26/07/2016

PRAZER.

Dênio Mágno da Cunha*

Conheci a Ingrid quando trabalhamos nos Diários Associados (TV Alterosa, Rádio Guarani, Alterosa Cinevídeo, Teatro Alterosa). Depois de muitos anos, nos encontramos aqui na web. Ela tinha passado por São Paulo, estava agora na Espanha. Faz um trabalho na área de coaching, se bem que não me aventuro a definir o trabalho que ela faz. O fato é que ela posta vídeos super legais (https://www.facebook.com/meintheworldcoaching/?fref=ts) e sempre que vejo não deixo de comentar ou compartilhar. Quem conhece a Ingrid sabe como ela é radiante, como seus vídeos são plenos de significado e relevância para quem os assiste.

Nesta semana ela faz uma pergunta que provoca: Quem te obriga? No vídeo (veja a íntegra no Facebook) ela comenta sobre os nossos processos de decisão e como sempre temos opções.

Debati com ela que, se não tomamos decisões por obrigação há momentos em que a necessidade “nos obriga” ou conduz a tomada de algumas decisões contra a nossa vontade. Ela respondeu que devemos pensar no “querer”. E na minha argumentação, escrevi que o importante é, dependente da decisão ser contra ou a favor da nossa vontade, estar bem consigo. Complexo. Como tomar uma decisão contra a sua vontade e mesmo assim permanecer bem?

Há situações na vida em que forças maiores do que a nossa vontade nos leva a decisões contrárias a nossos planos ou vontade. Acho que todos concordam com isso. Aprendi algumas palavras que atenuam essa possível crueldade de tomarmos decisões contrárias. A primeira é “tempo” e a segunda “aceitação”.

No primeiro caso, às vezes tomamos decisões contrárias a nossa vontade, sabendo e consciente de sua temporalidade, com olhos no futuro e conciente que essa necessidade é o melhor caminho para algo melhor no futuro. Por exemplo: uma pessoa que você gosta precisa de seu apoio e você larga tudo para ajudá-la, sabendo que está se doando por gostar da pessoa e que essa ação é temporária.

No segundo caso, você aceita o que a vida lhe coloca pela frente e uma nova realidade, mudando planos, traçando novas rotas. Por exemplo: pessoas que ao perderem alguma habilidade física, por qualquer motivo, se ajustam a essa nova realidade, mudando planos, objetivos, aceitando uma nova condição. Observe que usei a palavra "aceitação" e não "resignação" . Na aceitação, penso, eu aceito e compreendo o que me é oferecido; na resignação,me submeto à vontade de alguém ou ao destino. Há uma diferença enorme no sentido delas. Na aceitação continuo sendo o "Senhor" de mim mesmo; na resignação me torno "escravo", submisso aos acontecimentos. 

Na aceitação, reforçando, há necessidade de haver a consciência, de domínio, de ser dono do processo e das ações/decisões que se tomará. Você continua sendo o agente principal da sua própria vida. Como diz a Ingrid: você continua sendo o responsável (consciente) sobre a sua vida. Eu aceito mas não me submeto; eu escolho com consciência aceitar o destino ou os novos fatos. 

Dessa forma, você continua bem consigo mesmo. Isto é, não abandona o prazer de viver. Continua sempre alegre, seja qual for a dificuldade ou a situação que está enfrentando.

A essa altura você pode (ou não) estar se perguntando qual a relação que existe entre este tema e a educação. Como sempre, respondo que tudo a ver ou tudo há de haver.

Primeiramente, me lembro de pessoas a frequentarem as salas de aula como se estivessem sendo obrigadas. Imagino como deve ser difícil a aprendizagem, a permanência, a vida dentro de uma sala de aula por obrigação. Fico também imaginando como isto é possível. Mas creiam-me, quando olho as pessoas nas salas de aula, de frente para elas, vejo que existem os “obrigados”. Eles não aceitam o fato de estarem ali; preferiam estar em outro lugar; fazem questão de demonstrar isso. Ia escrever que tenho pena dessas pessoas, mas aprendi que não devemos escrever assim e sim: tenho compaixão para com essas pessoas. Que tristeza.

Segundamente, me lembro das outras pessoas que frequentam as salas de aula como se estivessem no lugar mais bacana do mundo. Imagino como deve ser fácil a aprendizagem, a permanência, a vida dentro de uma sala de aula por prazer, por escolha, por vontade própria. Fico imaginando como isso é realmente possível. Creiam-me, quando olho as pessoas nas salas de aula, de frente para elas, vejam que existem os “desobrigados”. Eles adoram o fato de estarem ali; não queriam estar em outro lugar; fazem questão de demonstrar isso. Ia escrever que tenho admiração por essas pessoas, mas aprendi que elas não precisam disso, pois é natural estarem ali: tenho afinidade para com essas pessoas. Que alegria.

Estudar, aprender é sobretudo uma questão de escolha, de decisão, de vontade, de prazer. Se não houver escolha, decisão, vontade e prazer, (os quatro juntos), fica muito difícil – para quem aprende e para quem ensina – para a educação.

Me lembrei agora de uma pedagoga (acho que era), a desafiar os professores a dedicar sua atenção àqueles que precisam. Isto é, àqueles que não escolheram estar ali, que não tomaram essa decisão como sua, que não têm vontade e muito menos prazer em estudar. Me desculpe, a esses eu aconselho reverem suas posições, seus caminhos e peço licença para deixá-los livres.

Mas vamos dizer que um aluno que tem todos esses atributos, encontre pela frente uma disciplina com a qual não se identifica; e que nessa mesma situação se encontre um outro que não tem esses atributos. O que deve fazer um professor? Aos heróis e santos, peço desculpas, continuo mantendo a minha posição: apoio ao primeiro e conselho ao segundo rever sua posição.

Observem: não estou dizendo que abandonaria ao “obrigado”, mas sim que o aconselharia a pensar sobre a temporalidade e sobre a aceitação. Quem sabe assim, haveria uma chance de transformação de uma situação de “obrigação” em uma situação de “desobrigação”? De modo que haja o exercício do livre arbítrio, a retomada da situação e a decisão de enfrentamento das dificuldades que até então eram paralisantes.

Meus leitores, pensem nestas palavras aplicadas a educação: obrigação, desobrigação; tempo e aceitação; prazer e sempre alegria. Esse tema continua...

* Professor em Carta Consulta e Una/Unatec. Doutorando Universidade de Sorocaba. Acredita que viver com alegria é uma atitude de livre arbítrio.

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