18/11/2023

Poluição atmosférica

Polui

Por: Osmar Sousa Carvalho Junior, Maria Clara Freire Novais e Sabrina Santos Soares

Poluição Ambiental - Profª Elenir Souza Santos Rocha

A poluição atmosférica é um dos desafios ambientais mais complexos enfrentados pela humanidade no século XXI. Trata-se de um problema global que transcende fronteiras, afetando a qualidade do ar que respiramos, a saúde da população, a biodiversidade e o equilíbrio climático do planeta. A queima de biomassa, em ambientes externos e internos, utilizada desde a pré-história para produção de energia, tem sido uma das importantes fontes antropogênicas de poluição atmosférica. Este problema se consolidou com a Revolução Industrial, um período de transformações profundas que marcou o início de um crescimento econômico acelerado e urbanização em escala global. A Revolução Industrial trouxe consigo o advento de novas tecnologias e processos produtivos, mas também desencadeou uma era de emissões crescentes de poluentes atmosféricos.

Como consequência, no início do século XX ocorreram três episódios de elevações abruptas da concentração de poluentes do ar ocasionando aumentos da morbimortalidade (Vale do Meuse - França, Donora - Pensilvânia - EUA, e Londres - Inglaterra. Esses episódios estimularam a realização de diversos estudos epidemiológicos e experimentais, que identificaram os principais poluentes e suas repercussões sobre a saúde. Com o rápido crescimento das indústrias, a queima de carvão, a expansão das ferrovias e o surgimento de máquinas movidas a vapor, houve uma explosão nas emissões de dióxido de enxofre (SO2), partículas finas e outros poluentes. À medida que as cidades se expandiram para acomodar uma população crescente de trabalhadores, as concentrações de poluentes nas áreas urbanas aumentaram drasticamente, resultando em uma atmosfera densamente carregada de fuligem e fumaça. Esse período histórico marcou o início de uma trajetória de poluição atmosférica que persiste até os dias atuais, com os problemas associados à urbanização acelerada e ao aumento das emissões de poluentes ainda presentes em muitas partes do mundo. Neste contexto, a poluição do ar se tornou um desafio global que exige uma análise crítica das origens, causas e impactos dessa trajetória, bem como um compromisso contínuo com soluções que promovam a qualidade do ar e a sustentabilidade do nosso planeta. 

Dessa forma, a poluição atmosférica pode ser um processo natural, como é o caso da produção do gás CH4 pelo processo de digestão de alguns animais, atividades vulcânicas e tempestades; ou humano, como na utilização de veículos automotores ou em processos industriais. Atualmente, as atividades humanas são as principais responsáveis por este fenômeno, resultado da emissão de poluentes na atmosfera, uma combinação de substâncias químicas que inclui partículas sólidas, gases tóxicos e compostos orgânicos voláteis. Os impactos da poluição atmosférica são devastadores, com efeitos diretos na saúde humana, causando doenças respiratórias, cardiovasculares e até mesmo câncer. Além disso, a poluição do ar também desencadeia sérios danos ao meio ambiente, contribuindo para a degradação dos ecossistemas, a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas.

Entre os principais países emissores de gases estão a China, Estados Unidos e Índia: esses são os 3 países que mais emitiram dióxido de carbono (CO2) na atmosfera em 2020 e, por isso, são os que mais contribuem com as mudanças climáticas no mundo, segundo levantamento do Global Carbon Project. Entre os 15 mais poluentes no último ano, o Brasil aparece em 12º lugar, à frente da África do Sul, Turquia e Austrália. Em 2023, China, Estados Unidos, Índia e União Europeia possuem os totais de emissões mais altos do mundo. No entanto, entre os 10 maiores emissores, EUA e Rússia são os que possuem as emissões per capita mais altas, com 17,6 toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e) por pessoa e 13,3 tCO2e/pessoa, respectivamente. 

Entre esses poluentes, os que se destacam são os: materiais particulados, que representam um grupo de poluentes atmosféricos constituído por poeiras, fumaças e quaisquer tipos de materiais sólidos e líquidos que se mantêm suspensos na atmosfera, principalmente em razão de seu diâmetro reduzido. Tem como principais fontes de emissões os veículos a diesel (30%), carros a gasolina (10%) e indústrias (10%). Estudos indicam que este é o segundo maior contribuinte para o aquecimento global, além de que contribuem com variados problemas de saúde, tais como câncer respiratório, arteriosclerose, inflamação de pulmão, agravamento de sintomas de asma, aumento de internações hospitalares e podem levar à morte, uma vez que este material particulado inalável apresenta a importante característica de transportar gases adsorvidos em sua superfície, transportando-os até as porções mais distais das vias aéreas, onde ocorrem as trocas de gases no pulmão. 

Os óxidos de enxofre são um grupo de gases tóxicos e incolor, podendo ser emitido por fontes naturais ou por fontes antropogênicas. Pode também reagir com outros compostos na atmosfera, formando material particulado de diâmetro reduzido. Uma vez lançado na atmosfera, o dióxido de enxofre pode ser transportado para regiões distantes das fontes primárias de emissão, que aumenta sua área de atuação. Dentre os óxidos de enxofre, o SO2 (dióxido de enxofre) é um dos poluentes atmosféricos mais perigosos, representando muitos riscos à saúde respiratória, pois pode provocar irritação e aumento na produção de muco, desconforto na respiração e agravamento de problemas cardiovasculares e respiratórios. Na natureza, é emitido principalmente por vulcões. Mas também é por veículos a diesel (77%), indústrias (15%) e carros a gasolina (8%). 

O óxido de nitrogênio (NO) e dióxido de nitrogênio (NO2) têm como principais fontes os veículos automotores, motores à combustão interna, usinas termelétricas, siderúrgicas e fábricas de pasta de papel. Para o meio ambiente, seus efeitos contribuem com o aumento da acidez da chuva, causando danos à natureza, como alteração da composição química do solo e das águas, atingindo também as cadeias alimentares, comprometendo florestas e lavouras. Penetra profundamente no sistema respiratório, podendo dar origem a substâncias mutagênicas e carcinogênicas. Além disso, é importante lembrar que o dióxido de nitrogênio, quando inalado, atinge as porções mais periféricas do pulmão devido à sua baixa solubilidade em água. Seu efeito tóxico está relacionado ao fato de ele ser um agente oxidante. 

O dióxido de carbono (CO2), conhecido também por gás carbônico, é o poluente que mais pode contribuir para o efeito estufa. É um importante responsável por causar a poluição do ar, além de contribuir com a chuva ácida e elevação da temperatura na Terra. Os principais responsáveis pelo excesso desse gás na atmosfera são os setores industriais e de transportes. Também há o monóxido de carbono (CO2), um dos poluentes mais conhecidos. Por ser inflamável, incolor e inodoro, esse gás é altamente perigoso graças a sua toxicidade e por ser um asfixiante químico. Esse gás tem alta afinidade com a hemoglobina no sangue, podendo substituir o oxigênio a ponto de reduzir a alimentação deste ao cérebro, coração e para o resto do corpo, durante o processo de respiração. Assim, em baixa concentração causa fadiga e dor no peito e em alta concentração pode levar a asfixia e morte. As principais fontes emissoras de monóxido de carbono são os veículos automotivos, aquecedores a óleo, queima de tabaco, churrasqueiras e fogões a gás. 

E por fim o ozônio, que está presente na troposfera, a porção da atmosfera em contato com a crosta terrestre, e é formado por uma série de reações catalisadas pela luz do sol (raios ultravioleta) envolvendo, como precursores, óxidos de nitrogênio (NOx) e hidrocarbonetos, derivados das emissões de veículos, indústrias e usinas termoelétricas. Outras fontes de produção de ozônio são os purificadores de ar e máquinas de fotocópias. Provoca vários problemas de saúde como dores torácicas, tosse e irritação da garganta, irritação dos olhos e vias respiratórias, diminuição da capacidade pulmonar, envelhecimento precoce e corrosão dos tecidos. 

Dessa maneira, esses e inúmeros outros poluentes são emitidos diariamente na atmosfera devido ações humanas, contribuindo para esse problema. Portanto, a compreensão das múltiplas causas da poluição atmosférica é fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficazes de controle e mitigação desse problema global. Dentre as causas, que envolvem uma interação complexa de fatores naturais e atividades humanas, há: emissões de veículos a motor, indústria e atividades produtivas, agricultura e uso da terra, queimadas e incêndios florestais, fontes naturais, dentre várias outras. 

A poluição atmosférica acarreta uma série de consequências negativas que afetam profundamente a saúde humana, o meio ambiente e o clima global. Grupos vulneráveis incluem as crianças, que apresentam maior ventilação minuto devido ao metabolismo basal acelerado e à maior atividade física quando comparados aos adultos, além de permanecerem por mais tempo em ambientes externos. Tomando como base o peso corporal, o volume de ar que passa através das vias respiratórias da criança em repouso é o dobro daquele dos adultos em condições semelhantes. Além dos idosos, que são suscetíveis aos efeitos adversos da exposição aos poluentes atmosféricos por apresentarem um sistema imunológico menos eficiente (imunosenescência), um progressivo declínio na função pulmonar que pode levar a obstrução das vias aéreas e limitação aos exercícios.

Mas não somente esses grupos, a exposição a poluentes atmosféricos está associada a uma ampla gama de problemas de saúde, incluindo doenças respiratórias, cardiovasculares e câncer em todos os indivíduos. Isso resulta em aumento das internações hospitalares e na mortalidade prematura, particularmente em áreas urbanas com alta poluição do ar. De acordo com o mais recente relatório da OMS, publicado em 2018, nove em cada dez pessoas respiram ar contaminado no mundo. A agência da ONU estima que sete milhões de pessoas morram anualmente em decorrência da má qualidade do ar. Como também estudos apontam aumentos nas internações por doenças respiratórias crônicas de 18% e 14%, respectivamente para doença pulmonar obstrutiva crônica e asma, em idosos, foram associados a variações diárias nas concentrações de dióxido de enxofre (11,82 μg/m3) e ozônio (35,87 μg/m3).

Também é responsável por afetar ecossistemas terrestres e aquáticos, prejudicando a biodiversidade e a qualidade dos solos e das águas. Partículas em suspensão e chuva ácida danificam plantas e corpos d'água, levando à diminuição da biodiversidade. A presença de poluentes atmosféricos, como o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), contribui para as mudanças climáticas. O CO2 é o principal gás de efeito estufa, levando ao aquecimento global, derretimento de calotas polares e aumento do nível do mar.

Sem contar que afeta a qualidade de vida das pessoas, prejudicando a visibilidade, causando odores desagradáveis e criando um ambiente geralmente desconfortável para a vida urbana. Resulta em custos significativos para a sociedade, incluindo despesas com cuidados de saúde, perda de produtividade e danos à infraestrutura. Assim como a chuva ácida, uma das consequências desse tipo de poluição, leva à deterioração do patrimônio cultural, visto que monumentos, edifícios históricos e obras de arte são degradadas. 

Diante dessas graves consequências, é imperativo adotar ações eficazes para reduzir a poluição atmosférica, promovendo a transição para fontes de energia limpa, regulamentações ambientais mais rígidas, conscientização pública e esforços globais para preservar a qualidade do ar e mitigar seus impactos adversos. Mitigar a poluição atmosférica requer ação em várias frentes, envolvendo governos, indústrias e a sociedade em geral. Portanto, apesar de ser um desafio complexo que afeta a saúde, o meio ambiente e o clima do nosso planeta, temos as ferramentas e o conhecimento para enfrentar esse problema e conseguir minimizá-lo. A transição para fontes de energia limpa, a regulamentação ambiental, a conscientização e a educação são componentes-chave para reduzir a poluição do ar e proteger o nosso planeta para as gerações futuras. Cada indivíduo tem um papel a desempenhar na redução da poluição atmosférica, e a colaboração global é essencial para combater esse desafio global de maneira eficaz.

Referências bibliográficas

Saiba quais países são os principais responsáveis pelas mudanças climáticas.Disponível em: https://www.poder360.com.br/internacional/saiba-quais-paises-sao-os-principais-responsaveis-pelas-mudancas-climaticas/. Acesso em 17 de novembro de 2023;

Poluição do ar. Disponível em: https://www.who.int/health-topics/air-pollution#tab=tab_1. Acesso em 20 de outubro de 2023;

 VIGNA, L. e FRIEDRICH,  J. 9 gráficos para entender as emissões per capita de gases de efeito estufa dos países. Disponível em https://www.wribrasil.org.br/noticias/graficos-emissoes-per-capita-gases-de-efeito-estufa-paises. Acesso em 23 de outubro de 2023;

Floss M, et al. Poluição do ar: uma revisão de escopo para recomendações clínicas para a medicina de família e comunidade. Rev Bras Med Fam Comunidade [Internet]. 19º de novembro de 2022. Disponível em: https://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/3038. Acesso em: 17 de novembro de 2023;

OLIVEIRA, Thiago Dos Santos et al. Poluição atmosférica: impactos no meio ambiente e na saúde humana. Anais do V CONAPESC... Campina Grande: Realize Editora, 2020. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/72792>. Acesso em: 17 de novembro de 2023;

WASSALL, A. Poluição do ar: a vilã da pós modernidade. Ciencia e Cultura,  São Paulo ,  v. 71, n. 1, p. 22-24,  Jan.  2019 .   Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252019000100008&lng=en&nrm=iso. Acesso em  17 de novembro de  2023. 

 

 

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×