19/05/2017

Quadro e giz: a eterna e útil lousa em sala de aula

Quadro e giz: a eterna e útil lousa em sala de aula

Cristiana de Cerqueira Silva Santana, Professora Adjunta da UNEB.

Resumo:

Esse texto aborda uma análise inicial acerca de uma experiência vivenciada em sala de aula acerca da importância da lousa/quadro e da necessidade de controle quanto ao uso exacerbado do Datashow. Consideramos que embora existam atualmente diversos recursos importantes disponíveis nas salas de aula, o quadro ainda permanece como recurso útil e necessário dentro das ações educativas.

Introdução

O quadro é considerado uma das tecnologias mais antigas relacionadas à troca de conhecimentos em sala de aula e ainda consiste em único instrumento didático em muitas escolas pelo Brasil afora.

O quadro inicialmente escuro, daí a designação ‘quadro negro’ surgiu no ano de 1800, na Escócia, e partiu da ideia de um professor de geografia que tencionava desenhar um mapa para seus alunos; para conseguir tal efeito visual uniu algumas placas de ardósia polida e assim o fez. Alguns anos após, em 1808, essa ideia já teria se tornado realidade em diversas escolas públicas norte americanas (Domingues, 2015).

Embora considerada uma tecnologia educativa antiga, mas, jamais desatualizada, a lousa é ainda muito importante. Do ponto de vista histórico a lousa representou um grande avanço educativo, pois:

Os professores agora tinham um recurso visual versátil, que era tanto livro (quando preenchido) quanto uma página em branco, ou melhor, em preto. E, o mais importante, tinham um ponto de foco, que atraia e mantinha a atenção dos alunos. O quadro negro, como passou a ser chamado, ilustra e é ilustrado. Os alunos não somente ouviam o professor, mas também viam o que ele falava (Domingues, 2015).

Passados tantos anos de existência dos quadros-negros e giz, ou das lousas brancas com marcadores, o seu sucesso nas salas de aula ainda é fato, conforme salienta Araújo (2017) “Contemporaneamente, as salas de aula são impensáveis sem um quadro-negro”.

Mas igualmente aos quadros é possível acrescentar que, pelo menos nos espaços das Universidades é difícil imaginar atualmente uma sala de aula sem ao menos a existência de um Projetor de Multimídia, também designado Datashow.

Embora atualmente muitas escolas e universidades apresentem diversos recursos tecnológicos para auxiliar as aulas, a tecnologia mais utilizada consiste, sem dúvida, no Datashow.

É, pois, sobre o uso do Quadro negro (lousa) e do Projetor de Multimídia, ou Datashow que esse texto se dedica. Não temos aqui nenhuma pretensão de esgotar essa discussão, mas, apenas de salientar seus usos potenciais em sala de aula, observado inclusive alguns cuidados no uso exagerado de tais recursos tecnológicos para usos didáticos.

O que exponho neste texto reflete um ponto de vista que tento discutir de maneira livre, sem me ater a uma discussão acadêmica, mas, antes disso repleto de observações e sensações pessoais. Assim, mais se assemelha a um pequeno relato de experiência vivida em sala de aula.

Uma experiência em sala

Em uma de minhas aulas na Universidade tive um pequeno problema com o notebook e dessa forma não pude utilizar o Projetor Multimídia (Datashow) na sala. Diante dessa situação tive que realizar a aula completa apenas com o recurso da lousa e do marcador, inclusive tendo que realizar desenhos para auxiliar as explicações enquanto os alunos iam acompanhando por fotografias dos livros.

Ao final da aula, para minha grande surpresa os alunos me informaram que tinham gostado muito daquela experiência. Isso me fez refletir:

- O sucesso da aula depende da familiaridade do professor com o tema, independente da tecnologia?

- O assunto daquele dia seria realmente melhor explanado apenas com o uso do quadro e do livro, ou o Projetor Multimídia poderia ter ajudado?

- Há alguma outra explicação relacionada especificamente ao tipo do recurso escolhido: Quadro ou Datashow?

Diante dessas dúvidas resolvi perguntar aos próprios alunos sobre qual/quais motivo/motivos os levaram a considerar a aula com recurso apenas do Quadro mais interessante. Também se isso acontecia em outras aulas dessa mesma disciplina, ou ainda se ocorria com as aulas de outros componentes curriculares e de outros professores.

Considero os posicionamentos e pontos de vista dos alunos importantes para a readequação de atitudes didáticas do professor em sala de aula, pois, nem sempre o professor conhece as necessidades de seus alunos, nesse sentido, acredito que é na interação dialógica em sala de aula que esses aproximações entre alunos e professores podem acontecer.

A turma estava representada por 28 alunos do curso de licenciatura em Ciências Biológicas, caracterizada em sua maioria por alunos do inicio do curso, do segundo semestre.

Dos 28 alunos em sala, 26 informaram preferir sempre as aulas assistidas apenas por meio do recurso quadro/lousa e marcador do que aulas somente com Datashow. Informaram ainda que preferem que se utilizem o Projetor Multimídia apenas para o essencial (figuras, vídeos, acessar páginas da internet, áudios, entre outros usos), ou seja, para permitir interatividade, mas que não se usem para esquemas textuais, que esses sejam escritos no quadro.

As justificativas desses alunos foram relacionadas ao ambiente escuro e demasiadamente aconchegante que o Datashow proporciona, além da excessiva rapidez da aula no uso exclusivo desse recurso. A seguir algumas das explanações dos alunos:

1) É que nas aulas em que se usam quadro/lousa a aula se dá com a luz acesa, não dá sono;

2) A aula quando é dada com uso contínuo do Datashow dá sono, deixa as reações mais lentas;

3) Durante a aula no quadro os professores demoram mais tempo esquematizando, desenhando, escrevendo, o que dá tempo para refletir melhor, o aluno acompanha a construção da ideia que o professor elabora para resumir no quadro;

3) A aula com uso exclusivo de Datashow é muito mais rápida, muitas vezes nem dá tempo de refletir direito e tirar dúvidas, além disso, ali a informação já está pronta, construída.

O primeiro ponto levantado pelos alunos foi com relação ao sono que apresentam em aulas com uso de Projetor Multimídia. Pode-se considerar que certamente o ambiente escuro durante as aulas realizadas com o Datashow levam a um estado de letargia. De acordo com Antônio:

Como a imagem projetada no anteparo (parede, telão, lousa, etc.) concorrerá com a luz de fundo do ambiente, o ideal é deixar o ambiente em situação de penumbra (Antônio, 2011).

Contudo salienta ainda o autor sobre a intensidade dessa luminosidade a ser usada em sala de aula:

Um ambiente muito escuro dispersa os alunos e dificulta a observação do professor, além de dificultar que o aluno possa fazer anotações em seu caderno durante a atividade. Um ambiente claro demais dificultará a visualização das imagens projetadas (Antônio, 2011).

Alguns estudos já apontam para essa situação, conforme salienta Lopes:

Se um educador sabe que um ambiente escuro aumenta os níveis de melatonina do organismo –hormônio do sono responsável por regular o relógio biológico, ele jamais vai apagar toda a luz da sala para dar uma longa aula com apresentação de slides (Lopes, 2017).

Vale considerar que mesmo que se apaguem parte das luzes e outras fiquem acesas, para a melhor visualização dos slides é sempre necessário algum grau de penumbra, o que em si já pode ser suficiente para causar sono.

Com relação ao outro ponto levantado pelos alunos, acerca da rapidez das aulas com Projetor Multimídia, de fato, o uso de slides em Datashow proporciona maior rapidez na exposição dos conteúdos, isso pode ser um ponto positivo, ou negativo, a depender da turma, do professor e do conteúdo. Muitas vezes essa rapidez pode ser negativa, pois, não dá o tempo suficiente para o aluno redimensionar a sua compreensão, principalmente quando o professor usa apenas esse recurso. Podemos também ponderar que apenas com o uso de slides as aulas podem se tornar em “roteiro tão rígido, que acabam tornando-se mecânicas em sua exposição, ou mesmo mecanizadoras em termos de aprendizagem” (Araújo, 2017). Essas são questões que o professor deve levar em consideração quando da escolha dos melhores recursos e estratégias por assunto. Assim, alternar recursos é o recomendado, conforme se posiciona Pena:

Embora seja um recurso pedagógico bastante importante, o datashow não é o único instrumento ou ferramenta que o professor possui. Assim, a dica é: procure alternar ou variar o uso dos projetores com outras ferramentas pedagógicas, incluindo o bom e velho quadro negro (Pena, 2017).

Portanto, com relação ao Projetor Multimídia, vale mesmo usá-lo de preferência para o indispensável: mostrar imagens, filmes e acessos à páginas da internet (quando não se tem computadores em sala), dentre outras tantas utilidades, mas para esquemas textuais ainda vale o quadro.

Considerações

Esse texto analisa apenas uma parte da situação, não sendo assim, uma visão pronta ou finalizada, mas acredito conveniente do ponto de vista das discussões das tecnologias voltadas à educação. Considero o Projetor Multimídia um recurso importante, pois, por meio dele podem-se usar trechos de vídeos, salientar imagens, acessar internet em aula, entre outras ações necessárias. Contudo, acredito que seu uso deva ser devidamente equilibrado com o uso do Quadro e com o uso de explanações, afinal, nada substitui as trocas de experiências e discussões em sala.

Referências

ANTONIO, J. C.. Uso pedagógico do Datashow, Professor Digital, SBO, 06 abril 2011. Disponível em: <https://professordigital.wordpress.com/2011/04/06/uso-pedagogico-do-datashow/> Acesso em: maio de 2017.

ARAUJO, J. C. S.. Entre o quadro-negro e a lousa virtual: permanências e expectativas. 17 p. ANPED. Disponível em: <http://www.anped.org.br/sites/default/files/gt04-2277.pdf> Acesso em: maio de 2017.

DOMINGUES, J. E.. Lousa e giz: você aproveita bem essa tecnologia? 2015, Blog: Ensinar História. Disponível em: <http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/lousa-e-giz-voce-aproveita-bem-essa-tecnologia/> Acesso em: maio de 2017.

LOPES, M.. Neurociência coloca em xeque a aula tradicional. Disponível em: < http://porvir.org/neurociencia-coloca-em-xeque-aula-tradicional/> Acesso em: maio de 2017.

PENA, R. A.. Uso do Datashow em sala de aula. Disponível em: < http://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/uso-data-show-sala-aula.htm> Acesso em: maio de 2017.

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