17/05/2023

Racismo Estrutural, Espaços de Poder e epistemicídio

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RACISMO ESTRUTURAL, ESPAÇOS DE PODER E EPISTEMICÍDIO

 

Willian Xavier Lopes, graduando em Filosofia,

pela Universidade Federal de Santa Maria, 16 de maio de 2023.

 

Resumo:

Este texto aborda como o racismo estrutural influência os espaços de poder, resultando nas condições para a reprodução do racismo epistêmico. O racismo estrutural é um sistema de opressão enraizado nas estruturas sociais, políticas e econômicas, que privilegia certos grupos raciais em detrimento de outros. Isso leva à sub-representação e exclusão de grupos raciais em posições de poder, resultando na marginalização do conhecimento e das perspectivas desses grupos. O racismo epistêmico também se manifesta na construção de estereótipos raciais e na falta de diversidade nos espaços de poder. Para combater esse problema, é necessário promover a inclusão, a diversidade e uma educação antirracista.

 

Palavras-chaves: Epistemicídio, Racismo Estrutural, Poder

 

Abstract:

This paper addresses how structural racism influences spaces of power, resulting in the reproduction of epistemic racism. Structural racism is a system of oppression rooted in social, political, and economic structures that privileges certain racial groups over others. This leads to the underrepresentation and exclusion of racial groups in positions of power, resulting in the marginalization of the knowledge and perspectives of these groups. Epistemic racism also manifests itself in the construction of racial stereotypes and lack of diversity in spaces of power. To combat this problem, it is necessary to promote inclusion, diversity, and anti-racist education.

Keywords: Epistemicide, Structural Racism, Power

 

I.

Ao examinar como o racismo estrutural influência os espaços de poder, podemos observar que certos grupos raciais estão subrepresentados ou excluídos desses espaços, enquanto outros têm mais acesso e influência sobre as decisões tomadas. Essa desigualdade resulta na reprodução do racismo epistêmico, que se refere à marginalização e desvalorização do conhecimento e das perspectivas de grupos racializados.

Quando os espaços de poder são dominados por pessoas de determinadas classes, as perspectivas e experiências desses grupos são consideradas como a norma e como o conhecimento "legítimo”. Em contrapartida, o conhecimento produzido por grupos marginalizados é muitas vezes ignorado, rejeitado ou desvalorizado. Essa dinâmica perpetua uma hierarquia de saberes, na qual o conhecimento branco ou eurocêntrico é valorizado e privilegiado em detrimento de outras formas de conhecimento.

O racismo epistêmico também se manifesta na construção e reprodução de estereótipos raciais, que limitam a compreensão e a representação dos grupos marginalizados. Esses estereótipos são reforçados pela falta de diversidade nos espaços de poder, o que leva a narrativas unilaterais e incompletas sobre a realidade vivida por diferentes grupos raciais.

Para enfrentar o racismo estrutural e o racismo epistêmico, é crucial promover a inclusão e a representação equitativa em cargos de poder. Isso requer a implementação de políticas públicas e práticas sociais que visem a diversidade racial e a valorização de diferentes perspectivas e conhecimentos. É essencial também desafiar os estereótipos raciais arraigados e fomentar uma educação antirracista que reconheça e valorize as contribuições de todas as culturas e grupos étnicos. Essas medidas são fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, na qual o racismo seja confrontado.

I.I

Quando tratamos sobre o tema do racismo, há muito tempo os esforços é compreender este fenômeno da nossa sociedade, com isso, muito também se comparou com outros processos racistas em diferentes lugares, como de segregação racial nos EUA e África do Sul. Isso não significa que não exista racismo no Brasil, bem pelo contrário, os dados censitários no Brasil marca uma grande parcela desigual em parâmetros entre a população branca e negra, isso significa dizer que estamos longe de uma democracia racial. Houve uma tradição que analisava esse fenômeno sob a ótica da individualização e subjetividade, o que implica conceber o processo discriminatório descontextualizado da realidade social e política, situando em torno de uma dimensão psicologista e ética da relação violenta contra um indivíduo ou “grupo” de indivíduos.

Agora aceitamos uma noção mais adequada para entender essa violência praticada contra a população negra, essa concepção está associada entre sociedade e materialidade, funcionamento social e economia, a forma estrutural significa dizer que as práticas racistas vão além da funcionalidade das instituições, mas está na norma, das relações sociais e nas relações políticas, isto significa afirmar também que é presente na organização da sociedade.  De certa maneira existe duas tensões importantes do racismo estrutural, a primeira se estabelece em violência explícita e microagressões no cotidiano das instituições, na qual se reproduz através de piadas, silenciamento, isolamento, etc.

A segunda se apresenta na própria funcionalidade dessas instituições, de modo que os espaços de poder e de decisão, em generalidade, são ocupados por pessoas brancas, e isso é próprio do racismo estrutural, o funcionamento discorre para que as pessoas negras não compartilham também desses espaços. Essa é uma das tensões que implica o racismo estrutural e está em conformidade com negar conhecimentos, histórias e saberes de povos raciais não hegemônicos, classificado como epistemicídio. O epistemicídio é um tipo de racismo que nega a produção intelectual e a validade dos saberes não-ocidentais. A colonização modificou a estrutura destas sociedades, com isso invalidou os saberes e os conhecimentos, reduzindo-as por meras crenças e pseudosaberes sempre apresentados através de uma lógica eurocêntrica, a partir disso inviabilizou os saberes desses povos. Até hoje esses saberes são negados pelas instituições, a escola, a universidade, a igreja, etc. O racismo estrutural faz com que as instituições reproduzam o racismo, nesse sentido é necessário mudar as práticas sociais de dentro desses espaços.

I.I.I

A Lei 10.639 de 2003, surge nesse contexto, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira, nesse cenário é obrigatório com o que os professores da educação básica adéque seus planos de ensino, para que possa abranger esses saberes e conteúdos intelectuais inviabilizados pelo colonialismo. Para que isso ocorra é necessário também que os cursos de formação de professores/as reestruturem seus currículos, a fim de criar espaços que contemplem disciplinas que fornecem a oportunidade de acessar a esses saberes, de mesmo modo, os professores do ensino superior precisam adicionar homens negros e mulheres negras nas suas ementas e bibliografias, a fim que a própria instituição acadêmica não perpetue o racismo epistêmico.

 

Bibliografia

ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. Pólen Produção Editorial LTDA, 2019.

NOGUEIRA, Renato. O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639. Rio de Janeiro, RJ. Pallas (2015).

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