POR QUE E PARA QUÊ REPROVAR UM ALUNO, NA EDUCAÇÃO BÁSICA BRASILEIRA, QUE NÃO SABE GRAMÁTICA NORMATIVA?
POR QUE E PARA QUÊ REPROVAR UM ALUNO, NA EDUCAÇÃO BÁSICA BRASILEIRA, QUE NÃO SABE GRAMÁTICA NORMATIVA?
MARINHO CELESTINO DE SOUZA FILHO1
- Introdução
Para tentar responder, adequadamente, a questão acima formulada, deveremos ter esclarecidos em nosso universo mental, alguns fatos que permeiam o estudo da linguagem humana:
- conhecer breve Histórico da Linguística;
- compreender as mais auspiciosas contribuições linguísticas de pelo menos dois dos principais estudiosos da linguagem humana: Saussure e Chomsky;
- identificar alguns conceitos de algumas das muitas concepções de linguagem, construídas no transcorrer da História da humanidade; aderindo àquelas que poderão contribuir melhor para o aprimoramento do ensino e da aprendizagem da Língua Portuguesa;
- admitir e adotar, dentre os Métodos Científicos existentes, aquele considerado mais adequado para o desenvolvimento de um estudo profícuo do português;
- ressaltar que há vários tipos de gramática e utilizar as gramáticas mais pertinentes para o revigoramento do ensino e da aprendizagem de nossa língua;
- saber o que é ensinar e o que é aprender, apesar de a Pedagogia Moderna não distinguir esses dois vocábulos;
- ter objetivos claros, precisos e lógicos, quando se ensina português;
- apontar as diferenças existentes entre a fala e a escrita da Língua Portuguesa, ou seja, noções básicas de Fonética, Fonologia, variações linguísticas e de registro;
- assinalar que não há de fato uma língua dita padrão no Brasil;
- não utilizar livros didáticos no ensino e na aprendizagem do português, pois, no transcorrer desse estudo, apresentar-se-ão algumas das inconsistências desses livros.
- finalmente, mudar de atitude, convencer-se de que não há razões científicas, históricas, linguísticas, lógicas, sensatas e, até políticas (pois, de acordo com Freire (1997), toda prática educativa compreende também um ato político) para se reprovar um aluno que não sabe Gramática Normativa na Educação Básica Brasileira;
Isto posto, passemos à segunda seção desse estudo.
2. Breve Histórico da Linguística: Ciência que estuda a linguagem humana
De acordo com Ramanzini (1990), a Linguística investiga a linguagem humana com método próprio, tem o objetivo de elaborar uma teoria geral que permita descrever todas as línguas do mundo, pois, para esse autor há mais ou menos 4 mil línguas faladas pelos humanos.
Além disso, Ramanzini (1990), sobre a procedência da Linguística, assevera que é uma ciência milenar, cuja origem remonta a Panini, gramático hindu do século IV a.C.
Assim, Panini realiza somente estudos normativos, acerca da gramática hindu, porque, sua principal intenção era preservar em sua plenitude, os textos oriundos do Veda, livro sagrado para os hindus.
Feitas essas considerações, trataremos de um breve histórico dos estudos linguísticos realizados pelos gregos, latinos, na Idade Média e até no século XXI.
2.1 Estudos Linguísticos feitos pelos gregos, na Idade Média, latinos e; até no século XXI
Ainda embasado em Ramanzini (1990), dentre os gregos, destacam-se dois filósofos e, ao mesmo tempo; estudiosos da linguagem humana: Platão e Aristóteles.
O primeiro se preocupava com a relação da palavra com o seu conceito, ou seja, se a palavra representava realmente o objeto a que ela se referia. Platão demonstrou essa teoria no Crátilo.
Já o segundo, formula uma teoria sobre a frase, distinguindo as partes do discurso: Sujeito e Predicado, descobrindo ainda as classes de palavras.
Além de descobri as partes do discurso, Aristóteles desenvolve uma teoria altamente complexa sobre o significado, reinaugura os estudos semânticos iniciados por Platão.
Nesse sentido, formula uma teoria conhecida como Teoria Espírita dos Significados, que consistia no seguinte pressuposto: toda palavra, em seu bojo, apresentaria dois elementos fundamentais: corpo e espírito.
Para tão referido Filósofo, o que conhecemos como significante representaria o “corpo” da palavra.
Já quanto ao que sabemos sobre o significado, este consistiria no “espírito” da palavra.
Assim, muitas vezes o “corpo” poderia ser o mesmo da palavra, mas, o “espírito” modificava, sofria mutações, por isso, a mesma palavra poderia ter significados distintos e palavras diferentes também poderiam ter significados diferentes, já que havia vários tipos de corpos, também existiam vários tipos de espíritos que se encarnavam ou reencarnavam, de acordo com aquilo que se queria dizer ou escrever.
Após essas breves considerações sobre os estudos linguísticos realizados pelos gregos, passemos a um brevíssimo comentário acerca desses estudos feitos na Idade Média pelos latinos e, a posteriori, trataremos das pesquisas inerentes à Ciência da Linguagem Humana no século XXI.
2.2 Estudos Linguísticos na Idade Média
Mais uma vez, alicerçados em Ramanzini (1990), apresentaremos a principal característica da Ciência da Linguagem Humana na Idade Média.
Nessa fase histórica, os modistas, estudiosos dos fenômenos linguísticos humanos, acreditavam que a linguagem se caracterizava não pelas normas gramaticais, mas sim, pelo uso que se faz dela; por isso formularam uma teoria considerando a estrutura das línguas como una e universal. Dessa teoria, deve-se inferir que as regras da gramática seriam independentes das línguas nas quais se realizavam.
Isto posto, finalmente, de forma bastante sucinta, apontar-se-á o trabalho feito pelos latinos no que tange ao desenvolvimento da linguagem humana.
2.3 Estudos da Linguagem feitos pelos Latinos
Infelizmente, consoante Ramanzini (1990), temos poucas contribuições linguísticas desenvolvidas pelos latinos.
No entanto, dentre eles, de acordo com Robins (1979), destaca-se de forma significativa somente Varão, pois define a gramática como Ciência e Arte.
Nesse sentido, a gramática latina deveria descrever o funcionamento e as regras para o uso preciso da língua latina e, ao mesmo tempo; o ato de escrever estaria intimamente relacionado com a Arte.
Contudo, ainda em Consonância com Robins (1979), Varão desenvolveu um estudo fantástico no ramo da Morfologia, explicando satisfatoriamente como se dava a criação de novas palavras por meio da derivação, contribuindo significativamente para o aprofundamento do estudo dos morfemas.
Além disso, ele também era um estudioso transdisciplinar, porque conhecia profundamente agricultura e a História Antiga romana, apesar disso, foi bastante influenciado pelos estudos da gramática e da arte grega, especialmente, quando Roma dominou a Grécia nos séculos II e III antes de Cristo, visto que tanto os estudos gregos inerentes à gramática, quanto à arte eram muito mais avançados do que os latinos.
Assim, após essa breve exposição sobre os estudos latinos intrínsecos à linguagem, passemos ao próximo subitem: os estudos linguísticos no séculos XVII, XIX e, por fim, os estudos da linguagem no século XXI.
2.4 Estudos Linguísticos nos Séculos XVII, XIX e XXI
Em 1660, de acordo com Lyons (1979), surge a Grammaire Générale et Raisonnée de Port Royal, ou a gramática de Port Royal como ficou conhecida.
Essa gramática serve como modelo para muitas outras surgidas em mais de dois séculos: XIX, XX e ainda no século XXI, disseminada pelos linguistas americanos, porque, ainda em conformidade com Ramanzini (1990), Port-Royal, havia demonstrado que a linguagem se funda sobre a razão e, por isso, a linguagem seria a expressão do pensamento.
Sendo assim, os princípios de análise estabelecidos não se direcionariam a uma língua em particular, mas, serviriam a todas as línguas.
Dessa forma, o conhecimento de um número maior de línguas conduz, nos séculos XIX ao XXI, o interesse pelas línguas vivas e ainda pelo estudo comparativo dos diversos falares, contrastando com um raciocínio mais abstrato sobre a linguagem, observado nos séculos anteriores.
Nesse sentido, Ramanzini (1990) demonstra que o século XIX é muito produtivo para o estudo da linguagem humana, pois, nesse século, também desenvolve-se o Método Histórico Comparativo, instrumento relevante para o surgimento das gramáticas comparadas e da Linguística Histórica.
Nesse contexto, o estudo comparado das línguas mostra que elas mudam com o tempo, independentemente da vontade humana, seguindo a necessidade própria de cada língua, manifestando-se, por isso, de forma regular.
Ainda no século XIX, Ramanzini (1990) ratifica que Franz Bopp é o estudioso quem mais se destaca nesse século, com a publicação de sua obra sobre o Sistema de Conjugação do Sânscrito, comparando-o ao Grego, ao Latim, ao Persa e ao Germânico.
Por isso, a obra acima elencada é considerada como o marco da Linguística Histórica.
Do exposto, após brevíssimo histórico da Linguística nos Séculos XVII ao XIX, a seguir; discorrer-se-á sobre os estudos da linguagem humana no século XXI.
2.5 Estudos Linguísticos no Século XXI
De acordo com Ramanzini (1990), em 1916, com Saussure, a Linguística adquire o status de Ciência da linguagem humana.
Além disso, em consonância com o autor anteriormente citado, Saussure ainda outorga à Linguística o caráter de Ciência autônoma, uma vez que era subordinada às seguintes Ciências: Lógica, Filosofia, Retórica, História e Crítica Literária.
Ainda de acordo com Ramanzini (1990), devido à Reforma Protestante, ocorre a tradução da Bíblia Sagrada em numerosas línguas, apesar de manter-se a dominância do latim sobre as demais línguas, considerado língua universal, nessa época.
Nesse contexto, viajantes, comerciantes e diplomatas trazem de suas experiências, em outros países, o conhecimento de línguas até então desconhecidas, por isso, consoante Ramanzini (1990), em1502; surge o primeiro dicionário poliglota mais antigo do Italiano Ambrosio Calepino.
Após este brevíssimo comentário acerca da Linguística no século XXI, apresentaremos, na Seção 3, as mais relevantes contribuições de Saussure e Chomsky, principais linguistas do Século XVI, que de acordo com o autor anteriormente citado, merecem destaque, por isso, observemos abaixo suas principais contribuições.
3. Estudos Linguísticos no Século XVI
De acordo com Ramanzini (1990) os principais linguistas do Século XVI foram, sem sombra de dúvida: Saussure e Chomsky.
Sendo assim, nesse item, trataremos deles, após isso, teceremos as Considerais finais acerca desse estudo.
3.1 Saussure
Ferdinand Saussure, considerado o pai da Linguística, ciência que com método próprio pretende descrever o funcionamento de todas as línguas, cujo número aproximado, hoje, seria em torno de doze mil.
Logo, esse objetivo traçado pela Linguística parece impossível de ser realizado e um tanto quanto utópico. Mas, por ora, voltemos a Saussure, que com apenas 21 anos, publica em 1878 em Leipzig, uma obra muito importante para a História da Linguagem Humana: Mémoire sur le système primitif des voyelles indo-européennes. De Acordo com Ramanzini (1990), Saussure procurou, nesse trabalho, descrever o funcionamento das Vogais Indo-Européias, como se comportavam, semelhanças e diferenças, realizando um estudo histórico-comparativo. Dois anos depois, apresenta sua tese de doutorado com o título de De I’emploi du genitif absolu en sanskrit.
Assim, após vermos brevemente a cercade Saussure, trataremos da Teoria de Chomsky..
3.2 Chomsky
Tratarei nessa pesquisa sobre as teorias científicas acerca da Linguagem Humana propostas por Avram Noam Chomsky. Nesse sentido, abordarei essas teorias na seguinte ordem, primeiro: as Dicotomias Chomskyanas e em seguida a Gramática Gerativa, a Sintagmática, e, finalmente, a Gerativa Transformacional.
Dessa forma, sabe-se que o termo dicotomia vem do grego e ao contrário do que muita gente imagina, não significa a divisão de um todo em duas partes, todavia, é a divisão do todo em várias partes. Em vista disso, teríamos as seguintes dicotomias advindas de Chomsky apud Luft (1995): Aceitabilidade/Gramaticalidade, Desempenho/Competência e, finalmente, a Performance.
Nesse processo, Aceitabilidade, um dos termos propostos pelo cientista acima mencionado, quer dizer o seguinte: são sentenças aceitas, possíveis em um determinado sistema linguístico, isto é, são sentenças que não seriam consideradas estranhas, exóticas a um falante/ouvinte de uma determinada língua, por exemplo, no caso da Língua Portuguesa: a) “Nóis vai ao Mercadu Centrá, sábado, à tarde. ”
b) “As moça de Belzonti e de Minas Gerais é linda.”
c) “Nós vamos ao Mercado Central, sábado, à tarde.”
d) “As moças de Belo Horizonte e de Minas Gerais são lindas.”
Todas as frases citadas, acima, são consideradas frases aceitas no português. Não obstante, alguém poderia afirmar: as frases (a) e (b) não estão, “gramaticalmente corretas. ” Mas isto depende de alguns fatores, como por exemplo: qual o tipo de gramática é considerado? Uma vez que não há apenas um único tipo de Gramática.
Além disso, o que acontece com frases do tipo (a) e (b), não é uma questão de não pertencerem à Língua Portuguesa, mas, um caso típico de modalidade da língua, ou seja, há, basicamente, duas maneiras distintas de falar ou escrever a nossa língua materna; uma modalidade que costumamos considerar popular: frases do tipo (a), (b) e outra que é considerada Culta ou Padrão, sentenças do tipo (c) e (d).
Dessa maneira, as duas primeiras frases acima citadas, pertencem ao português do Brasil e são aceitas independente da modalidade que se usa ou que se pretende usar, ao falante/ouvinte de nossa língua materna lhe é outorgado o direito de falar ou de escrever em quaisquer umas das variedades linguísticas, dependendo da situação e com quem se fala.
Logo, as duas primeiras frases (a) e (b) examinadas por nós são aceitas no português brasileiro, o que acontece, como já dissemos anteriormente, é uma questão de saber utilizar a língua adequadamente nas diversas situações sociais por que passamos, todavia, este fato é intrínseco ao desempenho comunicativo de cada falante/ouvinte de uma determinada língua, ou seja, depende de desenvolver melhor a Competência Comunicativa dos falantes/ouvintes de certa língua. E quanto à Gramaticalidade?
A Gramaticalidade, ligada, intrinsecamente, à Aceitabilidade, seria a característica imanente a todo falante/ouvinte nativo de construir sentenças possíveis, bem estruturadas em um determinado sistema linguístico, isto é, segundo Chomsky (1971 a), as pessoas, de uma maneira geral, nascem predispostas a falarem uma determinada língua, ou melhor, em toda teoria deste renomado filósofo da linguagem, temos o que ele chamou de Teoria do Inatismo, os indivíduos nascem, de acordo com Luft (1995), “programados” para falarem e compreenderem uma determinada língua, diante disso, a Gramaticalidade seria, justamente, a característica que todo falante/ouvinte possui de falar bem e adequadamente, construir sentenças possíveis dentro de uma língua, o fenômeno da Gramaticalidade está ligado à Gramática Natural de uma determinada língua e não à Gramática Normativa dessa língua.
Já a Competência estaria, intimamente, ligada à sociedade, ou seja, a Competência para Chomsky (1971 a) é um fator social, desse modo, “a priori”, todos nascem com Competência para falar uma língua, no entanto, a questão de bem fazê-lo ou não, depende de outro fator: o Desempenho. E o que seria o Desempenho? Seria justamente, a boa, a eficiente atuação individual de cada pessoa para falar e compreender melhor uma determinada língua, já a Competência é um fator social, isto é, ligado, diretamente, ao sistema linguístico de cada pessoa, ou seja, ao idioma, a língua que cada um possui.
É bom frisar que a Competência à luz das Teorias Chomskyanas não tem relação com a competência que conhecemos, isto é, atuação eficiente e individual de cada pessoa perante uma tarefa ou um trabalho a ser realizado. E quanto à Performance? A Performance seria a execução da tarefa ou do trabalho dado, ou melhor, o ato ou efeito de executar algo, o fazer, propriamente, dito.
Assim, pode-se inferir que as Dicotomias Chomskyanas estão intimamente ligadas ao conceito de Gramática Gerativa, porque o Desempenho seria justamente a capacidade de o indivíduo com um conjunto finito de regras gerar, engendrar um número praticamente infinito de sentenças gramaticais e aceitas num determinado sistema linguístico e a Competência funcionaria para o sujeito como elemento essencial para se integrar na sociedade, porque, “a priori”, ninguém fala sozinho, já que a língua consiste num fator social, quanto à Performance, ela baseia-se no ato ou efeito de falar.
Nesse contexto, o princípio básico da Gramática Gerativa fundamenta-se na geração, na criação, no engendramento de frases gramaticais e aceitáveis de uma dada língua, a saber; o seu principal pressuposto seria o seguinte: “com um conjunto finito de regras, o falante/ouvinte de uma determinada língua produz um conjunto infinito de enunciados. ”
Já a Gramática Sintagmática se alicerça sobre o conceito de Sintagma. E o que seria o Sintagma? Nessa perspectiva, quem criou esse termo foi Ferdinand Saussure, franco-suíço, pai da Linguística, ciência que com método próprio procura descrever o funcionamento de todas as línguas que existem no nosso planeta.
Saussure (1969), ao utilizar o termo Sintagma, utilizou também à palavra Paradigma. Sintagma, conforme esse estudioso da linguagem humana, seriam todos os constituintes de uma oração, ou melhor, os Constituintes imediatos e os Constituintes Oracionais. Tanto os constituintes Imediatos quanto os Oracionais, segundo Saussure (1969), fazem parte do eixo da combinação, ou seja, quando combinamos as palavras para formar frases ou orações estamos utilizando o que o autor acima referido, chamou de Sintagma. Vejamos como isto funciona na prática:
a) meninas Belo Horizonte de AS são lindas.
1 2 3 4 5 6
Combinando as palavras, acima, teríamos:
b) As meninas de Belo Horizonte são lindas.
Logo, esta frase do português contém seis Sintagmas diferentes, porém, relacionados semanticamente, entre si. Os Constituintes Imediatos da Oração seriam, respectivamente: c) 1, 2, 3, 4, 5 e 6 que combinados, como vimos, gera uma frase do português.
Já os Constituintes Oracionais seriam, apenas, os dois termos considerados essenciais da oração, por exemplo:
d) (As pessoas de Minas Gerais) (são simpáticas).
I II II
Sendo assim, temos em (I) – Sintagma Nominal, conhecido pela Gramática Normativa ou Escolar como Sujeito e em (II) – Sintagma Verbal, Também conhecido pela Gramática Normativa ou Escolar como Predicado. Quanto ao Paradigma pertenceria ao eixo da seleção, da escolha, ou seja, o falante/ouvinte de qualquer língua para formar frases dessa língua, utiliza duas operações, a saber; a Paradigmática e a Sintagmática, porque, primeiro, selecionamos as palavras ou termos que desejamos utilizar para gerar a frase de uma determinada língua, vamos supor que quiséssemos gerar a seguinte frase de nossa língua materna:
I II
e) (OS meninos) (jogaram bola.)
1 2 3 4
I e II seriam os Sintagmas Oracionais: Sintagma Nominal – Sujeito e Sintagma Verbal – Predicado.
Apesar de Saussure (1969) ter criado os conceitos de Sintagma e Paradigma, quem desenvolveu uma gramática cujo arcabouço teórico fez uso dos Sintagmas foi Avram Noam Chomsky. E o que seria esta gramática que é conhecida como Gramática Sintagmática? Quais algumas de suas vantagens? É o que tentaremos deslindar no transcorrer desse trabalho. A Gramática Sintagmática como o próprio nome diz, procura descrever a estrutura sintática de uma língua, utilizando como suporte, base a teoria dos Sintagmas, elementos fundamentais para a construção de sentenças, frases.
Desse modo, como vimos anteriormente, nesse trabalho, para formamos frases de uma determinada língua, podemos utilizar tanto os Sintagmas Nominais como os Verbais, apesar de as Gramáticas Normativas ou Escolares pregarem que os termos essenciais da oração seriam o Sujeito e o Predicado, e depois elas mesmas postulam no bojo de sua teoria sintática Orações Sem Sujeito e orações cujo Sujeito é Indeterminado, ou seja, não se pode determinar, saber quem é o Sujeito, dessa maneira, acreditamos que o único termo, realmente, essencial à oração seria o Predicado.
Por isso, mostraremos algumas vantagens de se descrever os termos sintáticos e morfológicos de uma língua tomando como base tanto os Sintagmas Verbais, quanto os Nominais para este tipo de descrição; a saber, a Gramática Sintagmática.
Primeiramente, ao invés de termos um grande número de Classes e Funções, isto é, Adjetivo, Pronome, Numeral, Artigo, Substantivo, Sujeito, Predicado, Objeto Direto, etc. Teríamos apenas duas Classes ou Funções: Sintagmas Nominais e Sintagmas Verbais. Dessa maneira, com esta visão, economizaríamos e simplificaríamos a descrição sintática e morfológica de uma determinada língua.
Além disso, frases de nossa língua materna que a Gramática Normativa, abreviada por G.N., por uma questão de economia linguística, não consegue descrever, sintaticamente, como por exemplo: “Falamos de Sônia ao diretor da escola. ” A Gramática Sintagmática descreve. Por que a G.N. não consegue descrever tal oração? Por que, a dita oração possui dois Objetos Indiretos e a G.N. não descreve orações desse tipo?
Como se não bastasse o fato acima assinalado, Verbos considerados, tradicionalmente, como Verbos Intransitivos: morrer, viver, etc. Na Gramática Sintagmática podemos postular complementos para estes tipos de verbos, como, por exemplo, em Rondônia, em alguns municípios é muito comum frases do seguinte tipo: “Fulano morreu de morte matada.” E ainda: “Fulano morreu de morte morrida. ” Além de percebemos a existência de complementos verbais nas frases anteriores, apesar de os verbos serem considerados Intransitivos na doutrina tradicional, também notamos algo, extremamente importante, ou seja, as diferenças semânticas que o falante/ouvinte quer marcar, porque, ao enunciar a primeira frase este mesmo falante/ouvinte do português quer dizer que uma determinada pessoa foi assassinada, não morreu de “causa natural”, já na segunda frase o mesmo falante/ouvinte pretende dizer que um determinado indivíduo morreu de “morte natural”, isto é, não foi assassinado.
No caso do verbo viver, também considerado Intransitivo pela G.N.: é perfeitamente aceitável no português frases do tipo: “A mulher viveu uma vida tranquila. ” E: “O homem vivia de amarguras. ”
Diante do exposto, notamos a importância, a relevância de se descrever uma língua, utilizando também a Gramática Sintagmática.
Após tratarmos da Gramática Sintagmática, teceremos algumas considerações sobre a última parte de nosso trabalho: a Gramática Gerativa Transformacional. E o que seria este tipo de gramática? A Gramática Gerativa Transformacional consistiria na transformação de Estruturas Profundas em Superficiais.
De acordo com Chomsky (1971 a), a Estrutura Profunda (abreviada, nesse momento, por E.P) seria um dos mecanismos alojados no cérebro humano responsável pela produção dos enunciados, das sentenças, o próprio Chomsky (1971 a), parece que não precisou exatamente, o que é este mecanismo e em qual parte do cérebro humano se aloja, ou seja, o que se sabe, é que no bojo da Teoria Chomskyana, Teoria do Inatismo, construída sob a base de que todos os indivíduos nascem predispostos para falar uma determinada língua, isto é, o indivíduo nasce com condições biológicas, fisiológicas e psicológicas para falar, apreender certo tipo de língua.
Assim, podemos afirmar que a E.P está localiza em alguma parte do interior do cérebro humano, mas, quando os falantes/ouvintes de uma determinada língua produzem certos enunciados, discursos, ou melhor, produzem a fala, temos, neste caso, a Estrutura Superficial – E.S está intrinsecamente ligada à E.P. Por quê? Porque, primeiramente, as ideias, os pensamentos são processados no cérebro humano (não nos interessa, neste momento, discutir neste livro os processos neurofisiológicos por que perpassam o cérebro humano para a produção, realização e emissão do discurso ou fala) e só depois disso se tornam enunciados, ou seja, transformam-se em frases, orações, discursos, falas propriamente ditos.
Logo, a Estrutura Profunda – E.P tem primazia sobre a Estrutura Superficial.
Na E.P, os pensamentos alojados no cérebro humano são expressos numa determinada ordem, cumprindo certa função, isto implicaria dizer que o componente essencial da Gramática Gerativa Transformacional seria o sintático. Este componente procura identificar as funções, relações e a ordem das palavras numa determinada oração, ou melhor, se naquele contexto, ou naquela situação de interação verbal a palavra ou um grupo de palavras estão funcionando como sujeito, predicado, objeto direto, indireto, etc.
Mas também, segundo Chomsky (1975 b), o componente sintático cumpre ainda uma das funções mais relevantes numa dada língua, porque, é o responsável pelo caráter criativo, ou melhor, através de tão referido componente é que são geradas todas as frases de uma língua, além do componente sintático, a Gramática Gerativa Transformacional engloba outros dois componentes em seu bojo: o fonológico e o semântico, o primeiro responsável pela produção dos sons das frases, orações de uma determinada língua, já o segundo trata do aspecto interpretativo, do sentido das frases e orações de certa língua.
A Estrutura Superficial correspondente à forma física de realização concreta das frases, orações, ou seja, neste tipo de estrutura, as frases, as orações já estão prontas, escritas ou proferidas por um falante/ouvinte de certa língua.
Do exposto, vejamos como funcionariam na prática a Estrutura Profunda e a Superficial. Assim, vamos supor que tivéssemos a seguinte oração do português brasileiro:
(I) O escritor e a escritora enfrentam diversos problemas.
Desdobrando-se esta oração, teríamos:
- O escritor enfrentar diversos problemas.
- A escritora enfrentar diversos problemas.
Somando-se (i) + (ii), obteríamos, neste contexto:
(iii) O escritor e a escritora enfrentam diversos problemas.
Chomsky (1971 a), parece acreditar que os pensamentos, as expressões linguísticas eram gerados no interior do cérebro humano no infinitivo, o que justificaria a terminação em r dos verbos em (i), (ii) e estas duas orações seriam a Estrutura Profunda, por outro lado, (iii) seria a Estrutura Superficial. É Claro que esta crença de Chomsky1, qual seja, os pensamentos, as expressões linguísticas são gerados no interior do cérebro humano no infinitivo, carece ainda de comprovação científica. Embora saibamos que a função primordial da Gramática Gerativa Transformacional, seria a de descrever, explicitar, mostrar como os mecanismos da E.P se transformam em E.S.
Do exposto, podemos asseverar que as teorias acerca da Linguagem Humana propostas por Chomsky (1971 a e 1975 b) trazem para a Linguística contribuições valiosas no que tange à apreciação científica nas áreas da Lógica e da Matemática e ainda propõem uma nova abordagem no que se refere ao desenvolvimento dos estudos sobre os fundamentos biológicos, fisiológicos e psicológicos da Linguagem Humana.
Assim, teceremos abaixo as Considerações Finais acerca desse estudo.
4. Considerações Finais
De acordo com o já exposto, não devemos reprovar um aluno dos Ensinos Fundamental e Médio por não saber Gramática Normativa, porque, segundo Possenti (1996) e, filosoficamente falando, não existe o erro, porque na verdade, o erro seria concebido como uma tentativa de acerto, assim, o erro não existe.
E ainda de acordo com Perini (1994), os estudantes dos Ensinos anteriormente citados, detestam Gramática Normativa, porque, não vêem lógica, sentido, coerência em estudar esse tipo de Gramática.
5, Referências Bibliográficas
CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure. 12 ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
CHOMSKY, Noam. Linguagem e pensamento. Petrópolis: Vozes, 1971.
________________. Aspectos da teoria da sintaxe. Coimbra: Armênio Amado, 1975.
KOCH, Ingedore Villaça & SOUZA e SILVA, Maria Cecília Pereira. Lingüística Aplicada ao Português: Sintaxe. 9ed. São Paulo: Cortez, 2000.
LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade. 4ed. São Paulo: Ática, 1995.
PERINI, Mário Alberto. Sofrendo a Gramática. São Paulo: Ática, 1997.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas – SP: Mercado de Letras, 1996.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. Trad de A. Chelini, José P. Paes e I. Blikstein. São Paulo: Cultrix, USP, 1969.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática no para o 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 1996.
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1Para saber mais sobre Chomsky e sua teoria, ver: LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade. 4 ed. São Paulo: Ática, 1995.