Química: Ciência sempre presente

Por Elenir Souza Santos Rocha. Professora Associada do Instituto Multidisciplinar em Saúde, Campus Anísio Teixeira - UFBA, em Vitória da Conquista - BA
Química: Ciência sempre presente
A Química é a ciência que tem como objeto de estudo a matéria, a qual compõe todos os objetos que existem. No decorrer da história da Química, diversos cientistas fizeram descobertas consideráveis, que afetam a forma como compreendemos o mundo e permitem uma série de progressos nas indústrias e na sociedade. Encontramos química em todos os setores da sociedade, desde as mais simples realizações até tecnologias mais avançadas como a nanotecnologia, sempre presente a Ciência Química. O alcance, a abrangência e a relevância da Química para o bem-estar da humanidade na terra são fatos incontestáveis. Infelizmente, é também incontestável seu alto grau de capacidade para o mal! E, não raro, é este aspecto da Química que é mais destacado pelas pessoas. Diante disso, a relevância de instruirmos crianças e jovens com princípios, altruísmo e discernimento. Faz-se necessário desfazer o preconceito largamente disseminado sobre a Química e seus efeitos, que são potenciais, mas não obrigatoriamente maléficos.
O estudo da matéria é feito desde os primórdios da humanidade. Na Antiguidade, a busca pelo controle da pureza de metais preciosos, como o ouro e a prata, objetivando à prevenção de falsificações, era um processo significativo para os líderes das comunidades. No entanto, apenas no primeiro século que ocorreu o primeiro registro de um teste químico, realizado por um naturalista romano chamado Plínio, o Idoso. Porém, só em 1661 é que foi surgir o vocábulo análise química, usado pelo cientista Robert Boyle. Essa definição foi estabelecida por ele no intuito de caracterizar as medições químicas que eram feitas em diferentes amostras de água, metais e medicamentos, entre outras.
Um pouco sobre alquimia
Desde a sua origem, a humanidade procura compreender o funcionamento da natureza. Faz muito tempo que o homem tenta estudar os fenômenos químicos. O paradigma que, por dois milênios, guiou os estudos e a prática buscando entender as associações, as maneiras e as transformações que passa tudo que constitui o mundo material. A Alquimia foi cultivada sob diversos aspectos e configurações, a depender do povo que a desenvolveu, ficando conhecida como a alquimia alexandrina, chinesa, hindu, persa, árabe e a ocidental, ou latina. Os filósofos, já na Grécia Antiga, procuravam responder às questões a respeito da origem do ar, e de tudo o que havia no planeta. O primeiro filósofo a afirmar que toda a matéria tinha por essência a água, foi Tales de Mileto. Enquanto o primeiro a propor que toda matéria seria composta pelos elementos água, terra, fogo e ar, teria sido Empédocles. Os alquimistas detinham conhecimento em diversas áreas do conhecimento, Astrologia, Astronomia, Física, Química, entre outras. Tinham como principal objetivo, conhecer o processo da transformação de metais e procuravam desenvolver a composição do elixir da longa vida. A alquimia se propagou em diversas civilizações, como chinesa, hinduísta, egípcia, árabe e europeia.
Da alquimia à química
A estreita passagem da Alquimia para a Química, é permeada por diversas histórias. Isso se deu entre meados dos anos 1600 e finais dos 1700. A história conta que o início dessa estreita passagem se deu entre o Químico céptico de Robert Boyle, em 1661, e o final, com Antoine Lavoisier, em seu Tratado elementar de química, em 1789. E o mais incrível, que isso não aconteceu com uma grande descoberta, com algo extraordinário, como a descoberta do elixir da longa vida, como era o esperado, ou do oxigênio ou uma das sete maravilhas do mundo, mas o ponto célebre dessa história, para muitos, hoje, pode parecer irrelevante. No entanto, é de grande importância, por se tratar da padronização dos modos de pensar e atuar no laboratório, traduzida nos dias de hoje por materiais e métodos.
Importância da Alquimia para a Química
A alquimia lidava com ideias e fórmulas consideradas sigilosas, pois traziam segredos de ofício e até de Estado. Deste modo, dificilmente havia divulgação destes receituários e, portanto, cada conhecedor ou grupo de estudiosos detinham diversificadas maneiras de pensar e operar sobre a matéria. No decorrer dos anos, os trabalhos desenvolvidos pela alquimia favoreceram o surgimento da Química, uma ciência que estuda as matérias encontradas na natureza, suas propriedades e sua relação direta com o ambiente e todos os seres vivos. Não tem como descrever o aparecimento da Química sem se voltar à alquimia. O nascimento da alquimia e da própria Química acabou se perdendo em tempos que não se tem registros. Não é possível declarar, com certeza, quando cada uma delas teve início. Assim sendo, a Alquimia é de suma importância para o surgimento da Química Moderna. Assim sendo, a Alquimia é de suma importância para o surgimento da Química Moderna. Além do mais, como todo progresso, a transição entre elas não ocorreu instantaneamente. Contudo, diante das pesquisas realizadas, pode-se considerar que a alquimia existiu entre os anos 300 a.C. e 1500 d.C. e teve seu início em Alexandria, cidade fundada em 331 a.C., na foz do Rio Nilo, por Alexandre, o Grande.
A ciência química
A Química é a ciência que estuda a matéria, sua constituição, organização e propriedades, bem como as transformações sofridas por ela durante as reações químicas e sua relação com a energia. O aprimoramento da química, como ciência, baseou-se nas investigações de experimentos, sendo por isso, considerada uma ciência experimental.
Muitos consideram o cientista irlandês Robert Boyle o precursor da química moderna, pois ele executou experimentações planejadas, em meados do século XVII, demonstrando generalizações por meio delas. A despeito dos conhecimentos de Boyle, ainda assim, muitos concebem como pai da química moderna, o francês Antoine Laurent Lavoisier, que viveu no século XVIII.
Essa consideração é devida ao seu trabalho, apontado como o marco do estabelecimento da química moderna, o conceito de conservação da massa, ocasionando assim, a chamada Revolução Química. As aquisições de Lavoisier se tornaram referência para que outros cientistas propusessem suas teorias, como aconteceu com John Dalton, que no início do século XIX, sugeriu o primeiro modelo atômico.
A partir destas conquistas, a química experienciou imenso desenvolvimento investigativo, teórico e metodológico durante o século XX, em especial, pela instituição da mecânica quântica, bem como dos métodos espectroscópicos e das mais variadas metodologias, ocasionando com isso, o descobrimento de novos fármacos, a determinação da estrutura química de moléculas, como o ácido desoxirribonucleico e o requinte das teorias já existentes.
A química para o bem da humanidade
Desde os primórdios da antiguidade que a ciência química está presente em nossa vida, acentuadamente. Mesmo sem pensarmos nesta ciência, ela se faz presente e indispensável no nosso cotidiano. Foi a partir do XVII que ela passou a ser vista como uma ciência. Considerada uma ciência experimental, pois são realizados diversos experimentos em laboratório com a finalidade de corroborar teorias e instituir modelos. Apesar de já ser considerada ciência, nesse período, os cientistas eram altamente influenciados pelos alquimistas.
O desenvolvimento econômico e tecnológico depende diretamente da Química. O que seria das artes, da construção civil, da agricultura, da indústria aeroespacial, da informática e tantas outras áreas, se não existissem os processos químicos? Não existe setor ou serviço que não utilize em seus procedimentos ou mercadorias, algum material de origem química. Quaisquer que sejam as áreas em que se pensar, em nosso cotidiano, podemos enxergar a química inserida. Nas reações do nosso corpo, na alimentação, no celular, no computador, na construção civil, na farmácia, na medicina, nas roupas, nos calçados e em tudo mais que a nossa mente conseguir pensar e idealizar, eis a química como ferramenta elementar e ou auxiliar.
Ramos da química
A Química é apontada, muitas vezes, como ciência central porque faz a ligação entre outras ciências como a Física e outras ciências naturais, a exemplo da Geologia e da Biologia. É vista como uma ciência exata, juntamente com a Física e a Matemática. Ela detém papel indispensável no progresso tecnológico, pois a aplicação dos seus conceitos e técnicas possibilita a aquisição de novas substâncias, além de importar-se com medidas para impedir danos e exploração inadequada do meio ambiente.
A química como componente curricular está dividida em áreas, para facilitar o seu estudo e compreensão. As disciplinas de química são enumeradas, em suma, em Química Inorgânica, Química Orgânica, Bioquímica, Físico-Química, Química Analítica e na atualidade, pode-se citar nesta divisão, o ensino de química.
Química Inorgânica
Pode-se considerar que a Química Inorgânica principiou o seu progresso, mesmo antes da existência da Alquimia, em que reações químicas foram executadas e seus produtos utilizados no dia a dia das pessoas. Ela tem a finalidade de estudar os compostos que não possuem átomos de carbono coordenados em cadeias. As substâncias inorgânicas são aquelas que geralmente tem origem no reino mineral. Essa área da química estuda as propriedades dos elementos químicos, a estrutura das substâncias e as transformações que ocorrem com a matéria.
Química orgânica
Inicialmente, a Química Orgânica estudava compostos que eram encontrados apenas em organismos vivos, como animais e vegetais, por isso, recebeu essa designação. Em 1825, Friedrich Wöhler (1800-1882), médico alemão, sintetizou a ureia ((NH2)2CO), uma substância orgânica de origem animal, em laboratório. Diante disso, a definição ficou obsoleta, sendo assim, substituída. Diante disso, ficou fundamentado que os compostos orgânicos são de origem vegetal, animal e artificiais.
Química Analítica
A Química Analítica é outra área da Química, responsável pelo aprimoramento e estabelecimento dos métodos de identificação, separação e quantificação de constituintes em uma amostra. Ela está presente nos demais ramos da química, pois o objetivo principal é o desenvolvimento de métodos para a determinação da composição química dos materiais e o estudo da teoria em que se baseiam esses métodos.
Ela é dividida em Química Analítica Qualitativa e Química Analítica Quantitativa. A Qualitativa é responsável pela identificação de um ou mais componentes em uma amostra, sem levar em consideração a quantificação destes componentes. Enquanto a Quantitativa é responsável pela quantificação dos componentes de uma determinada amostra.
Físico-química
O estudo das reações químicas está diretamente relacionado com este ramo da química. Ela aborda os mecanismos e explicações para a ocorrência de fenômenos físicos e químicos, relacionados aos elementos. Neste contexto, as propriedades e comportamento das substâncias em meio aos processos, são abordados, de forma que se consiga explicar o porquê de sua ocorrência. Ela estuda as propriedades físicas e químicas da matéria, proporcionando meios para interpretar e dominar os processos que ocorrem no desenvolvimento das reações químicas.
Bioquímica
A Bioquímica tem como foco principal, a química dos processos biológicos que acontecem em todos os seres vivos, destacando a estrutura e função de constituintes celulares. Dentre eles, proteínas, carboidratos, lipídios, ácidos nucleicos e outras biomoléculas. Em meio às Ciências, é a única ciência que surgiu no século XX. Atualmente, a bioquímica tem se concentrado de forma mais específica na química das reações enzimáticas e nas propriedades das proteínas. O estudo da bioquímica se processa na parte fluida do sangue, embora seja focada na análise da estrutura e função dos componentes celulares, isto significa dizer que ocorre no plasma ou no soro, visto que a parte líquida diz respeito ao meio de condução das células e para as células e sua constituição reflete a situação celular do organismo.
Ensino de química
O ensino de Química pode ser considerado uma área da Química, pois pressupõe a transformação do conhecimento científico/químico em conhecimento escolar e envolve os demais ramos da Química. Essa mudança configura a necessidade de se investigar a melhor forma para a compreensão dos processos químicos, imprescindíveis para o desenvolvimento da humanidade. Para Chassot (1990), o motivo de ensinar Química é a formação de cidadãos conscientes e críticos: “A Química é também uma linguagem. Assim, o ensino da Química deve ser um facilitador da leitura do mundo. Ensina-se Química, então, para permitir que o cidadão possa interagir melhor com o mundo”.
Considerações finais
A Química propicia um subsídio primordial à humanidade com tudo que se possa imaginar quanto necessário e fundamental, a exemplo de matérias-primas, nas diversas áreas da indústria alimentícia, farmacêutica, têxtil, construção civil, transporte, comunicação, entre outras. A química pode ser considerada como a ciência que move o mundo, pois sem ela, muito do desenvolvimento que tem se observado ao longo da história não seria possível. Entendê-la é fundamental para que se possa compreender o universo e tudo que nos cerca. Cada dia que passa, mais necessária se faz para a nossa sobrevivência, pois tudo que desfrutamos hoje pode ser associado à Química enquanto Ciência. O fato da Química ser considerada a Ciência central é devido a composição de toda matéria ser composta por substâncias químicas. Viva a Química! Viva a vida!
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