06/06/2019

Reclamações e Protestos

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

            Interessante perceber a atomização proporcionada pelas redes sociais. Esta fala de Leandro Karnal nos faz refletir e perceber que realmente, é por meio de tais redes que qualquer pessoa poderá publicar algo, entretanto, este benefício não tem o mesmo olhar segundo Humberto Eco, já que para ele a internet promoveu o idiota da aldeia a ser um portador da verdade.

            A verdade de acordo com o Papa Francisco, não é relativa, ela é relacional, pois apesar dela expressar o real, o modo como ocorre a apreensão pelo sujeito é que irá diferenciar dos demais, já que esta verdade estará ligada ao contexto real de quem a recebe.

            Para Aristóteles a verdade nada mais é que uma característica do discurso, ou seja, é um poder de convencimento da retórica do outro sobre você, mas o objetivo aqui não é filosofar sobre verdade e sim, ter uma compreensão de que a mesma pode ser vista sob prismas diferentes, tanto que a própria ciência está sempre buscando a verdade e Sócrates já dizia que “só sei que nada sei”.

            Dito isso, o texto partirá para a verdade relacional, ou seja, sob o contexto das pessoas e não da ética, da ciência ou até mesmo religião.

            Há pouco tempo, tive a oportunidade de ler algo que uma pessoa de cultura invejável postou em sua rede de relacionamento. Resumidamente tal pessoa afirmou que não é reclamando que se muda o mundo e que nós brasileiros precisamos exigir menos direitos e aceitar mais as obrigações e deveres. Que o ato de reclamar e protestar não se passa de uma ideologia ensinada para quem não sabe nada e assim a pessoa que protesta acredita que está fazendo algo em prol da sociedade.

            Esta frase informativa não deve sobrepor a reflexiva. Afinal de contas, isso não deve se tornar um silogismo.

            Pessoas também reclamam justamente por terem conhecimento de causa e não se conformarem com desmandos e com as arbitrariedades do sistema, e por isso alguns políticos perceberam que a educação é um perigo, visto que ela faz o indivíduo pensar, questionar e querer mudar o seu entorno.

            Interessante perceber a fala deste indivíduo com a sua verdade e nesta sua verdade, está enraizada um teor ideológico o que não entra em discussão aqui, mas Freire já afirmava a existência de duas pedagogias, uma dos dominantes que impera a prática da dominação e outra a pedagogia dos oprimidos que faz a educação surgir como prática de liberdade, e protestar e/ou reclamar é uma liberdade em prática.

            No livro Educação um ato político, escrito por mim e publicado pela Editora Autografia em 2019, ressalto as falas de James Farner Jr., no filme o grande debate quando narra sobre desobediência civil. De acordo com Farner em um discurso “Santo Agostinho disse - Uma lei injusta não é uma lei para todos. O que significa que eu tenho direito, até mesmo o dever de resistir. Com a violência ou a desobediência civil. Você deve orar para que eu escolha a segunda.", e o protesto neste caso, não passa de uma desobediência civil.

            A desobediência civil mostra que nem todos aceitam o título de cidadãos domesticados subalternamentes e que tais protestos sirvam como termômetros para que o governo veja onde precisa melhorar, mas para isso ele precisará ter um pouco de hombridade e humildade para reconhecer suas falhas, dando força assim democracia, representando o seu povo e não uma elite.

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