03/07/2018

Posturas Epistemológicas I: Educação tradicional e construtivista

Por Ivan Carlos Zampin – Professor Doutor, Docente no Ensino Superior, Ensino Fundamental, Médio e Gestor Escolar.

Os estudiosos que tratam das grandes correntes pedagógicas apontam e relatam diferenças em seus devidos contextos quanto às epistemologias que as fundamentam (BECKER, 2001; KOHLBERG e MAYER, 1972). Nesta síntese aqui apresentada pretende-se então apenas fazer um apontamento de pontos relevantes que as diferenciam, sem a pretensão de esgotar o assunto.

O ponto de vista empirista, presente no ensino tradicional, considera o professor como transmissor do conhecimento e o aluno como um meio receptor passivo de informações. Becker (2001, p.18-36) em análise desse assunto sobre a epistemologia do professor em sala de aula verifica-se que o modelo empirista foi e é o mais praticado pelos professores de todas as áreas do conhecimento e de todos os níveis de ensino, citando que há raras exceções.

A linha de pensamento empirista onde conhecimento deriva exclusivamente da experiência discorda da concepção inatista, ou seja, sendo a qual assevera o caráter inato das ideias no homem, esteando que independe no decorrer de sua vida do que ele experimentou e construiu com sua percepção após o seu nascimento, deste modo, a qual aguça no ensino o papel do aluno em prejuízo da atividade do professor. Ela está mais presente nas compreensões epistemológicas e pedagógicas do que na prática de sala de aula devido à dificuldade para viabilizá-la.

Todavia, uma sala de aula de acordo com esse modelo, concebe o aluno como dotado de uma bagagem hereditária, ou seja, ele traria para a escola um saber que necessitaria trazer à consciência, organizar ou colocar conteúdo, enquanto o professor nesse procedimento é rebaixado de sua função fundamental, que é inverter no procedimento de aprendizagem. Nesta perspectiva as ações que o aluno decidir fazer (protagonismo juvenil) são, a priori, possíveis e tratam-se do “regime do laissez-faire: deixar fazer, que ele encontrará o seu caminho”. (Em definição “é parte da expressão em língua francesa ("laissez-faire, laissezaller, laissez-passer"), que significa literalmente “deixai fazer”. É o assunto do liberalismo clássico.)

Percebe-se então, que enquanto na concepção empirista o conhecimento é adquirido por meio de impressões de imagens na mente, e ao professor é conferida a condição de detentor do conhecimento, já na concepção inatista muda-se o foco, agora quem possui conhecimento não é mais o professor mais sim o aluno que já traz uma bagagem genética. Para esta tratada concepção Becker (2001, p.23) salienta que o resultado desse processo tende ao fracasso de maneira a prejudicar os dois pólos (professor e aluno), na medida em que:

 

“[...] o professor é despojado de sua função 'sucateado'. O aluno guindado a um status que ele não tem nem poderia sustentar, e sua não-aprendizagem explica como déficit herdado; impossível, portanto, de ser superado”.

Desse entendimento, cria-se na sala de aula uma atmosfera de exclusão, a partir do momento em que o professor culpa ou até mesmo deixa de lado o aluno por sua não aprendizagem, já que é considerada herdada.

Fundamentando-se em diversas pesquisas realizadas, desenvolvendo-se uma nova maneira de conceber a forma pela qual o indivíduo constrói conhecimento, essa nova abordagem considera que a aquisição do conhecimento é um processo construído gradativamente pelo indivíduo no decorrer de toda sua vida, pois desde os princípios de sua idade o mesmo interage com o meio físico e social. Versa-se aqui, portanto, uma pedagogia centrada na relação dinâmica entre o sujeito do conhecimento, “que é a epistemologia construtivista de matriz interacionista: a epistemologia genética”, bem esclarecida na obra de Piaget (BECKER, 2001, P.35). Segundo Micotti (1999, p.19):

[...] Aplicar a proposta construtivista significa fazer uma reviravolta no ensino como um todo, não apenas realizar mudanças parciais, ou começar mais cedo a aplicação de métodos tradicionais. A convivência escolar se modifica. As mudanças de procedimentos adotados em aulas são profundos. [...] A alfabetização insere-se no conjunto das vivências escolares; [...] a escrita é vista como instrumento útil para viver e conviver por isso as crianças interagem com escritos em toda a sua complexidade, não com elementos isolados.

Com esse olhar, Castorina (2000, p.17) aponta que “o enfoque construtivista para interpretar o desenvolvimento dos conhecimentos é uma tentativa de superar o dualismo entre o sujeito e o objeto de conhecimento”. Destarte, a partir dessa visão, é inacreditável uma sala de aula em que de um lado fica o professor e de outro aluno passivo “que ao entrar na sala já senta tediosamente aguardando a ação do professor para legitimar seu tédio”. Segundo Becker (2001, p. 40-41) “nesse processo acredita-se em um ambiente em que a ação escorra de ambas as partes. Salienta-se que isso deva ocorrer tanto na interação professor-aluno como aluno-professor”. [...] Além disso, se não houver ação, também, entre um elemento mediador, que pode até ser o conteúdo, mas não somente ele, a aprendizagem ficará inviabilizada, ou seja, não acontecerá, precisamente porque o desenvolvimento ficará interrompido.

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