Realidade Imaginada
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
A educação alcançará um de seus objetivos quando seu educando conseguir desenvolver todo seu potencial necessário para se transformar em um ser crítico e protagônico, assim sendo, este mesmo educando saberá quando a história representa um marco na sociedade ou quando a mesma é uma realidade imaginada, ou seja, um fato romantizado mascarando uma verdade que não pode ser percebida.
A manipulação é algo comum em nossa atual conjuntura, pois a anticiência torna-se predominante na política e os fake news têm mais forças que fatos.
Dito isso, pode-se perceber nas falas de Harari eu seu livro Sapiens - Uma Breve História da Humanidade, publicado pela L&PM em 2016 que o contar história se resumia em convencer as pessoas a acreditarem nela, pois a maior dificuldade não está em contá-la, mas em fazer as pessoas acreditarem.
Apesar da haver manipulação, para o autor, uma realidade manipulada não é considerada uma mentira, já que quando a realidade é compartilhada por todos, esta passa a ter uma credibilidade o que a faz exercer certa influência no mundo.
Interessante perceber que quando você insere esta realidade imaginada na vida das pessoas, você direta e/ou indiretamente acaba construindo a identidade dele, pois Castells, em seu livro Paraísos Comunais: Identidade e Significado na Sociedade em Rede, publicado pela Paz e Terra em 1999 ressalta que do ponto de vista sociológico, toda e qualquer identidade é construída, desta forma, com as realidades imaginadas as identidades vão sendo construídas e as pessoas manipuladas, aumentando cada vez mais a alienação e concomitância a perpetuação de um poder corruptor e nefasto.
Corroborando com Castells, Harari faz a seguinte uma observação de que a imensa diversidade de realidades imaginadas, inventadas por nossos ancestrais resultaram em padrões de comportamento que são os principais componentes para a cultura, e esta nunca cessara de se transformar e se desenvolver e tais alterações irrefreáveis são denominadas de história.
Harari em seu outro livro intitulado Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã, publicado pela Companhia das Letras em 2016, esclarece que o estudo da história tem o objetivo de nos livrar da submissão ao passado.
Para o autor, movimentos que tem o intuito de mudar o mundo começam por uma reescrita da história, permitindo assim reimaginar o futuro. Segundo Harari, se quiser que trabalhadores façam uma greve geral, ou que mulheres assumam que são donas do próprio corpo ou até mesmo que as classes subjugadas exijam seus direitos políticos, a primeira coisa a se fazer é recontar a história.
Observe o poder que o sistema educacional tem nas mãos, ou melhor nos livros, o que dá sentido as falas de Neves em seu livro Educação e Política no Brasil de Hoje, publicado pela Cortez em 1999. A autora é enfática ao afirmar que apesar da escola ter o seu papel de formar intelectuais, é fato que "historicamente os sistemas educacionais capitalistas vêm desenvolvendo mecanismos de filtragem social para garantir o acesso diferenciado aos diversos graus e ramos de ensino que terminam por privilegiar o acesso e permanência no sistema escolar dos representantes da classe dominante e de seus aliados".
Desta forma, pode-se complementar nas falas de Harari que a história não é uma narrativa única, mas milhares de narrativas alternativas. Sempre que escolhemos contar uma delas, escolhemos também silenciar outras, mas qual a veracidade das que escolhemos contar?
Para o autor, é importante perceber que a medida que acumulam poder, as burocracias se tornam imunes aos próprios erros. Sendo assim, elas são capazes de mudar a realidade para adequá-la as suas histórias.
Assim sendo, observe que um professor de história deve buscar informações além de seus livros didáticos e cruzá-las, fomentando no aluno a busca pelo discernimento, contextualizando com o fato ocorrido em tal época referida.
Dito isso, pode-se perceber que história e politização não podem ser desvencilhadas, pois quando o aluno entender sobre a história de seu povo, perceberá que muitos erros poderão ser evitados.