É possível perceber como as mulheres vão superar os homens no mercado de trabalho a partir de uma informação colhida pelo Datafolha em investigação sobre qual é o maior sonho dos jovens brasileiros. Para 20% das meninas entre 16 e 17 anos, o maior sonho está ligado a um bom diploma universitário, o dobro da taxa dos meninos da mesma idade. Na pesquisa, o entrevistado tinha direito a uma resposta.
Esse é um detalhe do universo de expectativas dessa camada de cerca de 54 milhões de jovens brasileiros que, pela ordem, têm os seguintes sonhos: emprego, habitação, estudo. São pontos bem concretos: apenas 1%, por exemplo, coloca como maior sonho acabar com a violência. É a mesma porcentagem dos que desejam ser jogadores de futebol.
Aposta-se basicamente no trabalho e no estudo: somente 1% dos entrevistados imaginam que vale a pena sonhar em ficar rico ganhando na loteria.
Uma das possíveis novidades da eleição presidencial é a juventude subir ao topo da agenda -essa é a proposta da ministra Dilma Rousseff, aclamada pré-candidata do PT à sucessão de Lula.
Em busca de um discurso que marque sua candidatura e, ao mesmo tempo, arrecade votos, Dilma informa que colocará a juventude como um dos eixos de sua campanha.
Há tempos venho dizendo que não existe maior bomba social do que a questão da juventude, com seus milhares de seres com baixas perspectivas. Podemos traduzir essa bomba de vários jeitos.
Um deles, o mais óbvio, pela violência que infesta as cidades. Outro é o fato de que, apesar do alto nível de desemprego no país, 1,6 milhão de vagas no mercado formal de trabalho não foram preenchidas por falta de mão de obra qualificada. À medida que as mulheres estudam mais, elas tendem a ocupar mais espaço.
No cardápio jovem de Dilma, aparecem promessas que vão do acesso à banda larga, estímulos à compra da casa própria a linhas de créditos especiais e avanços educacionais. Tudo, por enquanto, vago, como convém a uma disputa eleitoral.
A verdade, porém, é que essa tarefa de apoio à juventude depende muito menos de um presidente, por mais dinheiro que tenha, do que dos prefeitos e governadores. Fora disso, é conversa de palanque.
Quando chega à adolescência, o indivíduo sem recursos é uma síntese das mais variadas carências, iniciadas no berço e acentuadas com os anos. Entre elas, não saber ler nem escrever direito.
Apoiar com consistência a juventude significa melhorar o ensino médio, onde se localiza um dos grandes buracos negros nacionais. Estudos mostram que os adolescentes não veem utilidade nas aulas, desconectadas da realidade e do mercado do trabalho. Por todos os lados, faltam professores, especialmente em ciências e matemática.
Não consigo ver nenhum plano consistente para a juventude que não esteja centrado no ensino médio em tempo integral. E que, nele, o tempo integral não se traduza em vivência cultural dentro e fora da escola, além de cuidados com a saúde física e mental. Ou seja, a escola precisa ser um polo articulador.
Há, entretanto, avanços a serem registrados: o maior deles é a consciência da importância dos cursos profissionalizantes.
É uma proposta que abriu espaço na agenda da gestão Lula. Mas quem sai na frente é José Serra, que, em São Paulo, realizou uma medida simples: ocupou as salas vagas das escolas estaduais com cursos técnicos. Economizaram-se R$ 240 milhões e abriram-se 27 mil vagas.
Montou-se, assim, uma porta de saída. O grau de empregabilidade desses cursos é de 78% já no primeiro ano depois de o aluno se formar.
Temos a vantagem de que as empresas estão desesperadas correndo atrás de trabalhadores qualificados, um gargalo para o crescimento econômico. É uma linguagem capaz de sensibilizar o poder e os próprios empresários a investirem mais em educação. Esse é o assunto que ocupa cada vez mais a atenção das entidades empresariais.
É um sinal de que o assunto não deve ficar apenas nos palanques e exigirá muito mais do que a boa vontade de um presidente.
PS - Curiosidade sobre os jovens e as eleições: Dilma encontra sua melhor pontuação entre os jovens mais ricos (32%), bem maior do que na média dessa faixa etária (20%). Coloquei em meu site (http://www.dimenstein.com.br) os dados do Datafolha sobre a intenção de votos da juventude e seus sonhos. (Envolverde/Aprendiz)
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