O que era para ser apenas mais um modismo entre os jovens virou preocupação para pais e diretores de escolas de ensino fundamental de Curitiba. As pulseiras coloridas e de silicone, febre entre os pré-adolescentes e adolescentes, têm exigido medidas de orientação por parte das escolas aos alunos para esclarecimentos sobre sua significação.
Muitos jovens usam as pulseiras sem saber realmente qual o significado das cores. E para isso tem explicação. Fazem parte de um jogo que teria surgido na Inglaterra, em que cada cor tem um significado de conotação afetiva ou sexual, que vai desde um abraço a relações sexuais completas.
De acordo com o “código das pulseiras”, a amarela significa abraço; a rosa, mostrar o seio; a laranja, dentadinha de amor; a roxa, beijo com a língua (talvez sexo); vermelha, dança erótica; verde, chupões no pescoço; branca, a menina escolhe o que quer; azul, sexo oral a ser praticado pela menina; preta, fazer sexo com quem arrancar a pulseira e dourada, fazer todos as ações citadas.
Bruna Caroline da Silva, 14 anos, aluna do Colégio Dom Bosco, diz que já usava a pulseira havia duas semanas e só agora soube do seu significado. "Nem fazia ideia desse significado que estão falando, mas acho uma bobeira. Eu não uso por ser um jogo e sim porque acho bonitinha. É colorida e está na moda", afirma.
Algumas escolas de Curitiba têm orientado os alunos para que tirem as pulseiras quando estiverem dentro das dependências da instituição. Miguel Paes Maia, 12 anos, aluno do Colégio Bom Jesus, ficou revoltado com a ideia de ter que tirar as pulseiras. “Todo mundo na escola usa, é uma besteira”, comenta. A mãe, Meire Paes Maia, diz que o medo dela é em relação às pessoas de fora das escolas que podem se aproveitar da situação para tentar algo. "O Miguel começou a usar as pulseiras por ser uma febre, todo mundo estava usando. Assim que soube sobre o jogo o orientei a tirar. Até que se prove que não é nada, que não passa de boatos, vou continuar instruindo o Miguel a não usar”, ressalta.
A sexóloga Halia Pauliv de Souza destaca que é importante o jovem ter uma maturidade para encarar essa situação. "Essa significação das cores das pulseiras mexe com a autoestima da pessoa. Os jovens precisam analisar se realmente precisam embarcar nesse jogo para conquistar ou seduzir alguém. Caso contrário podem ser encarados como simples objetos", salienta.
O presidente do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR), Ademar Batista Pereira, recomenda que as escolas aproveitem o momento para tratarem de um assunto delicado com os jovens. "Por se tratar de um assunto que muitas vezes não é discutido em casa, as escolas têm que aproveitar essa situação para orientar os pais e os alunos em relação à sexualidade", afirma.
Pereira diz que a imprensa deu um espaço desnecessário para o caso. "Tudo o que é "obrigado" chama a atenção das pessoas. Vejo como uma estratégia de marketing que deu certo. Essa pulseirinha vai vender bem mais com essa abordagem que vem sendo feita", complementa.
Os colégios de Curitiba têm esclarecido pais e alunos quanto à significação das pulseiras e quanto à utilização dentro das instituições, uma vez que cada uma possui suas próprias regras. De acordo com o assistente de alunos do Colégio Marista Paranaense, Silvio Duda, a instituição tem orientado pais e estudantes sobre a simbologia das pulseiras. "Dissemos aos alunos que não usassem dentro da escola. Passamos de sala em sala e também atendemos individualmente", explica. Segundo ele, a grande maioria dos alunos só foi saber desse jogo depois da divulgação na mídia.
As escolas não têm proibido os alunos de usarem, mas os orientaram a não comparecer às aulas com elas. De acordo com informações da assessoria de imprensa do Colégio Bom Jesus, a instituição também não proibiu os alunos de usarem, mas também os orienta a não irem às aulas com elas.
As medidas adotadas provocam indignação de alunos que não veem esse lado sexual do jogo, o qual foi mencionado pela imprensa. “Já uso faz tempo e não vou tirar. Nem sabia do jogo, fiquei sabendo porque colocaram um informativo na escola dizendo que não podiam proibir, mas que é para tomar cuidado. Só joga quem quer", diz a estudante Anna Carolina Dozorski, de 14 anos. “Se arrebentarem uma pulseira minha não vou fazer nada, não preciso entrar na onda, não sou obrigado a nada. Isso é uma besteira, eu já usava muito antes de falarem que é um jogo”, comenta o estudante Edgar Roberto Candido Luciano, 15 anos. Ambos os alunos estudam no Colégio Estadual Nossa Senhora de Fátima.
(Envolverde/Nota 10) |