03/08/2015

Projeto promove inclusão científica de surdos

 De acordo com dados do Censo Demográfico de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 2 milhões de pessoas no Brasil são portadoras de deficiência auditiva severa. Destas, cerca de 400 mil apresentam surdez profunda, um grau alto de surdez em que o indivíduo, mesmo com o uso de um aparelho auditivo, não escuta quase nenhum tipo de som. 

Vivian Rumjanek, pesquisadora da área de imunologia e oncobiologia do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IBqM), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que pessoas com esse tipo de surdez apresentam grande dificuldade com a língua escrita, colocando-as à margem do processo educacional. 

"O IBqM promove, em seus laboratórios, cursos de férias, com oficinas de biociências, voltadas para alunos do ensino médio e fundamental. Depois de algum tempo, resolvi estender o programa a jovens e adolescentes com surdez profunda", conta a pesquisadora. "Ao me deparar com a dificuldade que eles podem ter durante a aprendizagem, percebi que muitas palavras do vocabulário científico e vocábulos mais específicos não estavam presentes na Língua Brasileira de Sinais [Libras]." 

Com base nessa experiência, a pesquisadora e uma equipe de graduandos, mestrandos e doutorandos da universidade fundou, em 2005, o Projeto Surdos. O objetivo é promover a inclusão dos portadores da deficiência nas áreas científica e tecnológica. As iniciativas do projeto contam com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). 

Uma delas é a ação "Inclusão do surdo na sociedade atual através do conhecimento científico". Duas vezes por ano, são oferecidas aos jovens surdos capacitações nos laboratórios do IBqM ou em escolas públicas e museus. Nesses cursos, que têm duração de uma semana e a presença de intérpretes de Libras, os alunos fazem perguntas que são respondidas por meio de experimentos, como explicações sobre a coagulação do sangue e sobre o que é a hemofilia. As aulas são dirigidas aos estudantes, instrutores e professores do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines) e de outras instituições. 

"Buscamos oferecer a possibilidade deles se integrarem aos avanços da ciência e da tecnologia, aprendendo conceitos científicos com quem faz pesquisa, desenvolvendo o método e o pensamento científico em vez de simplesmente receber informações", conta Vivian Rumjanek. Os alunos que mais se destacam nos cursos ganham estágios de seis meses. 

No escopo do projeto, também está incluída a criação, em Libras, de um glossário científico e tecnológico. "Essa atualização é primordial para que os estudantes surdos possam ser incluídos no mercado de trabalho nessa área", defende a pesquisadora do IBqM. 

A cada novo curso envolvendo um tema diferente, novas demandas de terminologia são observadas, a partir da necessidade de utilização de termos para descrever aparelhos, fenômenos, órgãos e atividades científicas e tecnológicas. "Por exemplo, durante o curso de férias de 2006, surgiu um novo sinal em Libras para significar radioatividade, que foi rapidamente aceito e absorvido pelos surdos, da mesma forma como foi criado um novo sinal para definir uma centrífuga", explica Vivian. Todas essas novas palavras na linguagem de sinais são filmadas e catalogadas em DVDs e utilizadas nos cursos seguintes. Os DVDs são distribuídos gratuitamente e podem ser solicitados na página do grupo no Facebook.

Mais informações sobre o simpósio "Caminhos da inclusão: saberes científicos e tecnológicos" estão disponíveis neste link.

MCTI (02.08.2015)

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