07/03/2016

Progom e a Educação Pública

Paulo Freire é hoje para educação brasileira um ícone. No auge de pensamentos voltados para uma educação de qualidade, ele foi simplesmente perseguido e exilado, isso representava para história do Brasil uma “queda para as trevas da idade média”, porque se calavam todos pensadores que iam contra um regime totalitarista, culminando em movimentos de desobediência servil e aflorando nos artistas mais intelectualizados, movimentos sutis que tentavam fazer a massa amorfa pensar, o que teve como contrapartida o AI5, conhecido com Ato Institucional nº 5, ou seja, o mais duro golpe do regime militar.

O AI5 culminou na intervenção de municípios e estados, cassação de privilégio de foro por prerrogativa de função, suspensão ao voto nas eleições sindicais, proibição de atividades ou manifestações sobre assuntos de cunho político, liberdade vigiada, proibição de frequentar determinados lugares, domicílio determinado, suspensão do habeas corpus para crimes políticos e tal ato se estendeu também a música, teatro, cinema e imprensa devido a censura.

O intuito aqui não é reviver tal época nebulosa, marcada literalmente na carne e alma de muitos que convergiram com tal ideal e que por ironia, tinham seu cheiro preterido, pelo cheiro de um cavalo, ou seja, uma fala que nunca irá se calar e que representa o poder absolutista se resume em “Prefiro cheiro de cavalo do que cheiro de povo”.

Infelizmente, a mídia televisiva pouco fazia, ou por medo de uma repressão ou simplesmente por conveniência, ou seja, ela se calava,e/ou suas notícias não representavam os fatos em si, deixando prevalecer o manto da manipulação da verdade cobrir o real ali exposto.

O problema vivenciado na ditadura do Estado Novo e também do Golpe Militar fez uso do Progom que é um ataque violento maciço a pessoas, com destruição de seu ambiente e desconstrução de sua imagem.

Este conceito teve sua aplicação em passado remoto e ficou conhecido com a Noite de São Bartolomeu, na qual, resultou em assassinatos de centenas de protestantes por parte de católicos alienados e manipulados pela então igreja.

Em 1903, ocorreu o primeiro Progom de Kishinev. Tal fato se deudepois da morte de uma criança cristã e que muitos jornais antissemitas especularam que tal criança tinha sido morta por judeus, o que na verdade, o homicídio teve como culpado um familiar.

O ato em si é que isso tudo instigou ódio aos judeus e com isso, começou então a fazer uso deste conceito Progom, que teve como mais violento a ponto de manchar a história mundial ficou conhecido como holocausto, resultando em um genocídio de 2/3 da população judaica que residia na Europa.

Aqui no Brasil também passamos por alguns “Progoms” quando, tanto Getúlio Vargas quanto os militares caçaram, prenderam, torturaram, mataram e exilaram pessoas ligadas ao Partido Comunista Brasileiro, que teve como líder Luís Carlos Prestes, reconhecido mundialmente, fazendo com que sua vida fosse poupada na ditadura do Estado Novo, exceto a de sua esposa Olga, enviada aos Nazistas pelo governo para ficar em um campo de concentração ainda grávida, o que resultou mais tarde, em sua morte em uma câmara de gás.

Ressalta-se aqui que a ideia principal deste texto não é fazer apologia ao partido comunista e sim, mostrar que a mídia contribui para a difamação de uma imagem, generalizando ideias através de uma nunciopolítica voltada para a manipulação por meio de uma rede de ódio, tendo como fulcro falácias e silogismos falsos.

Isso tem seu reflexo na educação, pois aqui, voltamos ao primeiro instante da leitura deste texto em que se faz referência a um dos ícones de nossa educação brasileira que é Paulo Freire. Uma de suas ideias dizia “a educação não transforma o mundo. A educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”, o que é com essa máxima que os verdadeiros educadores se agarram acreditando que as coisas poderão mudar se seus educandos se transformarem, saindo de seu estado latente e servil para protagonista e com forte grau de discernimento.

Para que isso ocorra, faz-se mister sair de uma educação que ajude os educandos a pensarem e ensiná-los a pensar, fazendo com que estes fujam ao controle do pensamento, e assim tem sido nossa educação pública, um controle de pensamento para se perpetuar este sistema corrupto e corruptor, representado pelo câncer da sociedade que são nossos políticos.

Precisamos acreditar como Freire acreditava. Precisamos trabalhar como Freire trabalhou e mudou não o nosso país, mas a “pátria acadêmica” que o recebeu de braços abertos e que foi o berço para seus mais lidos livros “Educação como prática da liberdade”, “Extensão ou Comunicação” e, “Pedagogia do Oprimido”.

Precisamos de uma educação pública que faça seus educandos pensarem, criticarem, sintetizarem, tirarem conclusões, estabelecerem relações, avaliarem, refletirem, analisarem, justificarem e argumentarem, ou seja, precisamos de uma educação pública que desenvolva em seus educandos uma ação protagônica e não uma massa de manobra como é feito a décadas, mostrando até o que se deve pensar e como pensar. 

 

Wolmer Ricardo Tavares - Mestre em Educação e sociedade - www.wolmer.pro.br

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