12/09/2019

Patriota

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

            Em épocas remotas, ensinava-se Educação Moral e Cívica e aprendíamos que ser patriota era honrar a bandeira, os escudos e tudo que representasse nossa nação.

            Os cadernos tinham como contracapa alguns hinos. Eram eles: Hino da Independência do Brasil, Hino à Bandeira Nacional, Hino Nacional dentre outros que servia para alavancar um amor servil a pátria.

            Realmente a pátria é tudo. Nós brasileiros não podemos ser subjugados por outras nações. Temos nossas famílias, nossa dignidade e humanidade, e é aceitável que morramos por nossa pátria, mas como entender este amor?

            Patriotismo difere de alienação e subalternidade. Comecemos pelo Hino à Bandeira Nacional na parte que diz "Sobre a imensa Nação Brasileira, Nos momentos de festa ou de dor, Paira sempre sagrada bandeira, Pavilhão da justiça e do amor!".

            Prestem atenção, pavilhão da justiça e do amor. Então ser patriota, não é apenas respeitar a bandeira e seus símbolos nacionais. É honrar os seus hinos e vivenciá-los.

            O que é Justiça? Mattos (2016)[1] aborda várias visões, perpassando por Platão, Aristóteles e Agostinho. Interessante perceber que todas estas definições a moral está enraizada nelas e o homem só pode chegar à justiça pela vida reta e virtuosa.

            Peguemos como exemplos, alguns escândalos ocorridos com nosso ministro da justiça e o próprio STF. As pessoas que se dizem deuses e/ou acreditam sê-los, tem uma vida reta e virtuosa a ponto de fazer um julgamento correto?

            Observe que o pavilhão da justiça se encontra em ruínas pelo câncer da corrupção, da vaidade e da falta de equidade, pois aos amigos, os favores, e aos demais, os rigores das leis.

            E quanto ao pavilhão do amor? Ser patriota é se sujeitar a viver de Commodity sem que se invista em uma educação de qualidade para que se alavanque o capital intelectual de nossos cidadãos?

            Sabe-se que Commodity não é precificada como bem entender, isto implica em dizer que as vendas na grande maioria, são feitas por valores menores do que poderiam ter.

            O patriota não aceita um Brasil extrativista, genocida, subserviente e escravagista, porque não abre mão do pavilhão do amor que nos tira da condição de verdadeiras bestas.

            O patriota é aquele que mesmo sabendo que nossa política com mais de 197 anos de independência e 130 de república ainda está longe de ter alguém com retidão, caráter e moral para governar o país, e mesmo assim, continua acreditando em uma mudança favorável ao povo. Sempre ao povo e não a uma minoria elitizada que faz o que bem deseja, ceifando sonhos e vidas.

            Acredita-se que a educação é o único viés para que isso aconteça e será através dela que poderemos fazer com que o povo possa realmente se sentir protegido no Pavilhão da Justiça e do Amor.

            Ser patriota está além de amar bandeiras e símbolos. Está em amar o que faz o Brasil ser o que é, é amar o seu povo, independente cultura, gênero, credo, ideologia partidária. Um simples amar incondicionalmente, pois já afirma o Hino da Proclamação da República quando ressalta a igualdade, esclarecendo que

Somos todos iguais! Ao futuro

Saberemos, unidos, levar

Nosso augusto estandarte que, puro

                                      Brilha, ovante, da Pátria no altar!          

            Ser patriota como visto acima, é se preocupar com os 15 milhões de desempregados, como os 1,7 mil trabalhadores análogos a escravidão mesmo sabendo que o governo critica a Emenda Constitucional 81 e que o artigo 149 do código penal é enfático ao esclarecer que os

elementos que caracterizam o trabalho análogo ao de escravo: condições degradantes de trabalho (incompatíveis com a dignidade humana, caracterizada pela violação de direitos fundamentais que coloquem em risco à saúde e a vida do trabalhador), jornada exaustiva (em que o trabalhador é submetido a esforço excessivo ou sobrecarga de trabalho que acarrete a danos â sua saúde ou risco de vida) trabalho forçado (manter a pessoa no serviço através de fraudes, isolamento geográfico, ameaças e violências físicas e psicológicas) e servidão por dívida (fazer o trabalhador contrair ilegalmente um débito e prendê-lo a ele). Os elementos podem vir juntos ou isoladamente.

            O patriota se preocupa com as condições de saúde que se encontra o país, sabendo que o atendimento precário mata mais que a falta de acesso a médicos, uma vez que "no Brasil são 153 mil mortes por ano por causa de atendimento médico de má qualidade" e que "829 brasileiros morrem diariamente em hospitais públicos e privados por falhas que poderiam ser evitadas, segundo o Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, realizado pelo IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar) em parceria com a Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)[2]".

            Não cabe aqui apontar dedos, culpar governos, pois o patriota faz a sua parte, e eu como muitos docentes, sou sim patriota por continuar acreditando neste povo e ter a total certeza que a educação será a única solução para o Brasil se levantar deste berço esplendido e caminhar rumo a ordem e o progresso.

            

 

[1] MATTOS, José Roberto Abreu de. O conceito de justiça no pensamento de Santo Agostinho: algumas reflexões. COLETÂNEA Rio de Janeiro Ano XV Fascículo 29 p. 104-112 Jan./Jun. 2016. <http://www.revistacoletanea.com.br/index.php/coletanea/article/download/73/52>

[2] Veja mais em https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2017/11/22/a-cada-5-minutos-3-brasileiros-morrem-em-hospitais-por-falhas.htm?cmpid=copiaecola

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