, no nosso caso, do sistema.
Trata-se de um movimento misógino propagado pela internet por meio de pessoas que se autodenominam coaches, com discursos preconceituosos que instigam a violência contra a mulher, inclusive banalizando o assédio e a agressão física.
Temos, inclusive, influenciadores como o "Calvo do Campari", que virou referência no quesito masculinidade, com vídeos alcançando mais de 500 milhões de visualizações ensinando como o homem recupera seu poder[1].
A ideia do "Red Pill" é despertar para a verdadeira realidade, que seria representada pelo poderio das mulheres, fazendo com que o sexo dominante (masculino) perca espaço e poder, especialmente nas relações afetivas e nos ambientes institucionais[2].
Nas falas de Silva e Hennigen (2024) [3], existe um mundo paralelo chamado "machosfera", e em seu contexto, é refutado tudo o que vem da natureza feminina; eles acreditam ser uma ilusão a ideia de que as mulheres um dia foram subjugadas.
Para as pesquisadoras, as pessoas que fazem parte deste universo "Red Pill" carregam em si um sofrimento muito grande; todavia, este sofrimento é direcionado às feministas e às mulheres, fazendo delas as responsáveis por suas mediocridades e incompetências. E acreditem, para estes indivíduos inseguros e incompetentes, elas são as únicas culpadas.
O pior é que existe um livro escrito pelo "Calvo do Campari" ensinando que não basta expandir a consciência, é preciso criar a realidade em seus termos. E o autor deste livro é alvo de novo pedido de prisão após denúncia de agressão e tentativa de estupro[4].
E ainda há pouco tempo, um caso com dois feminicídios foi registrado no mesmo estabelecimento, o de uma professora e o de uma psicóloga. O assassino, que em seguida se matou, tinha um perfil violento e extremista, apontado pela própria família[5].
Durante a reportagem, foi narrado que ele assediava moralmente e sexualmente as mulheres, e como elas não declinaram ao assédio, começou a rusga — isto porque, para o "Red Pill", mulher não pode declinar a um homem.
Enfim, são pensamentos assim que permitem mulheres serem humilhadas, violentadas e assassinadas, e para complicar ainda mais, são situações banalizadas nas quais as verdadeiras vítimas seriam os homens.
Dito isso, a escola é a instituição que deve trabalhar a igualdade de gênero, desconstruindo estereótipos e sendo o elo forte no combate contra a discriminação, instigando sempre uma sociedade mais justa e humanizada.
Ela tem que ecoar a voz do NÃO ao machismo, à violência e exigir de seus alunos o respeito e, no mínimo, a civilidade pela diversidade.
[1] https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2025/12/02/entenda-o-movimento-red-pill.ghtml
[2] https://www.politize.com.br/o-que-significa-redpill/
[3] SILVA, Ana Carolina Weselovski da; HENNIGEN Inês. Misoginia Online: A Red Pill no Ambiente Virtual Brasileir. Revista Feminismos. UFBA. Vol 12, N1 - jan – jun/2024.
[4] https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2025/12/01/influenciador-thiago-schutz-e-alvo-de-novo-pedido-de-prisao-apos-denuncia-de-agressao-e-tentativa-de-estupro.ghtml
[5] https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2025/12/02/irma-de-mulher-morta-no-cefet-diz-que-houve-negligencia-e-cobra-punicao.htm