03/03/2020

Planejamento Reverso e a BNCC

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

            Educação é uma ação que dá seu resultado a longo prazo e nunca de imediato, assim sendo, o planejamento se faz de suma importância para que a qualidade seja o norte a ser alcançado.

            A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) visa oferecer uma educação com mais qualidade a sociedade e efetivando as suas dez competências que focam o tipo de cidadão queremos formar ao longo da educação básica (ensino infantil até ensino médio).

            As dez competências estão todas relacionadas, perpassando umas pelas outras, buscando assim uma sociedade mais solidária, produtiva, sustentável, democrática e humanista, de forma com que os educandos no decorrer das etapas, consigam analisar e pensar em todos os resultados.

            Para que isso ocorra, faz-se necessário trabalhar a aprendizagem bem como o desenvolvimento pleno de todos os estudantes, uma vez que Giles em seu livro Filosofia da Educação, publicado pela EPU em 1983 esclarece que o processo educativo visa a totalidade do homem, ao seu desenvolvimento, bem como aos resultados deste desenvolvimento em um sentido mais amplo.

            O autor vai além ao afirmar que quando se educa, alcança a pessoa naquilo que lhe é mais específico no seu ser-humano, como na sua intelectualidade, afetividade, hábitos para que estes o levem a realização de um ideal.

            Sendo assim, a BNCC mobiliza conhecimentos relacionados não só a conceitos como também procedimentos, desenvolvendo assim as habilidades práticas, cognitivas e socioemocionais, trabalhando atitudes e valores com o cerne em resolver demandas simples a complexas do dia a dia, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.

            Obviamente que o conhecimento sobre o mundo físico e digital se faz necessário para que o educando possa não só entender, como também intervir e transformar a sua realidade, trabalhando assim o conhecimento a serviço de algo maior.

            Faz-se mister desenvolver em nosso educando um pensamento crítico e protagonista muito ressaltado por Tavares em seu livro Educação um ato político, publicado pela Autêntica em 2019.

            Para a BNCC, esta criticidade deve levar o educando a um pensamento científico e criativo, investigando fenômenos e realidades, criando soluções para problemas locais e/ou relacionado ao mundo.

            Cabe aqui o aluno questionador, pensador e pesquisador, pois já era afirmado por Freire em seu livro Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa, publicado pela Paz e Terra em 1996, ao ressaltar que não há ensino sem pesquisa e tampouco pesquisa sem ensino, assim sendo, o aluno deve pesquisar para constatar, contatando passa a intervir, intervindo se educa e educa o outro. A pesquisa é para conhecer o que ainda não se conhece.

            Não se pode falar de educação sem abranger o repertório cultural que flui das artes, do pensamento abstrato, da sensibilidade, adversidade, identidade dentre outras culturas diversas, bem como o respeito pelas diversas formas de se expressar a cultura.

            A comunicação é outro quesito a ser trabalhado na BNCC, e Andrada, em seu livro Ciência Política e Ciência do Poder, publicado pela LTR em 1988, esclarece que é a comunicação que dá sentido e caminho aos homens, à sua faina, às suas realizações e existência. E na BNCC esta comunicação está também no sentido de escutar o outro, dialogar para que o conhecimento e entendimento sejam produzidos.

            A comunicação digital também se faz essencial e nesta cultura digital e recursos tecnológicos não se devem abrir mão de uma postura reflexiva, ética e moral para se produzir tal tecnologia.

            Interessante perceber que na BNCC existe uma base para um trabalho e projeto de vida em relação ao preparo das novas gerações para lidarem com metas, sonhos e implementações, para que assim, nossos educandos saiam do mundo das quimeras e passe para as efetivações.

            Vale salientar que a argumentação é fundamental para se defender ideias, ideais, formular opiniões sem achismos, superficialidades e preconceitos. As opiniões devem ser fundamentadas em evidências e fatos fugindo ao mal digital que assola  a sociedade denominado fake news.

            Pretente-se ainda com a BNCC desenvolver em nossos alunos o autoconhecimento e autocuidado, para que estes possam perceber suas limitações e potencialidades, além de respeitarem as especificidades de cada um.

            Dito isso, a empatia e colaboração se fazem essenciais no relacionamento de forma positiva com o próximo, reforçando também o relacionar com o mundo, o coletivo, buscando sempre uma cidadania crítica e ativa para o envolvimento de questão públicas.

            Observe que estes itens a serem trabalhados na BNCC abrangem todas as séries, obviamente que de forma gradual mas se não houver um planejamento reverso, ficará difícil a sua efetivação.

            Desta forma, fica fácil perceber a importância deste planejamento, fazendo um paralelo com planejamento que era executado antes na educação, pois tudo se baseava a partir da escolha de um livro, já que dele saia uma ementa, com revisão dos temas e seus devidos resumos e elaboração das aulas e de forma concomitante, as suas devidas avaliações. Era um planejamento que tinha o professor como centro e o aluno um sujeito passivo.

            Através do planejamento reverso, procura-se perceber qual o perfil que queremos formar, e temos este perfil já traçado na BNCC, assim sendo, precisa-se pensar na contribuição da disciplina para a formação do aluno e traçar metas de aprendizagem, definindo os conteúdos relevantes para que as metas possam ser alcançáveis.

            As atividades que os estudantes precisam realizar para alcançar os objetivos das aprendizagem estipulados. através de instrumentos avaliativos. Observe que com este planejamento reverso ele está focado no estudante.

            Isso porque eu procuro responder 5 perguntas que estão relacionadas ao planejamento reverso, que é: saber o que o estudante deve ser capaz de fazer e não apenas saber; o que o estudante precisa saber para fazer bem o que foi estabelecido na meta; como o estudante demonstrará a aprendizagem alcançada; qual atividade facilitará a aprendizagem do estudante; como saber se o estudante fez bem o que lhe foi sugerido.

            Tendo todas estas questões respondidas, fica então de certa forma mais fácil a sua implementação e consequentemente a educação de qualidade passará a ser a realidade em nosso país.

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