19/10/2017

Profissão: Professor

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

            Um dos vieses da educação é a transformação do cidadão. É tirá-lo de seu estado bruto e lapidá-lo, tornando-o civilizado e mais humano.

            Ser professor nos dias de hoje, é uma árdua tarefa, principalmente em um país em que o descaso com a classe se faz gritante, principalmente quando existem reivindicações por parte dos professores, estes são calados com brutal violência, como se fossem horrendos marginais a receberem balas de borracha, mordidas de cães e cassetetes quebrando braços e ossos dos rostos dos profissionais que abraçaram a profissão de educar.

            São muitos os motivos que fazem uma pessoa deixar de lecionar e também são muitas as acusações por parte da sociedade que influencia neste abandono.

            Alguns motivos para ambos casos acima, estão relacionadas com falta de manejo com a turma, mas cabe uma simples pergunta: O que é manejo? Como ter manejo com uma turma indisciplinada, que apresenta a mínima ou nenhuma educação oriunda da família, que não tem respeito com o professor e seus próprios colegas, que mesmo sabendo de todos os problemas, o Sistema impõe que é proibido advertir o aluno, e mesmo quando o professor o adverte, acaba ele mesmo sendo advertido, ou pelos pais destes delinqüentes ou pelo próprio sistema representado pela promotoria, conselho tutelar e até mesmo Secretaria de Educação que tira a voz do professor, fazendo-o ser apenas um peão do tabuleiro.

            Lidar com gente realmente é algo difícil, pois lida com vaidades, conflitos, inseguranças, agressividades dentre outros sentimentos ainda mais ativos nos alunos, mas, os professores têm paixão no que fazem.

            Cabe aqui uma analogia da palavra paixão, pois ela acaba e quando acaba, fica mais difícil encontrar subterfúgios para enfrentar as mazelas escondidas por esta paixão, entretanto quando alimentada, nasce o verdadeiro amor, e assim tem sido a profissão de professor.

            Amor no que faz, o que converge com as falas da professora Mirian Goldenberg, colunista de Folha de São Paulo. Em seu texto “Dez motivos para comemorar o Dia do Professor”, é relatado por ela as queixas dos alunos que podem se tornar professores. São várias queixas como “trabalho estressante, desgastante, mal pago e, principalmente, sem reconhecimento social”, e isso é a mais pura verdade, e com certeza, poderíamos acrescentar páginas e páginas de queixas, mas que de nada valeria, pois quem realmente precisa ler estas matérias, estão ocupados planejando como lucrar com este comércio da corrupção, pois a corrupção hoje, pode ser visto como um comércio.

            Infelizmente são estas pessoas que têm força para mudar a realidade do professor, mas que sabe que se assim fizer, a sua fonte secará, pois um povo educado, é um povo crítico e consciente, o que acarretaria em sua não proliferação corruptora.

            Hoje mesmo o professor tendo perdido a voz tanto no sentido denotativo como conotativo da palavra, ele encontra motivos para dar continuidade a sua profissão, sendo vencidos apenas pelas doenças que os obrigam a se afastar.

            Uma pesquisa realizada pelo Conselho Nacional de Secretários de Estado da Administração (Consad) relatou que no DF 58% dos profissionais foram afastados por motivos de doença pelo menos uma vez no ano. Não cabe aqui trabalhar com dados estatísticos para mostrar o quão está a situação dos professores no país.

            É uma profissão formada por verdadeiros guerreiros que ainda acreditam que a mudança se chega com a educação e continuam dando o seu máximo para isso.

A professora Mirian Goldenberg em sua matéria acima, nos dá bons motivos para continuarmos a lecionar, o problema é que somos humanos, e temos como máquinas as nossas entropias.

Este termo é muito usado na Teoria Geral de Sistemas que implica em dizer que entropia é a tendência que o sistema tem para o desgaste, e assim, nesta profissão em que desgaste é o comum no dia a dia, os professores vão se cansando, se aposentando, se afastando e perdendo a dignidade.

A homeostase (equilíbrio) muitas vezes é encontrada pelo próprio professor que estava em situação de desgaste. É uma verdadeira guerra vivenciada por ele apenas. É como um soldado que vai para guerra mas não sabe se voltará, esta busca de equilíbrio, costuma trazer consigo alguns efeitos colaterais como desestruturação da família.

O verdadeiro professor, mesmo tendo mil razões para abandonar a profissão, se pega a única razão para continuar nela, que é o poder de transformar vidas.

Assim como diz a música cantada por Milton Nascimento, continuamos com “a estranha mania de ter fé na vida”.

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